sexta-feira, novembro 30, 2007

O acordo e o mercado africano

Vale a pena ler o dossiê de ontem do Público sobre o acordo ortográfico. Para os editores portugueses o que está em causa é sobretudo África, onde são reis e senhores sem esforço (exceptuando uns problemitas). Com o acordo a coisa deixa de ser assim fácil, e pior, até por cá haverá concorrência. Resumindo, uns estão preocupados com a manutenção dos seus negócios fáceis, recusando ver que oportunidades não faltam com o acordo, e outros estão preocupados com o futuro da língua. Estou naturalmente entre os segundos. E por isso espero sinceramente que atrás do Brasil siga Angola e Moçambique, para termos o prazer de ver os editores portugueses a gritar nas ruas pela aplicação do acordo.

Entretanto, falando de livros, Angola e de editores portugueses:

«A publicação de "Purga em Angola", polémico ensaio sobre o sangrento contragolpe de 27 de Maio de 1977 no seio do MPLA, tem valido aos seus autores, o casal de investigadores Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, uma série de "ameaças e tentativas de intimidação", confirmadas, ao JN, pelos próprios. Além disso, é quase impossível encontrar o livro à venda.

(...) A docente universitária garante também que "uma semana antes do lançamento, quando os autores ainda não tinham visto o livro, já na Embaixada de Angola alguém se gabava de o ter e de o ir mandar para Angola".

As suspeitas adensaram-se a partir do momento em que a tiragem rapidamente esgotou e, apesar das sucessivas promessas nesse sentido, o stock não foi reposto. "Há praticamente um mês que não existem livros à venda", acusa Dalila Cabrita Mateus, para quem "não admira que, com esta embrulhada, apareçam pessoas a dizer que boa parte da edição foi vendida a Angola para ser queimada. Ou, então, a afirmar que Angola comprou a distribuidora e esta retirou os livros do mercado".

Carlos Araújo, editor da ASA responsável pelo livro, desmente eventuais pressões sofridas e atribui à situação interna da empresa, adquirida há cerca de dois meses pelo grupo de Miguel Paes do Amaral, as dificuldades no lançamento de uma nova edição. (...)
»
Passaria o mesmo se a editora fosse brasileira?

Anita + atrevida by Eduardo


Do Agrafo, obrigado!

Anita + atrevida by Max

Do Devaneios Desintéricos. Que ainda descobriu estas:

"Anita descobre a Playboy"
"Anita, merda, a minha pílula!"

Se fosse "phoda-se" eu trocava de número


Phone-ix (diz-se fónix), a nova rede de telemóveis dos CTT.

quarta-feira, novembro 28, 2007

Anita + atrevida by MVA


A saga da Anita + atrevida continua, desta feita pela mão do Miguel, obrigado! Continuem a blasfanitizar para renaseveados(a)gmail.com.

terça-feira, novembro 27, 2007

Entretanto em Alcácer-Quibir, um sinal de D. Sebastião

«Una supuesta boda homosexual en Alcazarquivir, (norte de Marruecos), inmortalizada en un vídeo realizado con un móvil que desde hace días se puede ver en Internet, ha soliviantado a los islamistas y provocado la detención de seis personas, informó ayer la agencia oficial de noticias marroquí MAP.

Uno de estos detenidos, Fuad Afrirt, que según la prensa local es uno de los contrayentes, acudió el jueves a la policía para pedir protección.

El resultado fue que los agentes le detuvieron, aunque se desconocen los cargos de los que se le acusa. No se ha divulgado tampoco la identidad de los otros detenidos, de las que MAP precisó que pasarán a disposición judicial.

La práctica de la homosexualidad es delito en Marruecos y se castiga con penas que van de los seis meses a los tres años de cárcel.

En el vídeo se veía una fiesta, al parecer celebrada el 18 y el 19 de noviembre, en la que participaban hombres-algunos vestidos con ropas femeninas- y varias mujeres.

Manifestaciones contra los homosexuales

El pasado fin de semana, varios grupos islamistas radicales, mayoritarios en Alcazarquivir, convocaron manifestaciones de protesta contra los homosexuales. Pidieron también el castigo de quienes participaron en la celebración.

Además de provocar numerosos comentarios en la prensa nacional y local, este asunto ha llegado incluso al Parlamento del país.

El presidente del grupo de la formación islamista Partido de la Justicia y del Desarrollo (PJD) en la Cámara de Representantes, Mustafá Ramid, llegó a calificar la unión entre dos hombres de "otra forma de acto terrorista, en el país del príncipe de los creyentes" (éste es el título religioso del rey Mohamed VI).»

Mas Marrocos fica onde mesmo? No fim do mundo por certo, vá, voltemos à Venezuela e ao Zimbábue, tão mais próximos.

Diz que é uma espécie de agência noticiosa

O Brasil entrou pela primeira vez no grupo dos países com alto desenvolvimento do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU. Veja-se como noticiou tal facto a Agence France-Presse: «Brasil aparece em último lugar entre países com maior desenvolvimento humano». A legenda da foto do presidente brasileiro é menos trágica: «Brasil de Lula pode melhorar». C'est comme ça.

Era a versão portuguesa deste partido sff

segunda-feira, novembro 26, 2007

Anita + atrevida by dr. maybe


Estas duas magníficas respostas do desafio aqui lançado são da autoria do dr. maybe (a primeira estreada aqui). De repente fiquei com uma dúvida, sendo a Anita original um símbolo burguês e conservador q.b., estas novas versões serão então politicamente correctas, certo? Será que devia mudar o nome da série de posts?

Patrulhamentos de bits e bombardeios de papel

«Essa patrulha ideológica, vigiando cada distracção, cada frase mal pronunciada, cada piada ou anedota, cada opinião, cada divergência, cada afrontamento, cada violação das regras linguísticas do "politicamente correcto", é que me parece contraproducente.»
Pois, a mim também parece contraproducente. Aliás, a minha discordância em relação à reacção das Panteras Rosa (que não foi a reacção de todo o movimento, e muito menos de todos os gays e lésbicas) estava sobretudo no tom, estilo e importância dada ao caso. Porque eu não coloco em causa que a assimetria existe. O que sei é que essa assimetria deve ser denunciada com mil paninhos quentes e só com casos "óbvios", sendo que muitas vezes nem o sangue "basta" para o serem.

