terça-feira, novembro 27, 2007

Era a versão portuguesa deste partido sff

36 comentários:

O Barco de Sinbad disse...

Acho muito bem. Para quando o mesmo em Portugal?

/me disse...

Corridas de touros tudo bem que se deixe de transmitir. Mas porque haveriam de deixar de transmitir o resto?

bossito disse...

Por uma razão muito simples, não é ao Estado que cabe o papel de promotor e difusor desta ou daquela seita religiosa.

Eu não me oponho a que a ICAR ou outra qualquer igreja/seita tenha o seu próprio canal de TV em sinal aberto, desde que pago do seu bolso, i.e., dos seus fiéis.

O problema está quando os impostos de todos são usados e abusados para promoverem a seita que é só de alguns, ainda que da maioria (coisa aliás altamente discutível, dado que tanto em Espanha como em Portugal, as pessoas que praticam efectivamente uma religião são uma minoria, na ordem dos 10/13% em Portugal).

bossito disse...

Acresce que em Portugal essa transmissão é especialmente tonta e irrelevante, dado que um outro canal, que já pertenceu à ICAR, presta o mesmo serviço, e julgo que no mesmo horário, sem que tal constitua uma despesa para o contribuinte. Falo naturalmente da TVI. No caso das beatificações e semelhantes "especiais", chega-se por vezes ao cúmulo de ter 3 canais a dar exactamente o mesmo.

/me disse...

Não me parece que transmitir uma cerimónia religiosa seja forçosamente promover a religião subjacente. E se a TVI também faz esse "serviço", sendo uma TV privada, por alguma razão será. Não o fazem certamente para perder dinheiro. O que possivelmente deita por terra o teu argumento da despesa para o contribuinte.

Para além de que para muitas pessoas, assistir a uma missa na TV é serviço público. Para a minha avó doente, certamente é.

Acho que realisticamente não prejudica ninguém que as televisões transmitam cerimónias religiosas. E beneficia algumas pessoas. Potencialmente 10% da população? Não é de desprezar...

bossito disse...

Não me parece que a TVI transmita a missa por lucro, mas muito provavelmente por obrigação contratual e até com a licença de transmissão (concedida por Cavaco).

Mas é irrelevante essa questão do lucro, até porque a televisão pública não visa o lucro, mas prestar um serviço público - no qual, obviamente, não está incluída a propaganda religiosa. Não é esse o papel do estado. Ou melhor, não deveria ser.

Sinceramente não sei como te irritaste tanto com a campanhazita do orgulho hetero e te dás tão bem com o orgulho católico-homofóbico semanalmente na RTP...

/me disse...

Não me parece que transmitir uma cerimónia religiosa seja necessariamente propaganda religiosa. Para além de que lá está, para muitas pessoas é realmente serviço público.

Há católicos orgulhosos de o serem, fundamentalistas, homofóbicos, idiotas chapados até. E há também católicos que não são nada disso. Acho bem que o Estado não transmita mensagens que apelem à discriminação, mas de resto (e se isso for verificado, tal como é na esmagadora maioria das cerimónias religiosas), não vejo inconveniente nenhum a que transmita uma cerimónia religiosa.

Tanto no caso da cerveja tagus como neste, estou a ser pragmático: no caso da cerveja, a mensagem que em si não era homofóbica alimentava-se na e alimentava a homofobia. Porque não vivemos num mundo em que seja igual ser-se gay ou ser-se hetero, e há discriminação. Neste caso a que te referes no post, estou também a ser pragmático: há pessoas que sentem necessidade de assistir a cerimónias religiosas pela televisão. Não vejo porque razão não lhes dar essa hipótese.

eduardo b. disse...

Sim, a TVI transmite a missa porque a isso é obrigada pelo seu contrato de concessão. Só isto já diz quase tudo: o Estado atribui uma licença de transmissão de televisão em sinal aberto na condição de quem ficar com essa licença transmitir a cerimónia religiosa de uma determinada confissão. Deve ser aquilo a que se chama laicismo.

/me disse...

Isso é efectivamente estranho.

