quarta-feira, dezembro 24, 2008

É natal, branqueie-se o ódio

O dossier de hoje do Público sobre o discurso de ódio de Bento 16 contra os homossexuais não é mais que um branqueamento do dito ódio. O tom com que foi escrito tenta passar a imagem de um Bento 16 teórico inofensivo versus agressivos activistas homossexuais. Os mesmos que afinal não tiveram direito a opinar no jornal, que reproduz o discurso do papa, publica o artigo de um padre que tudo subscreve e ainda um outro que acusa os activistas gays de quererem limitar a liberdade de expressão papal. Os tais activistas que nada puderam dizer nas páginas do jornal, pelos vistos compete-lhes apenas calarem enquanto são insultados.

O branqueamento feito pelo Público vai ao ponto de publicar esta delirante frase: «Na semana passada, o Vaticano pediu a todos os Estados que eliminassem as penas criminais contra os homossexuais.» - ocultando que o Vaticano votou contra e instigou ao voto contra do documento discutido na ONU que pretendia isto mesmo.

Mas nem todo este branqueamento consegue esconder a evidência de que é esta lógica da "ordem natural" que está por trás de crimes como este.

Que B16 e seus compinchas arranjem uma consciência em 2009 é o meu voto para este natal.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Twitter killed the blogger star

Recebi algumas queixas pelo semi-abandono do blogger pelo twitter, mas a verdade é que cada vez a troca me parece melhor. Isto porque nos tempos que correm me falta o tempo e o vagar para me pôr com grandes prosas, o post anterior é a excepção à regra, e o twitter é perfeito para a boca curta ou a partilha de um link. Usando a extensão twitterfox para o firefox a experência twitter torna-se muito mais satisfatória. É por exemplo perfeita para quem quer receber as notícias na hora, e nem está muito interessado no twitterismo, já que pode funcionar como aplicação única de alertas noticiosos das mais variadas fontes - como se vê no exemplo da imagem. Também serve para twittar, e todo o seu uso é simples e instintivo. Enfim, foi a primeira que testei e fiquei logo convencido, não comparei com outras. Fica a sugestão.

Para os bloggers resistentes deixo a sugestão de aderirem ao twitterfeed, um site que automaticamente twitta os vossos posts - é o sistema usado pelo JN ou pelo Arrastão p.ex..

Quem quer matar a Razão?

Não sei porque o texto não está assinado, mas seja quem for, escreve para o JN. O jornal achou por bem publicar um artigo ontem, domingo (dia do sr.), intitulado "Quem quer matar Deus?", aspas minhas, que no artigo Deus é factual e seus assassinos também. A meio da prosa encontramos outra bela pergunta: "É possível não acreditar no divino?". Tanta imbecilidade junta fica difícil de digerir e comentar que não com insultos. Mas farei um esforço.

O texto começa por anunciar em tom de alarme que o ateísmo floresce, livros ateus enchem as listas de best-sellers e até os autocarros londrinos transportam mensagens ateístas, e associa isto ao "declínio da religião no Ocidente". Mas acaba por concluir que:
«Em Portugal, embora falte estatística, a proliferação de anúncios de videntes e quejandos é suficiente para perceber que o negócio prospera, autorizando a tese de que vivemos num Mundo onde o irracional é a norma e grande parte da Humanidade crê em Deus, ainda que cada qual o defina a seu modo.
Do mundinho onde vive o autor da prosa não deverá restar qualquer dúvida sobre a total ausência de razão. Mas convirá lembrar ao dito cujo que bruxas, mezinhas e rezinhas são mais velhas que a Sé de Braga, pelo que sem estatística mais vale não atirar a moeda ao ar, por maior que seja a fé no método.

