terça-feira, abril 08, 2008

Uma piada de mau gosto chamada APEL

Retirado do jornal Meia Hora
«Para evitar o que consideram que virá a ser "uma catástrofe" para o país, a associação ainda presidida por António Baptista Lopes apela a uma rápida intervenção do poder político português, no sentido de protelar 'sine die' o protocolo.»
O protocolo "catastrófico" de que António Baptista Lopes fala ao JN é o tal acordo ortográfico que revela (as tais "duas grafias" são reconhecidas pelo acordo, logo ambas estão de acordo com o acordo em pé de igualdade, tipo duuuuh) e admite desconhecer ao Meia Hora. Parece que também acha que aquilo que diz é suposto levar-se a sério. Ora se isto é a representação do meio editorial português, percebe-se melhor a urgência de sermos salvos pelos editores brasileiros da iliteracia crónica e profunda em que vivemos.

A mesma APEL anuncia no seu site (que por alergia a casos extremos de palermice não linko) um "estudo" que mostra que traduções feitas por pessoas diferentes originam textos... *suspense* ...diferentes!!! Sim, o nível é este. E a continuar assim qualquer dia eu próprio estarei contra o acordo, cada vez me parece mais razoável, simples e inteligente adotar a ortografia brasileira e pronto. É o que faço neste post, simultaneamente de acordo com o acordo e pipocado de anglicismos vários, c'est la vie!

PS:
Outra piada da APEL e do sr. Baptista Lopes, «Não haja quaisquer dúvidas de que as instituições internacionais, a partir do momento em que Portugal ceder às intenções do Brasil, não hesitarão em ter como referência o Português daquele país». Eu não sei em que mundo vive este senhor, mas dou um exemplo simples, uma notícia da versão lusófona do site da Sociedade Suíça de Radiodifusão e Televisão. A notícia fala sobre os problemas de integração, nomeadamente lingüística, da comunidade portuguesa na sociedade helvética, a terceira mais numerosa. Naturalmente, apesar do reduzidíssimo número de brasileiros a residir nos Alpes, a notícia está escrita em "português do Brasil", do vocabulário à ortografia. Em que mundo vive o sr. Lopes? Absoluto mistério para mim.

11 comentários:

dr maybe disse...

bem e já agora deixo o link do artigo do Malaca Casteleiro sobre a questão do acordo. note-se sobretudo a visão abrangente e pragmática em oposição à visão legalista e conservadora do insuportável Vasco Graça Moura.
http://dn.sapo.pt/2008/03/15/opiniao/um_novo_acordo_ortografico.html

Prosciutto Mourente disse...

Desconheço ainda como ficará a cousa aqui na Galiza... Na a(c)tualidade já temos duas grafias. Vamos ter uma terceira? Passaremos os reintegracionistas a ado(p)tar o acordo tal e como foi aprovado em Portugal? Seja como for, a notícia foi seguida em detalhe pola imprensa galega.

Mazinha disse...

eu não consigo escrever húmido sem H, sério, nem é má vontade, é mesmo incapacidade!

não sou grande adepta deste acordo e rejeito a teoria de que até aqui reinou a balda, a confusão e a (quase) incapacidade de comunicação... balelas, sempre li autores brasileiros e tenho vários amigos desse país, as diferenças sempre foram mais motivo de interesse que dificuldade propriamente dita.

já agora: sabes o que é um "frango de tv de cachorro"? (esta sim, deixou-me a olhar para o mail com cara de parva :))

enGine throbs disse...

Os ingleses e os americanos têm formas diferentes de se expressar mas nunca ouvi de quererem um Acordo único...

Are we the only ones to have this strange behavio(u)r?
I say tomatoes and you say tomatos...
Well... as the Portuguese say... maybe it's too much sand for my lorry... or truck? ;)

bossito disse...

Comparar as diferenças entre o inglês americano e o britânico é um pouco como comparar as diferenças entre o português portuense e o lisboeta.

Sim, existe dupla grafia para meia dúzia de palavras no inglês, mas não existem, de todo, duas normas ortográficas. That's the point.

Com o acordo continuará a ver mais palavras com dupla grafia no português do que no inglês. (Facto/fato, anónimo/anônimo, p.ex., e algumas serão novas duplas: receção/recepção.)Situações não comparáveis.

enGine throbs disse...

OK, mas eu não sabia que os Portuenses escreviam de forma diferente dos Lisboetas...

Têm um sotaque diferente e têm expressões diferentes, mas escrevem da mesma forma, certo?

Posso estar errado, mas se os Portugueses utilizassem a Língua Portuguesa correctamente não estaríamos nesta posição de fragilidade...

Eu vou continuar a escrever como me ensinaram e a aprender alguns erros, de tanto ler mau Português, actualmente e no futuro...

E com um pouco de tempo, dedico-me ao Esperanto.... ;)

bossito disse...

Sim, é claro que os portugueses (ou uma minoria entre eles, para ser mais realista) escrevem da mesma forma, apesar de pronunciarem as mesmas palavras de maneira mui diversa... o que apenas demonstra que é possível escrever as coisas da mesma forma e pronuncia-las de maneira diferente.

Mas o Porto só não tem uma grafia diferente da de Lisboa, porque o ensino universitário só chegou ao Porto no séc. 18. Tivesse chegado antes e por certo haveria uma norma ortográfica própria, assim tivemo-nos que sujeitar à de Lisboa, e também ninguém morreu por isso. Tal como não morreria por adotarmos a do Rio de Janeiro ;)


Em países como a Alemanha e Itália, onde várias cidades tinham as suas próprias universidades e consequentemente as suas normas ortográficas, a unificação ortográfica é coisa recente.. mas de utilidade à prova de bala.

enGine throbs disse...

..."adotarmos a do Rio de Janeiro ;)" (lá se foi o p)

Muito sinceramente seria bom que tivéssemos uma escrita que reflectisse aquilo que dizemos mas que tivesse lógica ou seja que houvesse mais regras comuns e menos excepções... sem esquecer a origem e evolução das palavras.
Eu sei que não é tarefa fácil, daí não ser um acérrimo defensor de nenhum dos lados.

A palavra 'adoptarmos' é um exemplo: o 'p' serve para indicar que o acento está na sílaba anterior 'do'...
Ao retirarmos como se faz no Brasil, não deveríamos ler como 'adutármos'? E se calhar, os estrangeiros vão ler 'adútarmos'...

Isto deveria ser entregue a pessoas da programação informática: regras bem definidas e poucas excepções.

bossito disse...

"actriz" ler-se-ia "á-triz", mas em Portugal impera o "a-triz". "Actual" ler-se-ia "á-tual", mas impera por cá o "a-tual" tal como a "a-tualidade". "óptimo" tem "p" mas leva acento na mesma, para que ninguém diga "u-timo". E por aí fora.. ;)

enGine throbs disse...

E aquele grande exemplo da locutora no Festival da Canção:

"chamo agora a cidade de A-Veiro" ;)

Mas é isso que eu digo: mais regras uniformizadoras e menos excepções...
só que isso implicaria muito cortar com a origem das palavras...

PS: lembrei-me agora doutro exemplo... bêbedo... agora já se permite escrever "bêbado"

enGine throbs disse...

Encontrei por acaso:

http://www.youtube.com/watch?v=9IzDbNFDdP4