Trocar o nome dos personagens para avaliar a qualidade da trama
Aparentemente nem toda a gente percebeu a minha troca neste post. Explico-me então. Argumentos há que pela aparente subtileza, pelo apelo aos nossos preconceitos mais inconscientes, nos parecem à primeira vista sensatos, razoáveis, muito diferentes de outros. O truque de trocar os personagens da argumentação, no caso americanos em vez de gays, é óptimo para se avaliar isso mesmo. O mais simples é trocar gay por hetero, mas nem sempre funciona. Hetero é a hegemonia, é invisível pela via da omnipresença, pelo que é fácil dizer que tanto se rejeita um rótulo como outro. Além de que a própria referência a uma orientação sexual tende a sexualizar imediatamente o que lhe rodeia, ao contrário de uma referência à convicção religiosa por exemplo, apesar de toda a gente ter uma e outra. Façamos outra troca:
Definimo-nos e classificamo-nos uns aos outros segundo mil e um critérios, sendo a orientação sexual um deles. E uns e outros fazem mais ou menos sentido referir neste ou naquele contexto. Se falamos de relacionamentos, de família ou casamento, a questão da orientação sexual está sempre presente. Ainda que não explicitada, por presumida - e presume-se sempre a mesma, já se sabe. Daí a importância de se sublinhar que não é essa, quando é o caso, claro está.
«Não existe o “muçulmano”. Existem atos muçulmanos. E atos cristãos. Eu próprio, confesso, sou culpado de praticar os segundos (menos do que gostaria, é certo). E parte da humanidade pratica os primeiros. Mas acreditar que um adjetivo se converte em substantivo é uma forma de moralismo pela via errada. É elevar a religião a condição identitária. Sou como ser humano o que faço na minha igreja. Aberrante, não?»A palermice e hipocrisia deste argumento mil vezes usado, e nem por isso gasto ou fora de moda, fica assim muito mais clara do que estava na versão original. Onde todos os fantasminhas sexuais se uniam para lhe dar alguma credibilidade.
Ou então: «Não existe o “jornalista”. Existem atos jornalísticos. (...) Mas acreditar que um adjetivo se converte em substantivo é uma forma de moralismo pela via errada. É elevar a profissão a condição identitária. Sou como ser humano o que faço no meu emprego. Aberrante, não?»
Definimo-nos e classificamo-nos uns aos outros segundo mil e um critérios, sendo a orientação sexual um deles. E uns e outros fazem mais ou menos sentido referir neste ou naquele contexto. Se falamos de relacionamentos, de família ou casamento, a questão da orientação sexual está sempre presente. Ainda que não explicitada, por presumida - e presume-se sempre a mesma, já se sabe. Daí a importância de se sublinhar que não é essa, quando é o caso, claro está.
5 comentários:
Boss, querido, há quanto tempo não te dizia que és o maior? Há tempo de mais, certamente. Aqui vai então: és o maior!
Há cada maluquinho por aí Boss... umas vezes é relevante outras nem por isso enfim. É conforme a posição que querem marcar.
hmmm....chamaram-me a atenção que...qualquer movimento equalitarista...não pretende afirmar que as pessoas são todas iguais, antes que há um certo campo de desigualdades, que são enunciadas e que se pretendem inaceitáveis.O exemplo dado foi o da anarquia, chefia e estado, nada a ver com política sexual. Foi um bom moove, meteres-te nessa confusão. Diria q @s Homossexuais são tão invisíveis como os heterosexuais não machistas. muitos imbroglios pelo caminho entretanto.
No existen bruxas, pêro que las hay, las hay.
Estamos a jogar com paus de três bicos, objecto surrealista mas de extrema importância. Suponhamos que a recusa em definir alguém exclusivamente a partir da sexualidade é benigna, bem intencionada. Suponhamos que definir “um ser humano” excluindo a sua sexualidade resulta na tese de KRISIS (roswitha scholz) em que o valor é o homem, na sua vertente de racionalidade para o trabalho, e na sua sombra co-relativa não computável de reprodução (reposição) e infância (velhice) mais as variantes papistas de amor DESINTERESSADO. Nenhum animal que não seja uma paramécia pode ser definido sem ter em conta a sua sexualidade: os comportamentos sociais reprodutivos que caucionam a aproximação e confronto dos indivíduos. Tende-se a pensar o reprodutivo como o momento mesmo em que nenhum confronto identitário é possível entre um macho e uma fêmea (ou seja, tão no nik nik), mas o facto é q as hierarquias, o confronto, o catanço, apaziguamento are all pretty much related entre quaisquer dos indivíduos cujas “hormonas” sugiram reconhecimento (cavalos e burros, os cães e as nossas pernas).
Tomar a manifestação LGBT como uma manifestação pornográfica, à qual se deve excluir a infância, é errado. Se bem que sentimos que se devem esquivar as crianças à manifestação pornográfica em si.
A manifestação LGBT remete para os comportamentos sociais reprodutivos, no-me-a-da-men-te, para a denuncia do casal hetero, que FOI historicamente compulsivo pela barreira que era imposta ás mulheres em relação ao “comportamento social do valor” sendo a sua única possibilidade de inscrição vender a sua virgindade à religião ou à religião (ou à economia=putas), e que JÁ NÃO É, mas ainda se age como se fosse. Se não parece ser isto (a manif LGBT) é porque a plataforma de união identitária é a expressão do desmentido vivido no corpo, “se eu amo A porque vou casar com B”? Isto não é a grécia, as mulheres são cidadãs, não há razão mais que OBRIGUE a inseri-nos na troca de famílias. Não há um PORQUE se se entenda como tragédia social iminente ( a tragédia das criadinhas).
A expressão do SEXO na pornografia é a invisibilidade do SEXO no casamento clássico (da cinderela). Na porno qualquer identidade é fingida. Na sociedade não. A identidade expressa alinhamento e confronto com um OUTRO (viveram sem confrontos para sempre, livres daqueles que os ameaçavam). Convenhamos que as putas e os gays andaram e ainda andam a ser ameaçados, e que na sua razoabilidade de cidadãos se pretendem confrontar com o contrato social que já os inclui na sua racionalidade para a produção, na medida em que se tenta rever os contratos sexuais herdados do patriarcado (já não estamos no patriarcado, pois não?) tornando-os iguais a OUTROS contratos possíveis (aí está, a santidade do matrimónio. Infelizmente, os humanos têm tendência a cuspir no que é profanado, mas lá está, é o desencantar daquilo que estava na prateleira de cima).
LGBT é política, é sexo na medida em que o casamento é sexo, a gravidez é sexo, e que o sexo não é um bicho papão que nos OBRIGA a abusar (fantasmas fantasmas, não são os meus!). Numa distopia maluca poderse-iam chamar Internacional Para A Revogação Do Sistema De Casamento E Celibatário Heterosexual Compulsório.
Se alguém achar algo outrageous, risível ou naive neste texto, faça favor. Estou interessada nas invisibilidades no próprio processo da manifestação e identificados LGBT, que acho que foi o trigger do BOSS.
obrigado catarina, fiquei uma rena corada :)
Enviar um comentário