Enfim, um curioso mundinho onde para um ateu ser radical, virulento ou assassino basta-lhe falar publicamente da sua não crença ou querer desligar-se da religião a que pertencia, enquanto que um religioso só amarrando um cinto de explosivos ao corpo merece tais honrarias. Ateus tão radicais, virulentos e assassinos e afinal tão frouxos, queixa-se no último parágrafo:
«Aliás, neste contexto torna-se pertinente a pergunta sugerida por Anselmo Borges: “Porque é que a campanha publicitária dos autocarros londrinos declara que Deus ‘provavelmente’ não existe? Porque não dizer logo que ‘Deus não existe’, se há essa certeza?”. Segundo a BHA, porque o “provavelmente” evita ferir susceptibilidades e violar as leis britânicas da publicidade. Mas a melhor explicação talvez radique, afinal, na advertência formulada na Grécia pelo matemático Euclides, 300 anos antes de Cristo: “O que é afirmado sem provas pode ser refutado sem provas”. »
Anselmo Borges, note-se, foi o expert chamado a explicar este estranho fenómeno de gente que se recusa a acreditar em estórias da carochinha e insiste em usar o cérebro que tem na cabeça. Apesar da BHA explicar a razão da escolha do slogan, o autor da prosa não se dá por satisfeito, e decide que a explicação é afinal outra. Esquece que na Inglaterra persistem medievas leis anti-blasfémia, mas não falha de todo o alvo.

Isto porque para muitos ateus, como eu próprio, a escolha do slogan é efectivamente a mais racional, lei britância à parte. Desde logo levantar uma probabilidade de não existência soa mais "simpático" ao crente, lança a dúvida em vez de partir de imediato para a confrontação. Por outro lado o cepticismo baseia-se na ausência de provas ou meros indícios da existência de deus, é uma não crença, e não uma crença na não-crença como poderia sugerir a formulação proposta. O autor erra portanto quando sugere que competiria aos ateus provar a inexistência de deus, não compete. Os ateus limitam-se a constatar a sua inexistência. Competiria, isso sim, a quem apregoa a sua existência, comprova-la, mas não o fazem, pelo que poderiam - seguindo a lógica de Euclides - ser refutados com igual sustentação. Mas se o ateísmo se distingue da superstição precisamente pelo rigor, honestidade, racionalidade e uso do método científico, fica-lhe muito melhor portanto anunciar ao mundo que Deus provavelmente não existe, pelo que o melhor a fazer é deixar de se preocupar com isso e gozar a sua vida ;)

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Antes assim que casados

Adolescentes iranianos enforcados por "crime de práticas homossexuais".
«O observador permanente do Vaticano na Organização das Nações Unidas (ONU), monsenhor Celestino Migliore, afirmou nesta segunda-feira (1) que a Santa Sé é contrária ao projeto de descriminalização da homossexualidade que será proposto pela França, com o apoio da União Européia. De acordo com Migliore, o projeto fará com que alguns países sejam submetidos a “enorme pressão”. (...) Segundo o enviado do papa Bento 16, no entanto, o projeto que a França vai defender na Assembléia Geral da ONU é uma questão diferente, e que, se for adotado, criará “novas e implacáveis discriminações”. Para Migliore, “os Estados que não reconhecem a união entre pessoas do mesmo sexo como ‘casamento’ serão submetidos a pressões internacionais”.»
Pouco importará ao caso que sejam mais de 80 os países onde a homossexualidade é criminalizada (em 9 dos quais com a pena de morte) e que apenas 6 reconheçam o casamento civil entre pessoas do mesmo (sendo que entre eles não se encontra sequer a França, promotora do documento). O ódio, a paranóia e a maldade dos membros desta seita nunca conheceram limites...

Actualização: Até o insuspeito La Stampa considera grotesca a motivação da igreja em colocar-se ao lado de países como o Irão ou a Arábia Saudita, contra uma proposta que recolhe unanimidade na União Europeia. Como lembra Michael Jones, o mau gosto ou requinte de crueldade da igreja vai ao ponto de ter apresentado estas declarações no dia mundial de luta contra a sida, a tal luta que tem na criminalização da homossexualidade um dos seus maiores inimigos.