É que à mínima crítica mais exacerbada logo chovem colunas de jornal sobre "patrulhamentos ideológicos" e "faltas de liberdade" - é por isso que são contraproducentes. Não por acaso, a crónica do Francisco José Viegas foi, salvo erro, a primeira impressa sobre o tema. É que o malfadado lobby só tem os blogs ao dispôr do "patrulhamento". Um bocadinho pífio e inofensivo, não? É escusado tanto berreiro hetero, mais valia o orgulho!

PS: Afinal o DN de hoje também traz outra coluna sobre o tema, mas demasiado palerma para ser linkada, embora não para ser impressa no jornal. Contraproducente, sem dúvida.

Anita + atrevida

Já há uns tempos que reparei nesta deliciosa publicidade à loja de souvenirs do site Rue89. Mas só agora descobri a sua origem. Como já deduziram, "Martine" é o nome francês (e o original) da célebre Anita, heroína de uma série de livros iniciada nos anos 50, que conta as primeiras experiências de vida de uma burguesa acomodada ao mundo machista em que vive.

Ora em Outubro fez furor na internet francófona o Martine Cover Generator, que como o nome indica, era um gerador de capas alternativas dos livros da Martine. O anúncio do Rue89 é um dos resultados, mas há outros ainda mais giros, como "Martine escapa ao seu teste de ADN" ou críticas ao encerramento do site. Pois é, por pressões dos editores, o site, apesar do imenso sucesso, durou pouco. É pena, nem o pude testar. Mas se alguém quiser e souber fazer uma versão portuguesa, não duvido que alcançará igual sucesso. Com o google e o meu programinha de desenho o melhor que consegui foi isto:

"Anita suicida-se" também era giro. Mas não será difícil fazerem melhor que isto, é o desafio que vos lanço, os leitores sem blog podem enviar as suas Anitas + atrevidas para o correio do renas (renaseveados[a]gmail.com). Vamos lá fazer com que a Ana pareça uma menina do coro.

sábado, novembro 24, 2007

Atenção às bocas emissoras do sistema


A alegria do Parlamento português tragicamente interrompida por uma flagelação pelo frio. Vídeo do Zero de Conduta. Para quem ainda acreditava que estar com Alegre não era estar com uma boca emissora do sistema, acho que este vídeo acaba de vez com a crença...

Respostas que interessam


Na altura da coisa estava sem tempo e pachorra para comentar o caso. Mas são precisamente estes casos que merecem respostas exaustivas... Ou então bem humoradas, como esta do Bruno Nogueira, via Fuckitall.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Cortina de fumo: o iberismo é que está a dar

Pelo menos entre os laureados com o Nobel da literatura que tenham casa de férias em Portugal. Anda pelos 100% o apoio à causa nessa camada da população... Curiosamente a oposição à reunificação alemã também terá tido mais ou menos esse valor percentual no segmento referido.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Feminista ou tonta?

Tonta claro. As campanhas da Tagus primam por serem tontas, e mais nada... não vale a pena reflectir muito sobre o que nunca foi reflectido antes.

Uma campanha alegre

Acho que era dos poucos bloggers tugas que ainda não tinha usado o título do Eça, ei-lo, e a propósito, ainda, da campanha da Tagus - nome que, pelo menos entre os activistas gays, de sofá ou não, já ganhou enorme notoriedade nos últimos dias.
"Queremos colocar a marca no radar do consumidor". Com estas palavras, Sérgio Henrique Santos, director de planeamento estratégico da Lowe, justifica o título do manifesto «Assuma a sua heterosexualidade sem vergonha», criado pela agência para a Tagus.

A campanha contará, numa primeira fase, com mupis de divulgação e propõe criar a "primeira comunidade virtual portuguesa para todos homens e mulheres". De acordo com Sérgio Santos, o "Orgulho Hetero", nome desta acção, vem "criar um território de verdades, com uma mensagem mais irreverente", diz, Mesmo assim, descarta totalmente a possibilidade de gerar-se polémica, até porque, como sublinha, "só queremos criar buzz". E explica: "A barreira de qualquer marca é a indiferença e, como estamos a falar de uma que tem um budget baixo em relação a outras marcas de cerveja, temos de criar notoriedade em torno dela". Além de que, prossegue, trata-se tão só de "uma brincadeira, pois não estamos a formular qualquer juízo de valor".

A partir do site, que estará online esta sexta-feira, os internautas terão a oportunidade de fazer amizades, ao mesmo tempo que entram em contacto com a Tagus. A ideia é que a "marca fale com as pessoas e não para as pessoas", pois, "com uma campanha moderna e clean", queremos provar que existem mais do que duas marcas cervejas em Portugal", conclui.

Esta notícia diz tudo, ou quase. Baixo orçamento, mercado dominado pelas super-poderosas Sagres e Super Bock, procure-se então um pouco de "buzz", mas nada de polémicas, que isso é coisa mais pesada, pode correr pior. Ora nada melhor que uma indirecta à gayzada para gerar o tal buzz. E o "buzz" já ferve pela internet. A Tagus agradece.

Qual é o problema? À partida nada de grave, é só um buzz, passa depressa, como o vento. Mas o movimento gay perde assim uma fantástica oportunidade para estar magnanimamente calado, colhendo os frutos mais tarde. Eu explico, e na verdade é tudo muito simples. Aliás, é tudo muitíssimo complicado, mas na era dos buzz e dos soundbites, é forçosamente simplificado.

Sim, quem já trabalhou e participou no Orgulho Gay e nas suas reivindicações tem motivos para se sentir ofendido com esta campanha. Todo o trabalho, suor, privações e provações para o construir são subitamente caricaturados para vender cerveja. Quem perdeu já horas de vida a explicar que o Orgulho Gay não é o "Orgulho em se ser gay", mas o orgulho em ser capaz de dar cara, de vencer os obstáculos, de lutar contra a homofobia, que o Orgulho Gay pode ser o orgulho de qualquer hetero que se junte à luta, fica necessariamente furibundo ao ver surgir uma "causa hetero" promovida pela cerveja, que se resume a um site de engates hetero, igual a milhões de outros sites, embora este claramente mais sujeito a ser dominado por rapazes virgens.

