quarta-feira, julho 11, 2007

O Estado cobra, a Igreja esbanja

«Ainda na área da educação, a CEP critica a redução dos apoios do Estado à Universidade Católica Portuguesa e os problemas no ensino da Educação Moral e Religiosa nas escolas públicas. "Não há liberdade de educação em Portugal", concluiu o religioso, recordando que todos os partidos prometem permitir a escolha livre das famílias entre escolas públicas e católicas mas nunca cumprem essas promessas depois de serem eleitos.»
Esta é uma das passagens mais curiosas da notícia da Lusa, que merecia toda uma tese de análise, mas para já fico-me por um postito. "Não há liberdade de educação em Portugal", quem lê imagina alunos impedidos de escolherem estudar em escolas católicas. Será isso? O que entenderão por "escolha livre" os bispos de Portugal? Esperem, não me digam que querem que o estado pague as propinas altíssimas que vocês cobram aos vossos alunos, para que estes possam escolher entre escolas públicas e colégios católicos sem se preocuparem com a factura? É isso? Lata não falta aos bispos portugueses, trocam as palavras, os jornalistas noticiam como se com a troca algo fizesse ainda sentido, e siga o forrobodó. O que os bispos querem é que o estado esqueça não só que é laico, mas também que tem todo um sistema de ensino ao seu encargo, e passe a financiar "porque sim" o sistema de ensino concorrente da ICAR.
«"O peso da Igreja na sociedade portuguesa não é o Estado que o define", disse, acrescentando que estas questões serão objectos de análise na próxima Assembleia Plenária dos bispos portugueses que terá lugar em Novembro, a decorrer em Roma.»
Pois não é o estado, não senhor. Mas porque raio havia de ser a igreja? Porque não deixa a igreja que seja a sociedade a definir a sua relevância? Porque é que em vez da igreja querer continuamente substituir o papel do estado em várias áreas (educação, saúde, etc) com o dinheiro do estado, não tenta a substituição com o seu próprio dinheiro? Porque não pode a ICAR, a exemplo de várias outras igrejas por esse mundo fora, cobrar "impostos" (quotas, dízimos, chamem o que quiserem) aos seus membros para assim poder manter os seus serviços alternativos? A sério, porquê?

Oh esperem, não me digam que têm medo? Que imaginam que a sociedade não quereria saber dos vossos fantásticos serviços para nada, que prefeririam os do Estado? Que acham que a fé da maioria dos fiéis não resistiria a uma só mensalidade? E que aqueles que estariam dispostos a paga-los ficariam mais curiosos sobre o modo como gerem os fundos, e iam querer dizer algo sobre isso? Que no final haveria cerca de 5% de portugueses católicos e ainda por cima vigilantes da gestão da ICAR? Infernal imagem não é? Mais vale de facto continuar a trocar as palavras todas, chamar "liberdade" ao dinheiro, e sacar o máximo possível do cofre que é de todos, católicos ou ateus.

3 comentários:

Pedro Morgado disse...

Nada de novo nesta posição da Igreja. A ICAR apenas defende um interesse: o próprio.

Manuel Carvalho disse...

ICAR Portugal, SA
Empresa especializada na colecta de bens indispensáveis aos pobres, que utiliza depois na aquisição das fatiotas de luxo do B16 e dos seus apaniguados; administradora da pobre sucursal de Fátima; ex-proprietária de uma televisão oferecida pelo Estado laico; proprietárias da maior parte das folhas de couve que se publicam nas paróquias; proprietária da maior parte dos colégios destinados às elites com poder de compra; proprietária da maior parte da Rádio portuguesa, etc. etc.

José Carrancudo disse...

O ICAR tem muita razão: não há liberdade de educação em Portugal, pois nem há educação. Devemos reformular urgentemente as bases metódicas do nosso ensino, como já explicamos.