Anónimo disse...

e por causa das audiências! e audiências means money!!!, em publicidade!

de qualquer forma, prefiro ver uma missa na tv, do que um discurso do chavez (coitados dos venezuelanos, a terem de papar 4 horas do bolivariano a falar em directo na Tv)ou o nosso PM aos berros...!

olé:)

bossito disse...

/me em todas as missas católicas há uma parte de "discurso livre", que é sempre discurso político. Nem é preciso ser uma missa, no outro dia, por azar, no rádio do carro, sintonizei a Renascença em plena hora do Terço, e lá veio a lengalengazinha contra o aborto e pela verdadeira família a meio do dito cujo... Mas com a Renascença posso eu bem. 10% é significativo? É, podem muito bem manter a sua própria rádio nacional e mesmo uma TV...

Bem, a TVI provou que afinal não podem.. porque mesmo esses 10% não estavam assim tão interessados quanto isso. E foi com Big Brothers que a tv se safou, a missa dominical é só uma pedra no sapato.

Mas voltemos ao princípio, porque deve a RTP transmitir isso? Porque há gente interessada? E não haverá gente interessada em.. sei lá, pornografia? Arriscaria mais de 10%, e nem por isso a RTP a passa.

Mas pronto, não misturo alhos com bugalhos. A questão é simples, a república é laica, a sua tv pública tem obrigação de o ser também. A laicidade foi uma conquista de 1910, esmagada pelo salazarismo e mal recuparada pelo 25 de Abril. Este é só mais um exemplo. E não, não é inócuo, inocente, inodoro, inofensivo... falta-me o tempo para te explicar porque não é tudo isso, fico-me, agora, pelo lamento de tal não te ser óbvio.

bossito disse...

anónimo, felizmente que todos os aparelhos televisivos têm um botãozinho em geral sinalizado como "off" que permite desligar o dito cujo, sendo que ninguém é obrigado a ver o que quer que seja ;)

E ao menos na Venezuela tens variedade, canais Chávez e canais anti-Chávez, cá só temos do segundo tipo...

Anónimo disse...

Caro Boss,
Desculpe, mas acho que o anónimo e o /me têm razão: qual é o problema de ver na TV uma cerimónia religiosa? A liberdade que o senhor apregoa deve permitir aceitar igualmente as opções religiosas dos outros, não tendo que os obrigar a pensar e/ou a agir de um modo exactamente igual ao seu. Aí seria fundamentalismo! E, para isso, já nos bastam as tentativas encapotadas de cerceamento da liberdade de expressão que, volta e meia, afloram neste jardim à beira-mar plantado... (Desculpe a ironia, mas foi uma homenagem paródica ao tempo do antigamente, dependo, é claro, por aquilo que quisermos entender como antigamente...)

Anónimo disse...

Mas aí o ponto focado pelo Me mantém-se... para a Avó doente que só pode assistis à Missa na tv, isso é serviço publico...

Mas, neste caso, a RTP deveria transmitir também as cerimónias religiosas muçulmanas, judaicas, evangelistas, igreja de Deus, e até a meditação transcendental dos budistas... aí era uma canal só para isso... pago com os nossos impostos...

em que é que ficámos? eu nem me importava! adoro ver as cerimónias com o papa, a basilica de s. pedro e todo o ritual barroco... it's so gay, isn't?!!

:))))

bossito disse...

Mas quem obriga o quê ao que quer que seja? Eu sou super a favor de não haver limites ao número de canais privados, p.ex. Aquilo que não posso aceitar, é que os meus impostos sirvam para propagandearem mitos e lendas que eu considero nocivos e dos quais discordo profundamente. A tv pública não deve propagandear o catolicismo, como também não deve propagandear o budismo, a bruxaria, ou sequer, o ateísmo! (coisas que obviamente nunca fez) É isso a laicidade. Fale-se de religião, sim, façam-se debates, noticie-se o que for relevante, MAS NÃO FAÇAM PROPAGANDA, NÃO TRANSFORMEM O CANAL PÚBLICO NUMA IGREJA, MESQUITA, WHATEVER. Será pedir muito?

