O princípio da mediocridade em Gabriel Olim
Nota prévia: nunca percebi muito bem o tempo que as associações LGBT perdem com a questão do sangue, a meu ver um dos tópicos mais irrelevantes no campo das discriminações. E se a UNICEF deixasse de aceitar dádivas monetárias dos gays? Seria assim tão mau para as nossas existências? Má seria uma discriminação na hora em que precisamos de uma transfusão de sangue. Mas o pior não é isso, o pior é que esta discussão é terreno minado, de onde em geral só se sacam frutos mediáticos enevenenados. Prova disso mesmo a mais recente entrevista do madeirense Gabriel Olim, presidente do Instituto Português do Sangue.
(Já sei, não é nada politicamente correcto salientar que o homem é madeirense, sendo isso - será? - irrelevante para o caso. Mas é o próprio que diz que se dane o politicamente correcto, so what?)
Se dúvidas houvesse de que falamos de alguém intelectualmente muito limitado quando falamos do sr. Olim elas esfumam-se nesta entrevista. Não é preciso ir mais longe que a primeira resposta: «De tal modo que os ingleses publicaram em Março uma resolução para poderem perguntar explicitamente aos possíveis dadores se tiveram sexo anal ou oral com outro homem. E não é por terem nada contra os gays.» Aqui fica claro que 1) O sr. Olim ainda não se apercebeu que há uma diferença entre se ser gay e ter-se sexo desprotegido com homens. E 2) o sr. Olim ainda não percebeu que é exactamente um questionário à inglesa aquilo que as associações LGBT reivindicam para Portugal.
A entrevista prossegue no mesmo tom confuso e desorientado, sendo múltiplas as passagens onde Olim insiste no erro de confundir homossexualidade com comportamentos de risco, e de continuar a não perceber que é essa a sua gaffe. A coisa vai ao ponto de achar uma provocação alguém assumir-se como gay e querer dar sangue, e, simultaneamente, achar que se devem processar os homossexuais que dão sangue sem se identificarem como homossexuais. Confusos? Certamente não mais que Olim.
O pior é que há gente que lê isto e encontra nexo na confusão do senhor doutor, afinal um senhor doutor, pelo que saberá do que fala. E mais uma vez temos a associação da homossexualidade ao HIV, à promiscuidade e ao desinteresse pela saúde pública. Enfim, o caldo homofóbico continua quente.
Quente o suficiente para que, p.ex., todos aqueles homens casados que não se identificam como gays, aos outros ou a si próprios, mas que têm sexo extraconjugal (e possivelmente desprotegido) com outros homens, continuem a usar a dádiva de sangue como método de testar o HIV discretamente. Sem a mariquice de ir a um CAD.
Também faz com que muitos homossexuais saudáveis e que não praticam comportamentos de risco não queiram dar sangue, porque já perceberam que há o risco de lá chegarem e serem maltratados por um idiota qualquer. Perdendo-se boas dádivas.
Pela minha experiência de ex-dador não é isso que acontece. Nunca me foi perguntado se era ou não gay. Perguntaram-me, isso sim e à inglesa, se tive sexo anal ou oral desprotegido. Porque é isso que interessa. Só mais tarde soube, na imprensa, que haveria uma proibição de homossexuais darem sangue, e foi aí que deixei de dar.
Aparentemente o idiota-mor está afinal na presidência do IPS. Algo que vem na linha do que publicava a Spiegel há poucos dias: «Nas organizações globais, a mediocridade é o caminho para o topo». Isto a propósito de Durão Barroso, mas que parece assentar como uma luva no sr. Olim. Afinal onde é que prefeririam encontrar este homem, atrás de uma secretária ou numa urgência hospitalar?
(Já sei, não é nada politicamente correcto salientar que o homem é madeirense, sendo isso - será? - irrelevante para o caso. Mas é o próprio que diz que se dane o politicamente correcto, so what?)
