quinta-feira, dezembro 17, 2009

Palermice derramada ou o activismo de quinta das Panteras Rosa

Hoje o conselho de ministros aprovou a proposta de lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo. É um dia histórico para o movimento LGBT, nao sou só eu que o digo, a ILGA Portugal nao hesita em usar o mesmo adjectivo. Naturalmente, sendo esta a associacäo que mais trabalhou por este resultado, este é um dia muito especial para a ILGA e seus associados.

Lamentavelmente, outros grupos, que pouco ou nada fizeram por esta luta, e até a boicotaram em vários momentos, surgem hoje, quais ovelhas ranhosas e ressabiadas, a querer manchar um dia que além de histórico é lindo.

Um desses grupos, ligado a um partido político, prefere fazer de um dia de festa mais uma oportunidade para atacar o PS: O motivo, alegam, é a nao legalizacao simultanea da adopcao de criancas por casais de pessoas do mesmo sexo. Como se o casamento fosse dependente da parentalidade ou vice-versa. Vários países do mundo legalizaram a adopcao sem o casamento, e países como a Bélgica avancaram com o casamento, e so anos depois com a adopcao.

É óbvio que ambos sao objectivos do movimento LGBT - aquele que luta pelos direitos de gays e lésbicas e nao por interesses ou agendas partidarias - mas conseguir um antes do outro de forma alguma implica um "casamento de segunda", nem justifica um ataque sujo de quem nada fez por esta conquista.

O argumento é tanto mais falso quando pensamos no silencio deste mesmo grupo aquando da apresentacao da proposta de lei desse outro partido sobre procriacao medicamente assistida, que, contrariando promessas eleitorais, deixou de lado as lésbicas, e nem por isso se ouviu algum rugido.

Mais hilariante ainda é a alegacao de que quem lutou por esta conquista constitui um "sector minoritário dentro do movimento LGBT". Antes de se fazerem alegacoes deste tipo seria importante fazer alguma contagem de espingardas e apresentar números. Mas uma das vantagens de näo se ser uma associacao organizada é mesmo essa, consegue-se a mesma atencao por parte dos média, e o número de sócios é o que nos apetecer imaginar.

Bom, näo seräo estas palermices, denunciadoras de muita dor de cotovelo mais do que de outra coisa qualquer, a estragar este dia. É mesmo um dia lindo. Obrigado a todos os que lutaram por ele.

PS: Nem de propósito o dia ficou ainda mais bonito quando foi conhecida a decisäo do tribunal de Oliveira de Azeméis, que pos o interesse de duas criancas à frente do preconceito. Vale a pena ser optimista.

9 comentários:

Siona disse...

Ui! Vê lá, Boss.

Alguém ainda pode passar o teu post para uma mailing qualquer sem a tua autorização, para se retratar como virgem ofendida (quando não se tem trabalho sério, os ad-hominems e vitimizações histéricas dão jeito para aceder ao protagonismo), e começas a receber comentários e emails com insultos (LGBT-fóbicos, ainda por cima) e ameaças várias.

Já passei por isso, e quem entender fazê-lo, se nada mais de útil tiver para fazer com o seu tempo, esteja à vontade para repetir figuras tristes. Só uma nota: não sou um "p*neleiro br*chista", [sic] mas uma "p*neleira m*netista" (se quiserem um neologismo). Obviamente nada de mal em sê-lo, claro, mas se me quiserem ofender ao menos não apaguem a minha identidade.

Siona disse...

E ainda bem que aconteceu, e parabéns à ILGA Portugal, sim! ;)

bossito disse...

Obrigado.

Entretanto parece que estes activistas anti-casamento andam a mover os seus cordelinhos no BE: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1450304

Seria importante que enviássemos, p.ex. via twitter como já fiz, pedidos de esclarecimento ao BE. A ver se percebem que uma nova traicao do BE aos eleitores gays e lésbicas lhes vai custar muito caro! E que näo há justificacao possivel pra se absterem ao casamento com a desculpa esfarrapada da adopcao, qdo o BE propos uma lei sobre PMA nao teve problemas em excluir as lésbicas, se se abstem no casamento é por pura falta de palavra e respeito pelos eleitores gays e lesbicas, enfim, por pura e torpe homofobia.

sérgio vitorino disse...

lol
sobre o alegado silêncio das panteras rosa quanto à discriminação das mulheres solteiras na lei de PMA's, limito-me a deixar o link para a posição tomada na altura: http://www.publico.clix.pt/Pol%C3%ADtica/panteras-rosa-contra-discriminacao-imbecil-da-lei-de-reproducao-medicamente-assistida_1258361

sérgio vitorino disse...