Ou será que também me posso queixar de falta de liberdade de expressão por a RTP não passar pornografia? Posso? É que me apetece, e além disso tal transmissão não violaria a laicidade do estado.

bossito disse...

anónimo, mas não é à avó do /me a definir o que é serviço público. E será? Um exemplo menos escabroso e violador da constituição: eu preferia que em vez dos jogos da selecção a RTP transmitisse os jogos de pólo aquático entre a Suécia e a Hungria, e apreciaria imenso, mas seria isso serviço público? Só porque eu curti?

A questão do serviço público é tudo menos simples. Mas há coisas que são claras, por violarem princípios maiores, constitucionais e republicanos, e por isso mesmo nem sequer haver porquê debater, "mas seria serviço público?".

Anónimo disse...

Caro Boss,

Quanto à questão da tv pública não passar propaganda, isso requer uma conversa bem mais longa, porque, como bem sabe, a manipulação ideológica não é apanágio apenas dos canais privados. Concordo consigo que teríamos todos a ganhar se a tv pública, em vez de nos encher a paciência com novelas de 3ª categoria, publicidade mais do que batida e aqueles terríveis programas de concursos que repetem todos a mesma fórmula, nos apresentasse uma informação isenta, plural e objectiva. Mas isso, talvez seja pedir demasiado num país que ainda parece padecer de alguns resquícios do tempo do antigamente.
E se temos de aturar, com o dinheiro dos nossos impostos, todo um conjunto de programas que só servem para "amestrar" o povo (perdoe-me a expressão, sei que é um pouco incorrecta!), então vamos fazer da tv um lugar plural e não reduzido a uma visão monológica e unidimensional. Porque essas tentativas de unificar e homogeneizar tudo e todos, infelizmente, começam a querer ganhar forma... E isso preocupa-me: devagar, devagarinho... e vamos ver no que isto dá...

Anónimo disse...

Caro Boss,

Só mais um comentário e abandono este fórum, pois, daqui a pouco, o senhor vai querer voltar a moderar os comentários (!)

Parece-me importante que a TV pública promova a igualdade e o respeito por todos, independentemente das respectivas orientações sexuais, credos religiosos, cor da pele, opiniões ou partidos políticos. Respeitar significa não discriminar, conceder espaço, tempo e oportunidades para que todos possam expressar, com respeito e tolerância, os seus pontos de vista. Porque é, deste modo, que se constrõem os consensos e a democracia se torna participativa. Agora, negar a uns o direito a expressar a sua fé ou a vivenciar o seu dia-a-dia não me parece democrático e concordante com a actual situação deste país.

bossito disse...

kapital kaos, os comentários são sempre passíveis de serem apagados, se é essa sugestão. Antes estavam abertos apenas a pessoas registadas para evitar o spam, que não se evitou ainda assim por completo. E como várias pessoas pediram para mudar o sistema, uso então este das letrinhas - que também não evita o spam por completo, já agora. Mas eu, como acho que qualquer blogger deve fazer, reservo-me sempre o direito de apagar os comentários ofensivos, e que ninguém venha com o bla bla da liberdade de expressão, porque o que não falta é onde escrever na net.

Respondendo ao seu comentário. Não me parece muito correcto, neste caso, comparar confissões religiosas com orientações sexuais ou políticas. Mas comparando só se realça a situação de absoluto privilégio da ICAR face aos restantes grupos religiosos, políticos e sociais. Nenhum tem nem 1/1000 do tempo concedido à ICAR diariamente (há um programa na RTP2) para uso próprio. E nenhum, insisto, o devia ter. Não disse nunca que não se possa debater a religião e os católicos tenham a sua voz, aliás, debata-se por favor! Mas não é isso que acontece, o que acontece são comícios televisivos constantes pagos com os impostos de todos.

Não é suposto a RTP ser o altifalante onde qualquer um chega e usa, e muito menos o altifalante onde só uns chegam e usam. É suposto a RTP ter autonomia e dar um tratamento jornalístico às questões, podendo e devendo promover o debate, documentar, etc etc etc. Mas não é suposto ser uma igreja, é só isso que digo! A ICAR quer um canal? Aliás tem variadíssimos em todo o mundo. Pois que o crie e financie, em nada me oponho. Só não quero ser eu a paga-lo, por favor!

