quarta-feira, novembro 14, 2007

5.ª linha da página 161 e outros contos

Ora a cadeia que percorre a blogosfera lá me chegou pelo Pedro Fontela. A ideia é engraçada, mas os resultados nem sempre o serão. Em rigor o livro mais próximo seria um dicionário de bolso alemão-português/português-alemão, que na página 161 apresenta como 5.ª entrada "Orgel", "órgão" (o instrumento musical) em alemão. Descontando dicionários e livros com menos de 161 páginas, tenho então "A ilustre Casa de Ramires" do Eça, que anda para aqui aos tombos desde um post recente. Lê-se então na linha destinada: "E, riscando logo esse descorado e falso começo de capítulo, retomou o lance mais vigorosamente, enchendo todo o castelo de Santa Ireneia duma irada e rija alarma."

Mas aproveitando ter o livro à mão, esta, da pág. 114, parece-me mais oportuna:
«Vocês não compreendem... Vocês não conhecem a organização de Portugal. Perguntem aí ao Gouveia... Portugal é uma fazenda, uma bela fazenda, possuída por uma parceria. Como vocês sabem há parcerias comerciais e parcerias rurais. Esta de Lisboa é uma parceria política, que governa a herdade chamada Portugal... Nós os Portugueses pertencemos todos a duas classes: uns cinco a seis milhões que trabalham na fazenda, ou vivem nela a olhar, como o Barrolo, e que pagam; e uns trinta sujeitos em cima, em Lisboa, que formam a parceria, que recebem e que governam. Ora eu, por gosto, por necessidade, por hábito de família, desejo mandar na fazenda. Mas, para entrar na parceria política, o cidadão português precisa uma habilitação - ser deputado. Exactamente como, quando pretende entrar na Magistratura, necessita uma habilitação - ser bacharel. Por isso procuro começar como Deputado para acabar como parceiro e governar... Não é verdade, João Gouveia?»
Ora isto vem mesmo a propósito disto:
«A leitura da imprensa de ontem deixou-me mergulhado naquilo que, em literatura de aeroporto, se chama de "confusão de sentimentos". A notícia de que o Ministério da Justiça tinha comprado cinco limusinas de luxo, uma para o ministro, duas para os secretários de Estado, outra para o presidente do Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça (mais que justificadamente, pois este só já tinha uns velhíssimos Audi A6 e Peugeot 404 de 2003) e mais uma para a secretaria-geral, começou por inquietar-me. Tanto mais que outra notícia me dava conta de que o OE gastará, em 2008, 3,4 milhões de euros (mais 15,4% do que este ano) com viagens de deputados. Mas que podia eu fazer? Preocupo-me em ter os impostos em dia pois alguém tem que pagar o défice (incluindo os 280 000 mil euros de vencimento do dr. Vítor Constâncio, quase o dobro do que recebia Alan Greenspan na Reserva Federal americana) e já não tenho, como a generalidade dos portugueses, mais buracos no cinto que apertar. Mas depois percebi que eram boas notícias e que, como disse o primeiro-ministro, estamos todos de parabéns pois o défice já só vai em 3%. Os funcionários públicos vão ver que os 2,1% de aumento são lapso do Ministério das Finanças. Na verdade, o aumento será de 21%.»
Do séc. XIX para cá, se alguma coisa mudou, foi a parte do "governar". Alguém me sabe dizer ao certo para que serve o Banco de Portugal na era do Banco Central Europeu? Agradeço encarecidamente. Da Assembleia da República e Justiça já estou bem informado.

2 comentários:

José Pires F. disse...

Ultimamente e que me lembre, para ajudar o Sócrates a justificar o aumento dos impostos, o que já não é pouco, para quem só ganha os tais 280.000.

Nan disse...

A Ilustre Casa de Ramires, o meu Eça preferido! Boss, I love you! E devíamos todos ir a correr ler a Ilustre Casa de Ramires, não só porque é uma delícia, mas para percebermos melhor oque nos está a acontecer...