terça-feira, novembro 07, 2006

A comunicação social e o aborto: 3 perguntas pertinentes

1) Não é só a Renascença, também a RTP gosta de ilustrar as apresentações das suas peças sobre o referendo à despenalização da IVG com imagens de fetos com mais de 10 semanas. Porquê? Mas o referendo não é sobre uma questão penal? Não é sobre se se punem ou não as mulheres que abortam até às 10 semanas? Cadê o martelinho de juiz ou as grades da cadeia que se vêem em qualquer outra apresentação de notícias sobre temas penais!?

2) Porque razão quase não se ouviu falar da reforma penal nicaraguana? Numa altura em que se discute a alteração da lei portuguesa parece-me elementar destacar-se isto. Será que o silêncio se vai manter face à Polónia? É que não deixa de ser engraçado que se passe a vida a ouvir falar "nos perigos da liberalização", quando a lei socialista continuará a ser das mais restritivas do continente europeu e quando os sinais de alterações mais recentes a nível global são extremamente preocupantes, e seguem o sentido apontado pelo Vaticano: criminalização até quando o aborto é justificado pela existência de risco de vida para a mulher.

3) Porque ninguém pergunta à Miss Vodka Laranja sobre a legitimidade de suspender os julgamentos a mulheres que abortam no caso do Não ganhar? É que a senhora anda por aí feita tresloucada a gritar aos quatro ventos que se podem travar os julgamentos mesmo que o Não vença, e eu não estou a ver como fazer isso sem desrespeitar por completo esse hipotético resultado. Ou a senhora é mesmo burra e acredita no que diz, apesar de ser óbvio que toda a restante frente criminalizadora vê com bons olhos uma alteração à la Nicarágua. Ou então a senhora mente intencionalmente, visando confundir o eleitorado, e naturalmente que deve ser confrontada com as suas incoerências.

1 comentário:

Hugo disse...

Eu honestamente não me sinto de todo elucidado sobre o que realmente está por detrás deste referendo.

É só uma questão de despenalizar as mulheres? Eu por mim despenaliza-se qualquer mulher que fizer um aborto seja em que idade for. Claramente a partir de certa altura a senhora precisa de apoio psiquiátrico e não de um tribunal e de uma prisão.

Mas este referendo suscita sem dúvida alguns receios e questões em mim.

1. Esta discussão nada tem a ver com violações, menores de idade, malformações do feto ou risco de vida da mãe. Essa legislação já existe e vai além das 8 semanas e essas situações são acompanhadas em serviço próprio. Logo apenas se aplica a quem tem relações sexuais por vontade própria e que não usa contracepção por decisão sua. É preciso dizer-se que no nosso país as consultas de planeamento familiar e a contracepção são feitos de forma gratuita. Não recorre a eles quem não quer. O não saber pode ser argumento mas isso já iria de encontro à educação sexual e seria fugir ao assunto.

2. A mulher que aborta, legalmente não é punida. Ok... enchemos menos os tribunais... e as senhoras quando os abortos correm mal podem ir descansadas para o hospital que não vão presas... Percebi bem? É apenas esta a questão? É porque quanto mais tardio o aborto maior o risco para a mulher. Se for depois das 8 semanas continua a esvair-se em sangue em casa para não ir presa?

3. A IVG passa a ser despenalizada. Quer isso dizer que será legal haver em Portugal clínicas para resolver gestações como há em espanha e aparecem anunciadas nos nossos jornais? Ou os abortos vão ser na mesma feitos em casa de desconhecidos correndo as senhoras exactamente os mesmos riscos?

Honestamente... a questão do referendo é tão simples que acho que não faz pergunta nenhuma. E eu continuo com dúvidas e sem respostas.

Eu concordo com uma revisão do código penal. Não com uma alteração ao serviço nacional de saúde.

Meninas que preferem fazer abortos a tomar pílula, infelizmente, existem várias. Não apoio esta forma de pôr em risco a vida da mulher. Se não perceberem como é posta em risco pesquisem um pouco na net. Tanto sites a favor do sim como do não têm informação relevante e a ter em conta.