Anónimo disse...

Caro Boss,

Peço-lhe imensa desculpa pela insistência, mas é uma dúvida que já possuo há bastante tempo, desde a época em que lia assiduamente o seu blogue, localizado noutro servidor. (Sim, porque eu sou um dos seus leitores mais assíduos)

Porque esse rancor à ICAR? Alguma vez lhe fez mal?

A ICAR prega a tolerância, o respeito pelo semelhante (o homem, a mulher, a criatura filha de Deus), o diálogo com o outro, independentemente de ser quem é. E olha muito para os marginalizados e os oprimidos.

Boss, por favor, não encare estas minhas questões como provocatórias, mas como estímulos para um diálogo frutuoso e franco entre dois sujeitos que se respeitam mutuamente.

E a questão do apagar dos comentários foi uma brincadeira. Onde está o seu sentido de humor?

/me disse...

Boss, acho que teremos de discordar.

Concordo que o Estado defina regras. Nomeadamente, que na homilia não se podem dizer determinadas coisas que ofendam as regras do mesmo Estado.

Mas de resto, não vejo que objecções se possam levantar à transmissão de cerimónias religiosas. Até de astrologia se fala na televisão...

O ser humano tem uma dimensão espiritual (independentemente de ser religioso, agnóstico, ateu...). Não é normal nem saudável ter uma TV que não reflita isso.

bossito disse...

Caro Kapital Kaos,

realmente é difícil ler o seu comentário sem o entender como uma provocação: «A ICAR prega a tolerância, o respeito pelo semelhante (o homem, a mulher, a criatura filha de Deus), o diálogo com o outro, independentemente de ser quem é. E olha muito para os marginalizados e os oprimidos.» !?!

Eu não tenho um rancor especial à ICAR. Detesto qualquer organização assente na promoção de mentiras piedosas, com longos cadastros de genocídios, massacres e demais sanguinolentas perseguições, e que usam da ingenuidade alheia para amealharem sem esforço ou trabalho produtivo quantidades imensas de dinheiro que é de todos e devia ter melhor fim.

Acontece simplesmente que entre as organizações que obedecem a esses critérios a ICAR é a que me está mais próxima e mais negativamente influencia o país onde vivo, e por arrasto, a minha própria vida. É só isso ;)

E se persiste a dúvida sobre se algum dia fui abusado sexualmente por um padre na sacristia, especifico, não, não foi esse o caso. É só o que explico acima ;)

bossito disse...

ó /me, sugeres que seja o estado a determinar o que pode ou não um padre dizer na missa e eu é que ponho em causa a liberdade de expressão?

"O ser humano tem uma dimensão espiritual" é a tua opinião, não é nenhuma lei universal. Eu por exemplo vejo essa afirmação como absolutamente vazia de senso. Não tarda defendes que todos os ateus deviam ver a missa porque lhes ia fazer bem bem, seria muito saudável... enfim, propaganda, como digo desde o início da conversa.

/me disse...

Defendo que o estado possa determinar o que o padre não pode dizer numa missa que seja transmitida pela tv, sim.

E eu não disse que punhas em causa a liberdade de expressão.

De resto, não gosto muito desse plano inclinado que segues, a dizer que eu mais tarde irei defender outra coisa, porque não faz sentido.

Quando ao ser humano ter uma dimensão espiritual, não quer dizer que tenha de ser religioso ou até acreditar num ser superior. Mas não somos meramente seres físicos.

Anónimo disse...

Caro Boss,

Concordo consigo (está a ver, como eu, muitas vezes, concordo com o que escreve?) quando fala de momentos de um passado absolutamente lamentável e tenebroso. Houve-os sim, nomedamente através do terrível instrumento censório e mortífero da Inquisição.

Mas a ICAR mudou muito e o próprio Papa João Paulo II pediu perdão público por esses actos, que envergonham qualquer ser humano e são evidências de um fundamentalismo que, ainda hoje, nos faz a todos tremer.