É claro que gritar "sou hetero" numa sociedade onde a heterossexualidade é a hegemonia, é chover no molhado. É que "somos todos hetero" até prova em contrário. A Sagres e a Super Bock nunca usaram a palavra "hetero" na sua publicidade porque não precisaram, porque está lá, sem ser preciso estar. Tal como os reality shows de engate, cenas de um casamento, etc, nunca a usaram. Toda a gente pressupõem que seja para heteros, sendo que muita dessa gente desconhece ainda a palavra.

O "hetero" só passa a fazer sentido a partir do momento em que o "gay" começa a fazer-se notar. Nesse sentido este "Orgulho Hetero" é até um sinal positivo, mostra que há uma brecha na hegemonia. Que o gay já se faz notar ao ponto de haver marcas de cerveja que acham que pôr um bando de rapazes a mandar piropos à empregada do bar já não chega para marcarem a sua heterossexualidade.

É tudo tremendamente vazio de conteúdo, e nada explicitamente homofóbico. Exacto, esta campanha não é explicitamente homofóbica. É sobretudo tonta, e claro, só possível num contexto de muita homofobia ainda enraizada, mas não vincula as mensagens que aqui se quer crer que passam. É por isso que me oponho frontalmente contra essa simplificação e presunção. Porque dessa simplificação facilmente nasce outra, "se o orgulho hetero é homofóbico, então o orgulho gay é heterofóbico". E a maioria das pessoas nunca gastará mais segundos de reflexão sobre o tema que isto.

É óbvio que não existe uma simetria entre uma coisa e outra, entre ser gay e hetero, entre ser discriminado por se ser gay e uma hipotética discriminação por se ser hetero. É por isso que faz sentido um Orgulho Gay e não um Orgulho Hetero. Mas é, ou não, essa simetria o nosso objectivo final? A plena igualdade, o dia em que o Orgulho Gay seja tão desnecessário e tonto quanto este? Ora se esse é o objectivo, não vale a pena criar guerras com uma campanha assente numa falsa simetria, mas falsa apenas porque ainda não real, embora há muito sonhada.

Aquilo que o movimento gay pode e deve exigir à Tagus, é que esta mostre que o seu Orgulho Hetero é tão aberto e inclusivo quanto o nosso Orgulho Gay. Ou seja, a Tagus devia ser convidada a patrocinar e a comparecer nas próximas marchas do Orgulho LGBTA (A de aliados) com o seu carro do Orgulho Hetero. Só depois de recebida a resposta a esse convite, se poderiam tirar, ou não, outras conclusões. Até lá, é tudo na base da precipitação, i.e., do precipício.

Nunca nos esqueçamos. Só as vítimas não gostam de estar no seu papel, mas nunca foi preciso ser vítima para alguém se sentir vitimizado. O Pacheco Pereira chora-se pela "tentativa de silenciamento do seu blog" e chorará sempre, por mais vezes que seja linkado e citado nos jornais. Não ofereçamos à Tagus numa bandeja de prata o papel de "vítima da heterofobia", please. Há coisas tão mais importantes com que nos ocuparmos. Façamos o humor e não a guerra. É uma campanha para heteros, não é? Pois que sejam os heteros a preocupar-se com ela... e a aguentarem goela abaixo o inenarrável sabor de uma Tagus.

PS: Já a Super Bock e a Sagres supostamente são para todos mas só mostram "gajas boas" nas suas publicidades, isso sim é invisibilidade e indiferença.

O feriado que falta

Adivinhem quem faz anos no próximo domingo? Acertaram, o bom do Eça fará 162. Devia ser feriado, mas não é, já se gastou o 25 do mês seguinte com um excelente carpinteiro, não duvido, embora da Palestina! Coisas da globalização... Seja como for, aqui no renas, devotos só do Eça. Vai daí, são-lhe dedicados os próximos dias, com votações (ver ao lado), citações e outras bloguices que ocorram. Que a mordacidade e espírito crítico queirosianos estejam sempre convosco.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Sobre a Venezuela: uma só voz e meias palavras em Portugal

Excelente post do Daniel Oliveira. As poucas notícias que nos chegam da Venezuela (exceptuando os casos de emigrantes portugueses raptados) não passam nunca de caricaturas da realidade, descontextualizadas e contendo muitas vezes erros grosseiros e até mentiras flagrantes. "Regime de Chávez" diz a locutora da SIC, como dizem todas as outras - a peça da RTP consegue ser até um bocadinho mais maniqueísta. E viva o pluralismo democrático e a diversidade opinativa! O rigor da informação e o sentido crítico!

PS: Também é giro o beija-mão do Portas ao ditador tunisino. Mas Tunísia, que é isso? No fim do mundo, mais longe que Barcelona e o camandro... sem interesse jornalístico possível, claro.

OrgulhoHetero.com em inglês

«The building block of Western civilization has been the Nuclear Family. StraightPride.com staffers, like billions of others living out our 'lifestyle,' believe that family, morals, and pro-creation are the backbone of our well-being.

We are not homophobic.
We do not hate gays.

StraightPride.com IS against gay marriage and civil unions. Why? That is an easy question to answer- the well being of CHILDREN. It is an undisputable fact that the best home for children is an intact, two-parent, married mom (female) and dad (male).

Sexes are not interchangeable. Boys cannot learn how to become healthy men from even the most loving mother (or pair of mothers) alone. And girls cannot learn how to become healthy women from even the most loving father (or pair of fathers) alone. Weakening the family and undermining the values that support it will ultimately destroy our society and dramatically impact religious civil liberties.

Weakening the family harms individuals, and especially children. We should always want and ask for the best for our children - we should never settle. By legalizing same-sex marriages, and/or allowing civil unions, we are saying that these 'same-sex marriages/unions' are the same as man and woman marriages, that they're equal. Well, they're not. It can not be argued that a child brought into a same-sex 'union' will have the same benefit as motherhood and fatherhood. StraightPride.com believes that it is wrong to re-define a marriage and a sacred 5,000-year old institution. Please visit our 'Save America' section - and decide for yourself how best to put a stop to gay marriages and civil unions.

This is Straight Pride dot com»
Ainda bem que nos calhou antes a cervejita das tunas... mesmo.

Os patrocinadores da Presidência da União Europeia

Que giro, não fazia ideia que uma presidência da União Europeia tivesse patrocinadores. A portuguesa, pelo menos, tem: Microsoft, a ex(?)-anti-paneleira Galp ou o grupo Sumol (o do "Orgulho Hetero"), etc... Qual será a contrapartida do patrocínio? Mistério... Já o patrocínio dos eleitores diz-lhes cada menos... Mas a União Europeia é o exemplo de democracia pró mundo, claro, isso não está em causa, era o que faltava que estivesse!

