quinta-feira, agosto 31, 2006

Açores desassoreados

Um dos estereótipos açorianos é o da forte religiosidade, ou seja, de uma fé católica muito mais fervorosa do que no continente. No continente já se sabe, com alguma variação Norte-Sul, o que é certo é que a maioria da suposta hegemonia católica nacional só se lembra que o é quando nasce, casa ou morre. Foi assim com alguma surpresa que descobri que nos Açores nem quando se casa se é católico.
«Desde logo a comparação nacional: em 2004, no país, 57,13% de todos os casamentos foram católicos, mas nos Açores esse valor baixa para os 23,69% - ou seja, apenas cerca de 1 em cada 4 casamentos é realizado na Igreja. Mais grave ainda é que a situação piora quando se compara com o ano de 1999, ou seja, 5 anos antes: nesse ano, 28,21% de todos os casamentos foram realizados na Igreja, o que representa um abaixamento de quase 5 pontos percentuais.»
Repararam no alarmismo beato do artigo? É que se o povo já se livrou da fé, as elites e imprensa, insulares ou continentais, tresandam a catolicismo barato. E o escriba deste artigo é um já velho conhecido, Manuel Moniz, responsável pela famosa manchete «Homossexuais aterrorizados» no mesmo Diário dos Açores, aqui há um par de anos... A sociedade progride, mas os pasquins serão sempre pasquins.

Solidariedade com Gil Vicente

Espero muito sinceramente que o Gil Vicente FC não desista dos seus recursos nos tribunais. Para já temos assistido aos nada surpreendentes, mas sempre deprimentes, espectáculos do "sacode a água do capote" e "quem se lixa é o mexilhão", por parte dos principais dirigentes do futebol português, que entre o cumprimento de ordens da FIFA que violam direitos básicos como o direito à justiça e a solidariedade devida a um clube português, não hesitam em escolher vergar-se à primeira. Sendo o futebol a principal paranóia nacional, e sendo este um caso que claramente põe a soberania do país da bola em cheque, espanta que ainda ninguém tenha lançado a ideia de colocar bandeirinhas do Gil às janelas... ou pelo menos nos blogs, é que desta vez teria mesmo um significadozito mais profundo.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Seborga (à atenção do Couto Misto)


Conseguir a restauração da independência do Couto Misto não será tarefa fácil, mas há alternativas mais rapidamente alcançáveis. No maravilhoso mundo das micronações Seborga é o melhor case study para as gentes interessadas na promoção do Couto.

Tal como o Couto Misto, Seborga tem uma longa história de independência, terminada em 1729. Inconformado, Giorgio Carbone (localmente conhecido como "Sua Tremendita") defende desde os anos 60 a devolução da independência da vila, assumindo o título de Príncipe de Seborga. Tratado com indiferença por parte das autoridades italianas, o que é certo é que Sua Tremendita impulsionou o turismo e projecção internacional de uma terra com pouco mais de 300 habitantes, e que de outro modo estaria condenada ao esquecimento. A venda de selos, passaportes e moedas locais (luigino) são alguns dos negócios possibilitados pela proclamação da independência. E apesar de menos conhecido que outras micronações reconhecidas internacionalmente como estados independentes (Mónaco, San Marino, Liechtenstein etc.), o principado tem conseguido atrair atenções e turistas em número suficiente para fazer inveja a muitas cidades de muito maior dimensão.

Da mudança

Ora como já repararam não resistimos* aos encantos da nova versão beta do Blogger e voltámos à casa que nos viu nascer. O blog está mais leve e rápido, parece-me, e muito mais giro também. Há ainda uma série de coisas a tratar, nomeadamente a lista de links, que implicam um vagar e esforço difíceis de reunir no mês de Agosto. Mas o principal está feito, espero que gostem!

* Este plural é algo exagerado, basicamente eu fiquei fascinado e consegui convencer a restante renagem com recurso a chantagens várias...

Eis uma notícia capaz de atropelar dois ou três fascistas de uma vez*

Um orfanato à portuguesa, com certeza

terça-feira, agosto 29, 2006

Devolvam a independência a Couto Misto!

Couto Misto (ou Couto Mixto, em galego) é uma antiga república situada entre a Galiza e Portugal, e que foi independente entre os séculos XII e XIX. Esta desconocida y pequeña Andorra, como lhe chama o El País, tinha vários privilégios que a tornavam efectivamente independente de Portugal e de Espanha. Por exemplo, os habitantes não necessitavam de licença de porte de arma e não eram obrigados a ingressar qualquer exército, nem mesmo em tempo de guerra. Um juiz com poderes administrativos, governativos e judiciais era eleito e auxiliado por três homens-bons, representando cada uma das três aldeias que constituem o país: Rubiás, Meaus e Santiago. Tudo isto terminou com o Tratado de Lisboa em 1864, que definiu aquele território como pertença do Reino de Espanha.

Actualmente existem algumas iniciativas para recuperar a memória e história deste lugar - todas elas do lado de lá da fronteira. E que têm tido algum eco na imprensa do (actual) único estado vizinho - além do El País, ver também este artigo do La Voz de Galicia. Existe ainda uma Asociación de Veciños do Couto Mixto. Mas não parece haver qualquer iniciativa que vise devolver a independência ao Couto. Terão as gentes e políticos das cercanias (Montalegre p. ex.) noção das potencialidades turísticas que um micro-estado traria para toda aquela região? E com o devido reconhecimento internacional, para todo o Noroeste Peninsular? €uros, senhores, muitos €uros a saltitar! Ainda mais se se consegue um acordo com o Banco Central Europeu semelhante aos que conseguiram o Vaticano, Mónaco e São Marino. Estão à espera de quê? Independência para Couto Misto já!

Advinhem quem voltou?