Pensando no presente e na acção da ICAR, bem como na busca colectiva de um consenso baseado no respeito pela individualidade e singularidade de cada homem e de cada mulher (livres de poderem possuir ou não as convicções religiosas e de fé que bem entenderem, e as "performances" que quiserem, desde que respeitadoras dos valores éticos de uma vida em sociedade), não consideraria a hipótese de poder aceitar, na tv pública, a transmissão de uma cerimónia religiosa? É que os católicos também pagam impostos, além de também merecerem respeito. E este respeito deve ser mútuo, sem acusações nem discriminações de parte a parte. Pelo menos, é assim que entendo a problemática do viver em sociedade.

Peço-lhe, mais uma vez, desculpa por estes desabafos e por estes comentários deixados no seu blogue, mas como leitor antigo do mesmo, já não passo sem o consultar sempre que posso. E dou-lhe os parabéns pela iniciativa, embora, por vezes, ache que precisaria de ser menos radical em assuntos que implicam com a dimensão espiritual do ser humano (é só uma opinião, claro!)

Héliocoptero disse...

Sem saber se o que vou dizer já foi dito (os comentários vão longos e a hora de almoço aproxima-se)...

O Estado é laico porque é neutro em matéria religiosa, não é laico por ser anti-religioso. Se o fosse, não seria neutro já que estaria a tomar partido pela não-religião. Assim sendo, ao Estado compete apenas dar liberdade e espaço para a prática religiosa, garantindo a igualdade de direitos e sem manifestar opinião ou meter o dedo para além da manutenção da lei e ordem pública. E esse espaço a dar inclui os meios de comunicação públicos - por definição de todos - e onde também são manifestadas as opiniões e mundividências de diferentes quadrantes políticos, económicos, sociais, desportivos e culturais. O Estado também não tem clube de futebol, mas não é por isso que não se devem transmitir jogos que não os da selecção nacional. O Estado também não tem partido político, mas não é por isso que se defende que apenas o Governo deve ter direito de antena.

Já se sabe que o Boss é um ateu militante, mas isso não o impede de cair no mesmo erro que muitos católicos: reivindicar a sua militância privada como um modelo de militância do Estado.

bossito disse...

/me: «Quando ao ser humano ter uma dimensão espiritual, não quer dizer que tenha de ser religioso ou até acreditar num ser superior. Mas não somos meramente seres físicos.» É a tua opinião. Não é por exemplo a minha. É uma opinião, não é facto.

kapital kaos «É que os católicos também pagam impostos, além de também merecerem respeito.» Credo, que inversão da realidade! Mas alguém disse o contrário? Alguém sequer sugeriu uma discriminação negativa? Nada disso, apenas o fim de um privilégio injustificado. Mas já se sabe, quando se põem em causas privilégios de séculos é o Carmo e a Trindade por aí abaixo. A igreja mudou muito? Ou muito pouco? Pegando no seu comentário à perseguição criminal aos homossexuais em Marrocos, relembro que só há muito pouco tempo (dias atrás) a homossexualidade deixou de ser criminalizada na católica Nicarágua, descriminalização que contou com católica oposição. Nunca a ICAR condenou as condenações à morte por homossexualidade que se verificam ainda em vários países, mas está sempre pronta a enfurecer-se com o casamento gay. Isto além do apoio a ditadores fascistas vários (não é uma coisa do passado, é de agora), golpes de estado, etc etc etc etc.. Mas cada um vê o que quer ver, claro ;)

heliocoptero, de facto foi pena não teres lido os comentários, obrigas-me a repetir-me. Mas parece-me que a confusão é toda tua, nomeadamente entre laicidade e multiconfessionalismo de estado. Um estado laico permite que as religiões se organizem e promovam com os seus meios. Quando é o estado a proporcionar esses mesmos meios, passa a ser religioso. Subitamente parece que não oferecer espaços publicitários de milhões de euros por ano é uma horrível perseguição religiosa. Não, não é. Perseguição é proibir a religião, impedir que desenvolva os seus meios, etc etc, nada disso está em causa aqui. E por certo que essa tua ideia de multiconfessionalismo também está longe de ser a realidade actual.