Os heteros não bebem cerveja, bebem cevada!?

Curiosa a nova campanha publicitária da cerveja Tagus (ver em www.orgulhohetero.com). Tratando-se de uma cerveja foleira e marginal, faz-se assim de uma assentada ao mercado maioritário, dando-se ao luxo de repelir logo à partida os restantes consumidores - no que à orientação sexual diz respeito. Ou talvez não.

A campanha goza e mimetiza o Orgulho Gay e as reivindicações associadas, mas em vez de lutar por direitos civis, visa vender cevada acervejada. É um pau de dois bicos. Se o menosprezo pelos que lutam por uma sociedade igualitária no que concerne às sexuais orientações é evidente e intencional. Também não deixa de, indirectamente, aligeirar e popularizar os termos. Algo benéfico já que a expressão "orgulho gay" sempre soou muito pesada e controversa aos ouvidos do "cidadão comum", incluindo o "cidadão gay comum". E o termo "heterossexual" ainda cria confusão em muitos ouvidos, nomeadamente de heteros.

Espero curioso pelos resultados nas vendas. Não duvido que muitos gays estarão na linha da frente da bebericagem do heterossexual produto. Será uma forma de descarregarem muita homofobia interiorizada acumulada. Por outro lado, também os homofóbicos conscientes aderirão entusiasmados. A minha dúvida está mesmo em relação à atitude do "cidadão heterossexual comum". Desconfio que uma cervejita alternativa que se promove com "orgulhos heteros" lhes soe tremendamente gay.

Mas sobretudo espero que o movimento gay nacional saiba dar a devida importância às coisas, e não sirva de combustível para impulsionar as vendas de tão medíocre produto. É precisamente com isso que estarão a contar os marketeiros da Tagus, que por certo tomam como real a caricatura que fazem do movimento. Não lhes dêem esse gostinho, please.

A democracia espanhola

Parece que o que está a dar agora pelo mundo da bloga tuga é discutir a democracia venezuelana. Tudo bem, é capaz de ser giro, mas eu confesso-me demasiado distante e desinformado dessa realidade. Vai daí, apetece-me antes discutir a democracia aqui do lado.

Relembremos alguns factos históricos. O chefe de estado espanhol é-o desde 1975, sem nunca ter ido a eleições, e foi indicado por Franco, o ditador sanguinário que o precedeu. Antes que alguém venha comentar do referendo, relembro que isso aconteceu depois, já o Juanito era rei, e o referendo não foi sobre a monarquia, mas sobre a constituição, que entre outras coisas, aceitava a monarquia já reinstalada. Bom, isto é história, falemos de factos mais recentes.

A revista "El Jueves" foi retirada dos quiosques espanhóis por ordem da justiça, que considerava a capa criminosa. Além da censura imediata à revista, recentemente a mesma foi condenada ao pagamento de multas. A razão de tudo isto foi um cartoon sobre a única obrigação do príncipe herdeiro (gerar mais herdeiros) que ilustrava a dita.

Falando nos príncipes, no ano passado, dois republicanos foram agredidos pela polícia e passaram a noite na cadeia por, na presença das altezas, terem gritado "Viva a República!" e agitado bandeiras republicanas.

Entretanto no País Basco mil e uma confusões. Partidos proibidos, dirigentes desses mesmos partidos presos (sem que tenha sido provado qualquer acto de violência cometido pelos mesmos), até uma vila que com meros 27 votos é entregue ao PP - já que a oposição foi impedida participar na eleição. Mais recentemente o líder do governo autonómico propôs um referendo sobre a independência do basco país, proposta prontamente rejeitada pelos partidos dominantes em Espanha - "é ilegal", justificaram, e mais ameaçaram com perdas de autonomia.

Entretanto sai a condenação de 2 jovens de Barcelona que queimaram uma foto do rei, 2730 euros cada um e um cadastro manchado. Durante o julgamento os dois jovens falaram em catalão, língua que o juiz rejeitou de imediato: "un ciudadano español de 30 años conoce y entiende perfectamente el español con lo que no a lugar a un traductor". Assim as suas declarações não foram registadas, nem tidas em conta no julgamento. Já esta noite mais cerca de 60 pessoas queimaram fotos do rei na cidade durante mais uma "manifestação ilegal".

Bom e que nos diz isto tudo? Que a democracia espanhola, como todas as outras, está longe de ser perfeita. Tem mesmo leis profundamente anti-democráticas. E objectivamente existem presos e condenados políticos em Espanha. Mas, mesmo assim, e sobretudo tendo em conta a situação da maioria dos regimes em vigor no planeta, é uma democracia. Mas não é impossível argumentar o contrário. Ser republicano ou independentista catalão, basco ou galego, p. ex., exige uma enorme paciência e auto-contenção face a todos os obstáculos legais à promoção desses mesmos ideais políticos.

Pronto, já desenjoei de todo o paternalismo colonialista pseudo-democrático que se lê por aí nestes dias... sem que se tenha metade do zelo com regimes que nos estão muito mais próximos. A última vez que vi tanta gente preocupada com a democracia de uma república longínqua, deu no que deu...

À atenção dos juízes portugueses




Já antes mostrei aqui esta campanha brasileira, mas o que é excelente vale sempre a pena rever. E que falta faz em Portugal uma campanha assim!

terça-feira, novembro 20, 2007

Os juízes da sida

Que dizer disto? ... fica difícil comentar, ainda por cima não é novo. A justiça reincide nesta questão e volta a colocar em risco a saúde e a ordem pública. Debater a sentença é o pior que se pode fazer neste momento, era suposto estarmos todos muito mais à frente do que isso. A questão é então, quem raio são estes juízes, de onde vieram, que formação tiveram? O que tem que ser questionado neste momento é, antes de qualquer outra coisa, isto.

PS: Entretanto também se pode assinar esta petição.

PPS: E claro, também se pode boicotar esta rede de hotéis. Aliás, deve-se. Relembro que o Tribunal da Relação de Lisboa considerou provável que fosse servida comida nos restaurantes da SANA Hotels contendo sangue, suor, lágrimas ou saliva dos funcionários da cozinha, e até ao momento não houve qualquer reclamação por parte dos responsáveis pelo grupo hoteleiro em relação a essa alegação. E a ASAE espera o quê para ir averiguar?