E sobre as restantes acusações, a mim parece-me é que o boss, tal como a ILGA, tem alguma dificuldade em conceber que há no movimento LGBT uma diversidade de estratégias relativamente a esta questão. A posição que temos assumido visa que o processo de aprovação do casamento civil não termine de forma que deixe o movimento numa péssima posição para introduzir os debates da adopção e da parentalidade. E a verdade é que neste momento essa vertente do debate dos direitos familiares está introduzida no debate público, graças à nossa intervenção.
Mas não percebo o escândalo: basta ler as declarações do presidente da ILGA nos últimos dois dias para se perceber que está a dizer o mesmo que nós, i.e., que casamento e adopção não têm uma hierarquia de importância entre si, e que deviam ser legisladas em conjunto, posição que é, aliás, referida pelo Miguel Vale de Almeida no seu blog como "a solução espanhola, a que seria a mais desejável". A única diferença é que da parte da ILGA e do Miguel estas posições não têm sido coerentes com a forma como negociaram a coisa com o PS.
Última nota: as panteras rosa não estão ligadas ao Bloco de Esquerda. E eu, que já fui militante do BE, também não o estou.

José Carlos Tavares disse...

Meu caro
Muito antes da ILGA existir e mesmo quando existiu já havia o primeiro grupo LGB mais tarde também T cujo nome era grupo de trabalho homossexual que defendia o casamento para quem por ele quisesse passar assim como o direito à adopção e inseminação artificial.Vocês podem crer rescrever a história como quiserem e bem entenderem mas os arquivos da imprensa escrita e dos 4 canais de televisão servem para preservar a verdade da história do inicio do que veio a ser movimento LGBT.Lembro que num colóquio realizado por este grupo no Padrão dos descobrimentos tivemos com o João Nabais toda uma exposição das discriminações legais e destas constava o casamento.É certo que a ILGA protagonizou mais esta temática deixando outras para trás como a questão da parentalidade e que retomou agora pedindo que se escreva email aos deputados.Lembro que esta questão era assunto tabu nem sequer deveríamos falar dela.Lembro que todas as associações e colectivos foram importantes para esta questão mas lembrando que o casamento não é a única forma relacional.Lembro que a Teresa e a companheira com todas as batalhas que tiveram e com a sua exposição publica foram se calhar mais importantes para relançar todo este debate na sociedade para não falar do Elton John com toda a sua projecção mediática entre muitos outros casos.

José Carlos Tavares disse...

M.V.Almeida disse:"Ao JN disse... uma reivindicação há tanto tempo brandida" pelas associações de defesa dos direitos dos homossexuais."E é verdade todos os activistas são contra todas as discriminações legais como o não acesso ao casamento mas por favor não falem em lgbtfóbicos por se mostrar que existem outras formas relacionais para além do casamento.
E não ignorem as famílias lgbt e as suas crianças!

José Carlos Tavares disse...

Quando conseguimos o reconhecimento das uniões de facto porquê que os activistas foram para a frente de uma conservatória junto à Rua da Rosa em Lisboa e houve um beijo trocado por Manuel Morais e Sérgio Vitorino e Fabiola e Ana! O que estava subjacente nesta atitude?

Unknown disse...

Caro Boss,
Estive a ler atentamente o seu blog e encontrei várias dissonâncias. Não entendi esta defesa irracional e acrítica do actual partido do governo e o ataque igualmente acrítico em relação a outras organizações, sejam partidos ou outros.
Dou como exemplo o artigo do JN que cita no último comentário. Esse artigo começa com a frase "Bloquistas estão descontentes com "discriminações" à adopção por casais do mesmo sexo."
Aconselho-o a repensar as suas opiniões de forma a poderem ser entendidas como mais amadurecidas.
Outra sugestão para este blog se tornar mais credível é a de que deve rever o seu processo de moderação de forma a que não seja comparada a "censura".
Com os melhores cumprimentos,