Anónimo disse...

Caro Boss,

Pelos comentários deixados aqui por outros leitores, começo a perceber que o senhor é um sujeito com convicções fortes e, por vezes, com alguma dificuldade em perceber que possa haver outras pessoas que, compartilhando as suas ideias, podem simultaneamente discordar de parte delas. Perdõe-me se estou a efectuar um juízo de valor errado. Serei o primeiro a pedir-lhe desculpas e a reposicionar a verdade dos argumentos, sem qualquer problema. As minhas convicções ideológicas e a minha formação humanística assim me ensinam a agir.

Apenas 2 notas referentes a algumas observações que tece no seu comentário anterior:

A ICAR é contra a pena de morte, seja ela de quem for. Um dos 10 mandamentos é muito claro: Não matarás!

Quanto à questão das perseguições de que muitos são vítimas por esse mundo fora - Marrocos incluído, mas também Irão, por exemplo - , a posição é a da denúncia e da luta contra todos esses actos que menosprezam a vida humana e entendem a criatura, filha de Deus, como algo que não tem valor. A posição da ICAR só pode ser a da veemente recusa de uma tal concepção, porque intrinsecamente atentatória da qualidade do ser humano.

Portanto, como vê, partilhamos pontos de vista: ambos defendemos a liberdade e o respeito uns pelos outros; ambos condenamos actos atentatórios da singularidade e individualidade do ser humano, que, como todos sabemos (e alguns experimentam-no e vivem-no no dia-a-dia), não são nem têm que ser guiados por princípios de uniformidade de formas de pensar, de agir ou de ser. Somos seres humanos, não somos máquinas. Como seres humanos, todos somos diferentes e vivemos essa diferença, por vezes, graças a pequenos gestos, outras vezes, graças a actos múltiplos e diversificados. Ora esta pluralidade de gestos e de actos deve ser respeitada e protegida por todos os seres da comunidade, desde que esses gestos e actos se mostrem como confluentes para uma ética da vida social.

Boss (permita-me este tratamento mais íntimo!), acho que aquilo que nos diferencia são questões acidentais, porque, na substância, estamos muito próximos, não acha? A sua militância ateia é perfeitamente compaginável com as minhas convicções religiosas, já que, e embora possa não concordar com o que direi a seguir, há algo de fundamental que nos une: a humanidade, decorrente da nossa natureza de filhos.

Boss, mais uma vez, entenda estas minhas reflexões como estímulos a um diálogo frutuoso por parte de alguém que o admira e que o respeita profundamente, aceitando que o mundo não é, como por vezes nos querem "vender" a ideia, inteiramente pintável a preto e branco, para homenagearmos o nosso querido amigo Mário Cesariny. O mundo e os seres que nele habitam são plurais e diversos.

Cordialmente,
Kapital Kaos

bossito disse...

Caro kapital, eu aceito perfeitamente que tenha opiniões diferentes das minhas. Apenas contesto alguns factos onde parecem assentar. Por exemplo, a ICAR não é sempre contra a pena de morte.

E quem me dera a mim, como opositor à mesma, que a ICAR dedicasse à luta contra a pena de morte metade do tempo da que dedica na luta contra o casamento civil gay (mesmo não reconhecendo nenhum casamento civil) ou contra a despenalização do aborto. Quem me dera a mim! Mas não, antes ensina nas escolas públicas do estado português que, por vezes, a pena de morte é justificável...

Anónimo disse...

Caro Boss,

Agradeço as suas palavras.