E tão fixes que são as guerras civis...

segunda-feira, novembro 19, 2007

Já há versão madeirense do Google News ou é avaria?

É que me fartei de procurar pela reacção do líder do PSD à entrevista do sr. Drumond, e nada. Só pode ser avaria do Google. As únicas reacções laranjas à laranja entrevista são estas:
Jaime Filipe Ramos, deputado do PSD-M, considera, por seu lado, que «a revisão constitucional de 2009 é um momento histórico para o reforço da autonomia da Madeira, o momento é importante, o que importa é a substância e não a forma».
Ou seja, independência sim, mas dispensamos o hino e a bandeira, é isso? Mas se já têm hino e bandeira. A forma está tratada caro sr. Ramos, é a substância que está por apurar!
«É bom que o senhor Presidente da República veja que esses fenómenos estão a reaparecer e que há, aqui, apenas um só culpado: o comportamento discriminatório que o Governo do PS tem tido em relação à Madeira»
Esta é a de Jardim. Que também tem outra igualmente delirante sobre uma reportagem da RTP a propósito de um acidente aéreo que aconteceu na ilha - assunto proibido para Jardim, claro. Da Madeira só notícias de sol e flores, sff.

Mas do PSD português nem sinal. Nem sequer no blog de Pacheco Pereira (oh coitadinho, toma lá um link). Suponho que andem todos meios traumatizados com os resultados das suas mais recentes tiradas de política internacional, e se recolham portanto a um oportuno e sensato silêncio.

Já eu mantenho o que digo sempre: uma colónia em África não deixa de ser um crime só porque a população é branca, descolonização já! Solidariedade com o povo oprimido da Madeira!

Prós&Prós: cadê o sr. Chávez?

Vi há pouco um anúncio ao Prós&Prós de amanhã (hoje) na RTP1. Parece que é sobre a actualidade política da América do Sul (embora seja uma má criação do pelintra que ocupa o trono de Espanha a motivar o dito cujo) e que contará para debater (em linguagem Prós&Prós quer dizer "dar palmadinhas nas costas uns dos outros") portugueses e espanhóis. Fantástica ideia! Nada como os ex-colonizadores para debaterem os desvarios dos ex-colonizados, uns indígenas sem berço nem noção...

Mas mesmo assim lamento que a Opus Dei/Fátima Campos Ferreira não tenha permitido o convite ao sr. Chávez, que passa por Lisboa no dia seguinte, e por certo não se faria rogado a aparecer. Era até da maneira que o famoso "maior debate da televisão portuguesa" seria efectivamente um debate. Mas pronto, a Opus/Fátinha lá percebeu que não lhe seria tão fácil mandar calar o sr. Chávez, como faz com os outros esquerdalhos rara/acidentalmente convidados, e decidiu cala-lo pela ausência. Bem, mas vai ser um fartote de referências ao nome do Huguito, disso não duvido. Para quando Fátinha/Dei, um programa assim sobre Angola? Ou o nosso vizinho Marrocos? O casamento gay já sei que calarás sempre, és mais casamento de bancos e tal...

sábado, novembro 17, 2007

sexta-feira, novembro 16, 2007

Aprender a dizer "obrigado" em vez de mandar mais uma bomba para o Iraque? Só podem estar a gozar comigo!

Para Bush o ensino de português corresponde a um esbanjamento inútil comparável a um museu das prisões e uma escola de vela de ensino a bordo de um catamarã. Valeu a pena apostar na amizade transatlântica, ainda que isso tenha custado a vida a algumas centenas de milhar de iraquianos, os doces frutos estão à vista. Enjoy! E thank you very nice mr. Barroso ;)

PS: Mas vendo bem isto é uma boa oportunidade para a língua, dados os actuais índices de popularidade do carrasco do Iraque, ainda vira moda na América aprender português.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Os anti-acordo, que é como quem diz, os anti-brasileiros

Uma breve busca por "acordo ortográfico" na Technorati transforma-se rapidamente numa viagem à xenofobia anti-brasileira crescente cá na lusitana pocilga (eu às vezes fico assim meio anti-tuga, posso?). Um dos textos mais hilariantes é o desta petição "Contra o Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa", contei-lhe uns 10 erros ortográficos (errados com ou sem acordo), geralmente na acentuação, mas com direito a um "distincta", assim com "c mudo", porque afinal não se lê e não, e se representa um traço de portugalidade o melhor mesmo é patrioticamente expandir o seu uso. Bom, isto tudo na ortografia, porque saltando a gramática e aterrando no conteúdo, ui ui. Por certo esta gente pensa que Camões, Eça ou Pessoa usavam todos a mesma norma ortográfica, sendo a mesma que se usa hoje (excepto esta tal gente e os teens que é + axim).

Para não perder muito tempo com essa questão, citemos então de novo Eça, agora no original, a primeira frase de A Capital: «Foi no domingo de Paschoa que se soube em Leiria que o parocho da Sé, José Migueis, tinha morrido de madrugada com uma apoplexia.» Já Os Lusíadas começavam assim: «As armas, & os barões aßinalados, Que da Occidental praya Lusitana» patati patatá, uma pena ter-se perdido o "ß", tão mais giro e prático que "ss". Já os "ll" que Pessoa ainda usava para escrever "ela" de prático nada tinham.

Esclarecido este equívoco, passemos aos restantes. Lê-se num blog encontrado por mero acaso, mas aparentemente ligado a uma editora nacional, a Frenesi:
«Será que alguma vez passou pelas meninges de intelectuais ou de académicos ingleses sugerirem aos políticos sequer que a língua inglesa fosse subvertida pelo refluxo das suas variantes faladas na Índia pelos autóctones? Será que os holandeses da Holanda falam hoje afrikander? Falar-se-á no centro de Madrid, porventura, galego, basco, catalão, ou alguma das muitas variantes do castelhano que pululam na América Latina?…

De vez em quando, em Portugal, abre-se debaixo dos nossos pés o alçapão dos curros da política nacional: é como um balneário cheio com uma equipa de futebol da 3.ª divisão ao fim de 90 minutos de jogo suado e vários dias de treino sem passar por baixo de um chuveiro, é como um sifão de sanita entupido. Exala o cheiro pestilento das conveniências calculadas lá entre os políticos de carreira. Um fedor analfabeto a militância ronceira nos partidos, a cocó sob o poleiro de empregos talhados à medida das suas armaduras…»
Que belíssima prosa, que elegância, que ironia fina, um primor! O primeiro parágrafo é especialmente ilustrativo dos dois principais motores do reaccionarismo anti-acordo: a ignorância e a xenofobia.