Se dúvidas houvesse de que falamos de alguém intelectualmente muito limitado quando falamos do sr. Olim elas esfumam-se nesta entrevista. Não é preciso ir mais longe que a primeira resposta: «De tal modo que os ingleses publicaram em Março uma resolução para poderem perguntar explicitamente aos possíveis dadores se tiveram sexo anal ou oral com outro homem. E não é por terem nada contra os gays.» Aqui fica claro que 1) O sr. Olim ainda não se apercebeu que há uma diferença entre se ser gay e ter-se sexo desprotegido com homens. E 2) o sr. Olim ainda não percebeu que é exactamente um questionário à inglesa aquilo que as associações LGBT reivindicam para Portugal.
A entrevista prossegue no mesmo tom confuso e desorientado, sendo múltiplas as passagens onde Olim insiste no erro de confundir homossexualidade com comportamentos de risco, e de continuar a não perceber que é essa a sua gaffe. A coisa vai ao ponto de achar uma provocação alguém assumir-se como gay e querer dar sangue, e, simultaneamente, achar que se devem processar os homossexuais que dão sangue sem se identificarem como homossexuais. Confusos? Certamente não mais que Olim.
O pior é que há gente que lê isto e encontra nexo na confusão do senhor doutor, afinal um senhor doutor, pelo que saberá do que fala. E mais uma vez temos a associação da homossexualidade ao HIV, à promiscuidade e ao desinteresse pela saúde pública. Enfim, o caldo homofóbico continua quente.
Quente o suficiente para que, p.ex., todos aqueles homens casados que não se identificam como gays, aos outros ou a si próprios, mas que têm sexo extraconjugal (e possivelmente desprotegido) com outros homens, continuem a usar a dádiva de sangue como método de testar o HIV discretamente. Sem a mariquice de ir a um CAD.
Também faz com que muitos homossexuais saudáveis e que não praticam comportamentos de risco não queiram dar sangue, porque já perceberam que há o risco de lá chegarem e serem maltratados por um idiota qualquer. Perdendo-se boas dádivas.
Pela minha experiência de ex-dador não é isso que acontece. Nunca me foi perguntado se era ou não gay. Perguntaram-me, isso sim e à inglesa, se tive sexo anal ou oral desprotegido. Porque é isso que interessa. Só mais tarde soube, na imprensa, que haveria uma proibição de homossexuais darem sangue, e foi aí que deixei de dar.
Aparentemente o idiota-mor está afinal na presidência do IPS. Algo que vem na linha do que publicava a Spiegel há poucos dias: «Nas organizações globais, a mediocridade é o caminho para o topo». Isto a propósito de Durão Barroso, mas que parece assentar como uma luva no sr. Olim. Afinal onde é que prefeririam encontrar este homem, atrás de uma secretária ou numa urgência hospitalar?
4 comentários:
Boa. è sempre bom cada retorno seu.
A importância deste assunto, como de muitos outros envolvendo questões LGBT, é que se os próprios organismos públicos praticam a discriminação de indivíduos baseada na sua orientação sexual...então, mais difícil fica de fazer essa "revolução" na sociedade civil.
Repare-se que se o Estado reconhecer o casamento entre indivíduos do mesmo sexo, não significa que os grunhos deixem de o ser. A única diferença é que a grunhice deixo de ser política de Estado e que, legalmente, haverá penalizações para acções homofóbicas que no passado tiveram mão leve.
Não se muda a sociedade de repente com legislação razoável, mas ajuda e dificulta bastante uma agenda homofóbica com efeitos práticos negativos sobre quem tem opções sexuais homossexuais.
Bom dia,
Descobrindo seu blog. Gostei da abordagem que fez acerca da doação de sangue. Concordo com sua visão da questão. Não deixa de ser homofóbico e idiota o vetar a doação, quando se explicita o fato de "ser gay", mas realmente são hipócritas ao aceitar tantas doações "veladas" oriundas de pessoas que não se assumem, possuem um comportamento de risco muito mais real do que aquele atribuído à "comunidade gay", e disfarçam-se perante um rótulo de hétero-cidadão...
Um abraço! Voltarei mais vezes.
Perfeito, este post.
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