Relativamente à referência à pena de morte, permita-me corrigir a observação que faz. O catecismo da Igreja Católica diz expressamente o seguinte:

"A pena infligida deve ser proporcionada à gravidade do delito. Hoje, na sequência das possibilidades do Estado para reprimir o crime tornando inofensivo o culpado, os casos de absoluta necessidade da pena de morte «são agora muito raros, se não mesmo praticamente inexistentes» (Evangelium vitae). Quando forem suficientes os meios incruentos, a autoridade deve limitar-se ao seu uso, porque correspondem melhor às condições concretas do bem comum, são mais conformes à dignidade da pessoa humana e não retiram definitivamente ao culpado a possibilidade de se redimir."
Retirado de http://www.agencia.ecclesia.pt/catecismo/artigo.asp?numero=469

Quanto à questão da despenalização do aborto, a doutrina é conforme aos princípios já enunciados de defesa de uma cultura da vida e de recusa veemente de uma cultura da morte, precisamente porque todos conhecemos a barbárie a que esta pode levar.

A questão do respeito pelas orientações sexuais de cada um necessitará de uma revisão. Aqui concordo consigo!

Cordialmente,
Kapital kaos

Héliocoptero disse...

Se o Estado fosse multiconfessional, ele assumiria como suas cerimónias religiosas, faria funcionários seus todos os sacerdotes de todas as religiões ou permitir-lhes-ia o acesso a cargos políticos. O Estado é laico porque é neutral, não professa, não tem religião e remete a decisão de ter uma, várias ou nenhuma para cada cidadão. E é precisamente porque há cidadãos que seguem religiões, que a televisão pública cobre o assunto tal como o faz para tantos outros fenómenos, movimentos, filiações e opiniões políticas, sociais, económicas, desportivas e culturais.

Censurar pura e simplesmente um tema televisivo só porque é religioso é fazer do Estado laico um Estado ateu, caso em que se quebra a sua neutralidade em matéria por assumir uma posição pela não-religião. A menos que esteja em causa a ordem pública, direitos, liberdades e garantias, não há motivo para proibir a transmissão de fenómenos sociais na televisão que, por ser pública, deve ser aberta e o mais abrangente possível. Se tu não gostas, tens bom remédio: dá uso ao controlo remoto e muda de canal. Ou desliga a televisão. Eu também não ligo peta ao futebol, acho que se dá tempo de antena a mais à coisa - muito mais do que a beatificaçõesou aberturas de igrejas novas - que este país é morbidamente viciado na bola, mas não é por isso que defendo a censura pura e simples do tema. Equidade e sentido de prioridades bastava.

bossito disse...

O ponto é, não a exclui por completo. Ainda não há muitos anos um professor meu de ERMC (sim, eu andei por lá), explicava que a pena de morte era menos grave que o aborto porque havia razões que a justificavam bla bla bla...

É por ser tudo menos clara a posição da ICAR face à pena de morte que seria conveniente que por uma vez, uma única vez sff, ela deixasse claro que a condenava quando a razão era a homossexualidade. Sei lá, era uma forma de mostrarem que afinal não são tão ferozmente homofóbicos como eu os imagino...

Continuo à espera..

e sem ousar pedir uma condenação à criminalização da homossexualidade com "meras" penas de prisão, vigente em dezenas de países, alguns deles católicos.

bossito disse...

heliocoptero, como expliquei acima, nada contra debates religiosos, notícias religiosas, enfim, uma cobertura jornalística do tema. Não é disso que se trata, mas de tempo de antena e meios de produção dados à e controlados exclusivamente pela ICAR.

E sim, o estado tem sacerdotes entre os seus funcionários. Os capelões dos hospitais e do exército são funcionários públicos, pagos pelo estado, mas escolhidos pela ICAR. Como vês... ainda longe do estado laico.

Héliocoptero disse...

Nesse caso a questão é a de distribuir melhor o tempo de antena, coisa que está longe de se conseguir proibindo pura e simplemente transmissões de um determinado tipo. Estás certo nos fins, errado nos meios.

Quanto às capelanias, dizes bem. Tal como dirias se te referisses aos hábitos protocolares de convidar párocos para inaugurações não-religiosas, tomadas de posse ou outras cerimónias de Estado. A mudança, no entanto, deve ser feita de cabeça fria e de modo pensado, sem cair em militâncias privadas que levem um Estado laico porque neutro a tornar-se laico porque ateu. Porque, diga-se de passagem, não vai ser a proibição de transmissão de cerimónias religiosas que vai tirar o monopólio das capelanias à Igreja Católica.