Por um lado confunde-se uma alteração na ortografia, algo superficial, sem qualquer influência na fala, gramática ou vocabulário, com algo profundo e radical, uma autêntica revolução, imagina-se. Quando afinal trata-se apenas de uma ténue e simplificadora reforma ortográfica - basicamente cortam-se com letras e acentos irrelevantes, por não terem qualquer leitura. E depois associa-se isso a uma viciada e nefasta influência estrangeira. Os exemplos dados na citação são um mimo de imbecilidade - já agora, em Madrid não sei, mas na minha portuguesíssima e pacata rua ouço muitas vezes falar russo (ucraniano?), caló e claro, no Verão o francês é rei e senhor.

Mas o mais ridículo de tudo é a ideia de que a influência brasileira representa uma ameaça para a língua que falamos, se o Brasil é, afinal, a sua única esperança. Se o português fosse exclusivamente falado em Portugal provavelmente já estaríamos a falar em portunhol e a médio prazo exclusivamente em inglês. A língua franca europeia, que se começa a impor nos meios académicos e financeiros de todo o continente, podendo-se já em alguns contextos falar mesmo em diglossia, creio.

O português sem o Brasil teria a importância do eslovaco. Quem é que quer aprender eslovaco? Mais vale aprender checo ou polaco, e assim entender o mais que suficiente do eslovaco. Que é como quem diz, mais valeria aprender italiano ou catalão, do que esse dialecto espanhol do lado pobre da península.

Mas este texto já vai demasiado longo quando o assunto é algo tão ténue como o acordo ortográfico de 1990. Não se trata de nenhuma revolução unilateral como a de 1911. Nem sequer da assimilação da grafia brasileira - algo que, não fosse a histeria nacionalista, seria também perfeitamente razoável e sensato. Não, isto é apenas um pequeno conjunto de simplificações, acordadas entre dois países (e mais alguns a ver de longe) como se de igual para igual pudessem falar. Não podem, mas o Brasil faz a gentileza e generosidade de parecer que sim. A tudo isto o tuguedo responde com pedras.

Atirai quantas quiserdes e vereis depois em cima de que cabeças cairão.

quarta-feira, novembro 14, 2007

O colapso do grupo de eurodeputados fascistas

Divertidíssimo, a ler aqui, aqui e aqui.

Isto não é um país sério

«Portugal vai pedir dez anos para aplicar o Acordo Ortográfico da Língua Portugal, que foi assinado há quase 17 anos e que unifica a escrita do português nos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).»

E porque 27 anos não passam de uma correria irreflectida:

«A Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) exprimiu hoje "preocupação" pela possibilidade de o Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico ser ratificado sem previamente se realizar o "indispensável debate público e institucional sobre a matéria".»
Esta gente só pode estar a gozar. Não sei como o Brasil ainda perde tempo... e sobretudo não sei porque esperam os PALOP para adoptarem simples e convenientemente a grafia brasileira. Assim como assim, eu prefiro "vôo" a "voo" e "freqüente" a "frequente", coisas que se perderiam com a aplicação do acordo, para não parecer que só Portugal tinha que fazer alterações... Vá, considere-se então a língua dividida em duas e comecem-se a vender os livros brasileiros por cá, com a facilidade e quantidade com que se vendem os livros ingleses sff.

5.ª linha da página 161 e outros contos

Ora a cadeia que percorre a blogosfera lá me chegou pelo Pedro Fontela. A ideia é engraçada, mas os resultados nem sempre o serão. Em rigor o livro mais próximo seria um dicionário de bolso alemão-português/português-alemão, que na página 161 apresenta como 5.ª entrada "Orgel", "órgão" (o instrumento musical) em alemão. Descontando dicionários e livros com menos de 161 páginas, tenho então "A ilustre Casa de Ramires" do Eça, que anda para aqui aos tombos desde um post recente. Lê-se então na linha destinada: "E, riscando logo esse descorado e falso começo de capítulo, retomou o lance mais vigorosamente, enchendo todo o castelo de Santa Ireneia duma irada e rija alarma."

Mas aproveitando ter o livro à mão, esta, da pág. 114, parece-me mais oportuna:
«Vocês não compreendem... Vocês não conhecem a organização de Portugal. Perguntem aí ao Gouveia... Portugal é uma fazenda, uma bela fazenda, possuída por uma parceria. Como vocês sabem há parcerias comerciais e parcerias rurais. Esta de Lisboa é uma parceria política, que governa a herdade chamada Portugal... Nós os Portugueses pertencemos todos a duas classes: uns cinco a seis milhões que trabalham na fazenda, ou vivem nela a olhar, como o Barrolo, e que pagam; e uns trinta sujeitos em cima, em Lisboa, que formam a parceria, que recebem e que governam. Ora eu, por gosto, por necessidade, por hábito de família, desejo mandar na fazenda. Mas, para entrar na parceria política, o cidadão português precisa uma habilitação - ser deputado. Exactamente como, quando pretende entrar na Magistratura, necessita uma habilitação - ser bacharel. Por isso procuro começar como Deputado para acabar como parceiro e governar... Não é verdade, João Gouveia?»
Ora isto vem mesmo a propósito disto:
«A leitura da imprensa de ontem deixou-me mergulhado naquilo que, em literatura de aeroporto, se chama de "confusão de sentimentos". A notícia de que o Ministério da Justiça tinha comprado cinco limusinas de luxo, uma para o ministro, duas para os secretários de Estado, outra para o presidente do Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça (mais que justificadamente, pois este só já tinha uns velhíssimos Audi A6 e Peugeot 404 de 2003) e mais uma para a secretaria-geral, começou por inquietar-me. Tanto mais que outra notícia me dava conta de que o OE gastará, em 2008, 3,4 milhões de euros (mais 15,4% do que este ano) com viagens de deputados. Mas que podia eu fazer? Preocupo-me em ter os impostos em dia pois alguém tem que pagar o défice (incluindo os 280 000 mil euros de vencimento do dr. Vítor Constâncio, quase o dobro do que recebia Alan Greenspan na Reserva Federal americana) e já não tenho, como a generalidade dos portugueses, mais buracos no cinto que apertar. Mas depois percebi que eram boas notícias e que, como disse o primeiro-ministro, estamos todos de parabéns pois o défice já só vai em 3%. Os funcionários públicos vão ver que os 2,1% de aumento são lapso do Ministério das Finanças. Na verdade, o aumento será de 21%.»
Do séc. XIX para cá, se alguma coisa mudou, foi a parte do "governar". Alguém me sabe dizer ao certo para que serve o Banco de Portugal na era do Banco Central Europeu? Agradeço encarecidamente. Da Assembleia da República e Justiça já estou bem informado.