Anónimo disse...

Sabe, caro Boss, a questão da visão homofóbica não é exclusiva de alguns sectores da ICAR. Há muita boa gente, na nossa sociedade, que, infelizmente, assume e promove, por falta de tolerância, civismo e um profundo subdesenvolvimento cultural, essa forma de agir e de orientar as relações sociais. Compreendo que sinta mágoa e muito mal-estar a esse respeito.

Na sua essência, os mandamentos do livro sagrado da ICAR contemplam sempre a obrigação de olhar o outro, de o respeitar e de o aceitar, nunca o julgando.

Parece-me, pois, que há muita gente que, dizendo-se cristão, não conhece e não pratica, de facto, os ensinamentos do cristianismo. A revolução das mentalidades e a emancipação que Cristo trouxe à Palestina ocupada pelas tropas romanas de há 2.000 anos atrás ainda está, em muitos casos (infelizmente), por fazer-se.

Como compreenderá, não temho pretensões a mudar o mundo, nem sou político ou líder do que quer que seja, mas estou convicto que será consigo, comigo e com muitos outros que poderemos, aos poucos, ir alterando este estado de coisas.

Cordialmente,
Kapital Kaos

Anónimo disse...

Ainda com referência à questão da pena de morte, pesquisei, no portal da agência de notícias do Vaticano (http://www.zenit.org), as seguintes informações, que passo a transcrever:
http://www.zenit.org/article-16897?l=portuguese

"LISBOA, quinta-feira, 29 de novembro de 2007 (ZENIT.org).- Dez cidades portuguesas vão unir-se à maior mobilização internacional contra pena de morte, promovida pela Comunidade católica de Santo Egídio, no dia 30 de novembro.

Segundo informa Agência Ecclesia, do episcopado de Portugal, é a primeira vez que o país marca presença nesta iniciativa, que irá juntar este ano 700 cidades de 51 países, nos cinco Continentes.

Esta é a maior manifestação pública realizada até hoje para pedir o fim da pena capital em todos os países do mundo.

«Cidades pela vida: Cidades contra a pena de morte» é o mote para a iniciativa, que conta com o apoio das principais organizações de defesa dos Direitos Humanos (Amnistia Internacional, Ensemble contre la Peine de Mort, International Penal Reform, FIACAT) e a World Coalition Against the Death Penalty.

As 10 cidades portuguesas que se associam a esta iniciativa são Batalha, Cascais, Castanheira de Pêra, Castelo de Paiva, Ferreira do Alentejo, Marco de Canaveses, Matosinhos, Paredes, Paredes de Coura e Seia.

A Jornada acontece numa data histórica: a 30 de novembro de 1786 a pena de morte foi abolida pela primeira vez num Estado ocidental – o Grão-Ducado da Toscana.

Há duas semanas, a 3ª Comissão da Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou uma moratória contra a pena de morte. 99 países votaram a favor, 52 contra e 33 abstiveram-se.

A resolução expressa preocupação pela contínua aplicação da pena de morte e chama os países que a mantêm nos seus códigos penais, a estabelecer uma moratória das execuções com o objetivo de as abolir. Antes de discutir esta moratória, a ONU recebeu 5 milhões de assinaturas contra a pena de morte, numa iniciativa promovida por Santo Egídio.

A jornada internacional contra a pena de morte foi lançada em 2002 pela Comunidade de Santo Egídio e desde então não parou de crescer. Esta comunidade nasceu em Roma, no ano de 1968, logo após o Concílio Vaticano II.

Hoje é um movimento de leigos, ao qual aderem mais de 50 000 pessoas, empenhado na evangelização e na caridade em Roma, na Itália e em mais de 70 países de vários continentes, incluindo Portugal. As várias comunidades, espalhadas pelo mundo, partilham a mesma espiritualidade e os mesmos fundamentos.

(Com Agência Ecclesia)"

Outras informações relacionadas e com interesse:
http://www.zenit.org/article-16769?l=portuguese
Moratória internacional contra pena de morte

Cordialmente,
Kapital Kaos