terça-feira, novembro 13, 2007

Vão, portanto, correr com os desorganizados, coitados

Copy&Post

«Revela o "Expresso" que Paulo Portas, uma semana antes das eleições de 2005 que o afastaram do Governo, mandou copiar nada mais nada menos que 61 893 páginas de documentação que se encontrava no seu gabinete do Ministério da Defesa. Muitos desses documentos eram, segundo a empresa de digitalização encarregada do serviço, confidenciais. Portas garante que se tratava apenas de "notas pessoais". Estranho, no entanto, é que, sendo "notas pessoais", boa parte (diz Portas) sobre o CDS, não as tenha simplesmente levado consigo e as tenha mandado copiar… Feitas as contas, enquanto foi presidente do CDS e ministro da Defesa, Portas terá, assim, escrito 24 páginas de "notas pessoais" por dia, incluindo domingos, feriados e dias santos de guarda. O que dá algo como uma página de "notas pessoais" por hora, mesmo no banho e mesmo durante as horas de merecido sono (pelos vistos, não é só Deus que não dorme, Portas também não). Onde param agora os documentos (alguns teriam, ainda segundo a empresa de digitalização, inscrições como "Iraque", "NATO", "ONU" ou "Submarinos") só Portas e Deus sabem. O que eu não faria com toda essa documentação!, os lucros, designadamente políticos, que não tiraria dali! Mas eu sou um crápula, e felizmente Portas é um homem honrado.»

domingo, novembro 11, 2007

Não terá antes rogado encarecidamente?

«Cimeira Ibero-americana: rei de Espanha manda calar Hugo Chávez» - título da Lusa.

«Rei Juan Carlos insta Hugo Chávez a calar-se no último dia da Cimeira Ibero-Americana» - título do Público.

A falta de chá do rei de Espanha

Aos reis das democracias europeias cabe o papel de cicerone, anfitrião de bailes e jantaradas diplomáticas, acenador ao povo e paparazzi e... pouco mais. É por isso que essas democracias com reis podem ser democráticas, ao contrário das monarquias asiáticas e africanas, onde os reis têm reais poderes, e logo, a democracia não tem lugar.

Foi nesse papel que João Carlos de Espanha recebeu ao longo de décadas alguns dos mais sanguinários monarcas das Arábias ou ditadores fascistas da América do Sul. Sempre com um sorriso e mil e uma etiquetas. É esse o seu papel. E a hospitalidade hipócrita sempre foi um dos mais importantes pilares da paz entre as nações.

Por tudo isto não há desculpas para o "porque não te calas?" que dirigiu a Hugo Chaves na cimeira iberoamericana. Que Chaves seja ele próprio trauliteiro não é novidade, e há muito que é unânime. Aznar tem as costas mais largas, mas trauliteiro é e será. Traulitadas são luxo de quem é eleito, que o diga Jardim eleito já sei lá quantas vezes (pois, também não há limites na Madeira) para insultar constantemente a mão que o alimenta.

Mas que o João Carlos deixe o papel decorativo para se dedicar ao mesmo desporto já é outra conversa, ninguém votou nele para isso. E que depois ainda saia porta fora, qual puto mimado amuadinho, apenas faz com que a diplomacia espanhola surja aos olhos do mundo como infantil e hormonal.

Não, as lutas de galos não são exclusivo tuga. Mas isto de haver garnisés à mistura, na Iberoamérica, é exclusivo espanhol.

PS: Por certo que o João Carlos é, à custa da sua traulitada, o herói do dia para os mais ofendidos com as traulitadas chávicas. Isto das traulitadas depende sempre de onde soprem...

sábado, novembro 10, 2007

Scandinavian cuisine


Sem tempo para comentar revistas parvas que entrevistam alucinados para tentar vender mais cópias (alguns alucinados, não todos). E já atrasado para divulgar a festa do 10º aniversário do CCGLL e entrega dos arco-íris. Deixo-vos então, para compensar, com as dicas de um chef escandinavo (sueco? dinamarquês? norueguês? alguém distingue?) que faz jus aos melhores estereótipos do tipo: alto, louro, espadaúdo e despido de pruridos. Há mais três receitas no YouTube.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Bom tempo

No país em que o prenúncio de sol e temperaturas altas em pleno Novembro, depois de um Outubro idêntico, é dado com um sorriso de excelente notícia, vale mesmo a pena ver este Photoclima:Imágenes de un futuro afectado por el cambio climático (.pdf) editado pela Greenpeace Espanha (que parece incluir Portugal).

Trocar o nome dos personagens para avaliar a qualidade da trama

Aparentemente nem toda a gente percebeu a minha troca neste post. Explico-me então. Argumentos há que pela aparente subtileza, pelo apelo aos nossos preconceitos mais inconscientes, nos parecem à primeira vista sensatos, razoáveis, muito diferentes de outros. O truque de trocar os personagens da argumentação, no caso americanos em vez de gays, é óptimo para se avaliar isso mesmo. O mais simples é trocar gay por hetero, mas nem sempre funciona. Hetero é a hegemonia, é invisível pela via da omnipresença, pelo que é fácil dizer que tanto se rejeita um rótulo como outro. Além de que a própria referência a uma orientação sexual tende a sexualizar imediatamente o que lhe rodeia, ao contrário de uma referência à convicção religiosa por exemplo, apesar de toda a gente ter uma e outra. Façamos outra troca:
«Não existe o “muçulmano”. Existem atos muçulmanos. E atos cristãos. Eu próprio, confesso, sou culpado de praticar os segundos (menos do que gostaria, é certo). E parte da humanidade pratica os primeiros. Mas acreditar que um adjetivo se converte em substantivo é uma forma de moralismo pela via errada. É elevar a religião a condição identitária. Sou como ser humano o que faço na minha igreja. Aberrante, não?»

Ou então: «Não existe o “jornalista”. Existem atos jornalísticos. (...) Mas acreditar que um adjetivo se converte em substantivo é uma forma de moralismo pela via errada. É elevar a profissão a condição identitária. Sou como ser humano o que faço no meu emprego. Aberrante, não?»
A palermice e hipocrisia deste argumento mil vezes usado, e nem por isso gasto ou fora de moda, fica assim muito mais clara do que estava na versão original. Onde todos os fantasminhas sexuais se uniam para lhe dar alguma credibilidade.

Definimo-nos e classificamo-nos uns aos outros segundo mil e um critérios, sendo a orientação sexual um deles. E uns e outros fazem mais ou menos sentido referir neste ou naquele contexto. Se falamos de relacionamentos, de família ou casamento, a questão da orientação sexual está sempre presente. Ainda que não explicitada, por presumida - e presume-se sempre a mesma, já se sabe. Daí a importância de se sublinhar que não é essa, quando é o caso, claro está.

Ateísmo evita que septuagenário faça parte da tragédia dos peregrinos a Fátima de Castelo Branco

terça-feira, novembro 06, 2007

Polémica: cartaz de festival de cinema americano usa imagem de criança

O Festival de Cinema Americano de Barcelona promove-se este ano com um cartaz que tem como fundo a foto de uma criança de cerca de 10 anos. A polémica começou de imediato: "americanizar as crianças espanholas é um dos objectivos de Hollywood", "na América existem até associações de defesa da pedofilia", "alguém explica porque há-de uma criança de 7 ou 8 anos converter-se num ícone de Hollywood", "ao domínio do império americano não escapam nem as criancinhas", foram alguns dos mimos lançados por César Vidal, uma conhecida figura anti-americana de Espanha.

Mas logo surgiram centenas de defensores deste crítico, até mesmo do lado de cá da fronteira. Dizendo que acusa-lo de anti-americanismo era viciar o debate à partida, impedindo que o mesmo se realize. "Existe o direito de criticar este cartaz?" é agora a pergunta lançada, esquecendo o tom virulento das primeiras críticas e o facto de ninguém ter tentado calar o seu autor - apenas se deduziu o óbvio, eram críticas baseadas apenas na xenofobia anti-americana. Os organizadores do festival mostram-se surpreendidos com as reacções, explicando que a polémica imagem é apenas uma citação cinéfila. Guess what, também há crianças na América, e consequentemente, nos filmes americanos.

domingo, novembro 04, 2007

A audiência rénica aposta na Dinamarca

Apesar de ser a Irlanda o único país onde já está confirmado o referendo (e que já disse Não no passado), a audiência rénica aposta na Dinamarca para estragar a festa de Sócras & Cª. Aguardemos. Mas para ser uma aposta ganha basta que se marque de facto um referendo na Dinamarca, e que tal aconteça antes dos outros, disso não duvido.

Fascismo

«(...) Tipo luta de galos. Até que se lembraram dos nagalhos com que se atam fardos de palha. E obrigaram - "ouviram-nos dizer, ou vais buscar ou…" - o "tolo" a ir buscá-lo ao alpendre onde passa as noites. Foi ele que contou tudo na manhã de domingo.

"Com esse é que é gozo", diz Luís, enquanto descansa de um dia de trabalho ao balcão d'"O Regional". Porque esse é simples e faz o que lhe mandam. Com o outro "desgraçado" era um "gozo que não é gozo". O "reinar saudável", ninguém se chateava, não, João "não era o bobo da corte". Quer dizer… "Aquilo que lhe diziam a ele não me diziam a mim…" E o culminar desse gozo? "A brincadeira podia ser normal se o atassem por uns segundos para a gente se rir… A partir daí já não é normal…"

Manuel Oliveira, 73 anos e sem queixa de ninguém, acredita que "os rapazes" que fizeram aquilo "nunca pensariam, talvez, que ele morresse". "Uma coisa que eu tenho para mim é que não o deviam ter abandonado. Faziam isso, sim, mas ficavam a ver a situação do homem". A normalidade…
(...)»

sexta-feira, novembro 02, 2007

Ainda os rankings

Ontem passei uma vista de olhos ao suplemento sobre os rankings do secundário publicado com o JN. As páginas do suplemento não se resumiam a infindáveis listas de escolas, havia vários anúncios a colégios para o ilustrar. Registei ainda outra curiosidade, a escola no último posto também era privada, mas não se viu em lado nenhum a manchete que lhe corresponderia na bovina lógica da imprensa: "Pior escola do país é privada".

É claro que não resisti a espreitar como estaria a minha antiga escola e as suas vizinhas. Curiosamente a posição nos últimos anos têm variado imenso, do top100 ao top 400, o que por si só é revelador da irrelevância da coisa. As escolas privadas das redondezas ficam ligeiramente acima e abaixo, e todas muito longe dos colégios que motivaram as tais manchetes arrasadoras para o ensino público.

Recordo que no meu tempo um dos colégios tinha umas instalações no mínimo pobres, sem laboratórios ou ginásio p.ex., e como na generalidade das escolas privadas, os professores eram os que não conseguiam colocação numa escola pública. Mas mesmo assim nunca lhe faltaram alunos. As razões que levam os pais a colocarem os alunos numa escola privada raramente tem que ver com uma suposta melhor qualidade educativa, isso é coisa recente. No meu tempo pelo menos, era comum ouvir como motivos a exclusividade (social, política, religiosa e étnica, i.e., sem pobres, comunistas, não-católicos ou ciganos), a segurança (portões sempre fechados, o aluno não se pode baldar) e os horários (mais convenientes aos encarregados de educação). Eram estes, e só estes, os motivos que levavam os pais a escolherem uma escola até pior equipada e sem qualquer mais-valia educativa comprovada.

Como é óbvio nem todos os pais e mães com poder económico para escolherem um colégio se deixam levar nessa cantiga. É a esses que é dirigido o actual golpe mediático da suposta "melhor qualidade dos privados", que longe de estar provada, está até em vários casos específicos comprovadamente errada. Não comprem gato por lebre, quando a lebre é um direito que não se vende.