terça-feira, setembro 04, 2007

Imbecilidade do dia

«A partir de hoje, os jardins-escolas galegos dão as aulas só em galego. Também se vai ensinar um "hino galego" de um nacionalismo extremo. Composto por um poeta do séc. XIX, o hino galego, enxotando os castelhanos, canta: "Sós os imbecis e obscuros/ não nos entendem." Picardias nacionalistas, que quase todos os povos têm, e que não trazem grande mal ao mundo. Ou trazem mas não é isso que aqui me traz, mas outro mal, esse, evidente. Esta deriva galega integra-se no menosprezo de uma das grandes línguas mundiais, o espanhol, que já deixou de ser ensinada como devia na Catalunha e no País Basco, e, agora, deixará também na Galiza. Vão perder os miúdos galegos, como já perdem os bascos e catalães. Tal como os miúdos cabo-verdianos perdem por não aprender o português, mas o crioulo. Não falo, claro, na nobreza das línguas (todas são nobres). Falo da I Divisão Mundial das Línguas, onde estão o português e o espanhol. E não estão as outras nobres línguas aqui referidas.» [via]
Em itálico as informações objectivamente falsas. A pérola é de Ferreira Fernandes no Diário de Notícias, que parece esquecer a origem anti-britânica do hino português ou a marcha suicida com que termina. E fica sem explicar porque raio nos havemos de continuar a prejudicar falando e ensinando português nas escolas (ainda por cima nem sequer na sua variante mais falada, a brasileira), com o inglês universal aí à mão de semear... ou pelo menos o espanhol, tão mais falado e internacional. Mas pronto, os tachos na imprensa tuga obrigam apenas a teclar um número mínimo de caracteres, é irrelevante se as informações são verdadeiras ou se a argumentação tenha qualquer ponta por onde se lhe pegue...

5 comentários:

Fer disse...

Também podias ponher em itálica o do hino :P Outra mentira criada polo espanholismo.
A estrofa original de Pondal:

Os boos e generosos,
A nosa voz entenden;
E con arroubo atenden,
O noso rouco son;
Mas, sós os ignorantes,
E férridos e duros,
Imbéciles e escuros
No-nos entenden, non.

Dos castelans rem de rem...

bossito disse...

Já o imaginava, mas ontem não tive tempo de confirmar, obrigado! ;)

marga disse...

onde chega a ignorância e a má fé!....
e, com tanta javardice, não resisto a transcrever um poema de Celso Emilio Ferreiro que diz alguma coisa dos Galegos e da sua língua...

Deitado frente ao mar
( da obra "Longa Noite de pedra" )

Lingoa proletaria do meu pobo
eu fáloa porque sí, porque me gosta,
porque me peta e quero e dame a gaña
porque me sai de dentro, alá do fondo
dunha tristura aceda que me abrangue
ao ver tantos patufos desleigados,
pequenos mequetrefes sin raíces
que ao pór a garabata xa non saben
afirmarse no amor dos devanceiros,
falar a fala nai,
a fala dos abós que temos mortos,
e ser, co rostro erguido,
mariñeiros, labregos do lingoaxe,
remo i arado, proa e rella sempre.

Eu fáloa porque sí, porque me gosta
e quero estar cos meus, coa xente miña,
perto dos homes bos que sofren longo
unha historia contada noutra lingoa.

Non falo pra os soberbios,
non falo pra os ruís e poderosos
non falo pra os finchados,
non falo pra os estúpidos,
non falo pra os valeiros,
que falo pra os que agoantan rexamente
mentiras e inxusticias de cotío;
pra os que súan e choran
un pranto cotidián de volvoretas,
de lume e vento sobre os ollos núos.
Eu non podo arredar as miñas verbas
de tódolos que sofren neste mundo.

E ti vives no mundo, terra miña,
berce da miña estirpe,
Galicia, doce mágoa das Españas,
deitada rente ao mar, ise camiño...

e, alguns excertos de "Sempre em Galiza" de Alfonso Castelao, 1886-1950 :

<< Somos tan galegos hoxe como éramos no século XV, antes de sermos asoballados polos "Reis Católicos". >>

<< os galegos tiñan unha cultura anterior e superior á de Castela, e contaban con institucións foraes que concedían aos labregos un comezo de propiedade >>

<< O galego é a forma máis antiga das linguas neolatinas de Hespaña e a primeira que alcanzou un pleno desenrolo literario. >>

<< ¿Con que dereito se nos obriga a deprendermos a lingua de Castela e non se obriga aos casteláns a deprenderen a nosa? >>

Isto tudo, porque
GALIZA VIVE EM NÓS!

Salazar disse...

Não li nada que me faça crer em má fé do autor.

Tirando a "incorrecção" do "enxotando os castelhanos" o texto é uma opinião do autor, perfeitamente válida, e deve ter mais vergonha quem o ataca pessoalmente, só por não concordar ou por ter preconceitos opostos, neste caso, preconceitos pró-galegos, do que o autor, por exercer a sua liberdade de expressão.

Lucense disse...

ESTULTÍCIAS CONTRA GALIZA

Como galego queria manifestar a minha indignação polas manifestações vertidas polo senhor Ferreira Fernandes no seu artigo do passado dia 3 sob o título "Modernices filhas de reaccionários".
Seria interminável comentar em poucas linhas os muitos exemplos de ignorância sobre a realidade de Galiza que nesse artigo se podem ver. Mas é suficiente com o desejo que parece ter este senhor no que diz respeito à desaparição da nossa Língua de Galiza e a sua substituição polo castelhano. Uma pessoa que ataca desta maneira a sua própria cultura e as suas raizes já está a dizer muito de si própria ( e nada bom, na verdade)
O hino de Galiza di "só os imbecis e escuros não nos entendem" e não o que o senhor Ferreira Fernandes transcreve: e no século XIX isso queria dizer que só pessoas de má fé e ignorantes podiam rejeitar os desejos de regenerar Galiza e as suas demandas de um melhor trato por parte do governo de Madrid...estamos já no século XXI e para alguns pouco mudou.
Também comentar para corrigir a desinformação do citado senhor que, nas provas de acesso à Universidade, os resultados na matéria de Língua Castelhana alcançados polo alunado de Catalunha e do País Basco são muito melhores que os do alunado de Madrid...talvez polo elevado nível de desenvolvimento cultural e educativo dessas duas nações orgulhosas de conservar o seu acervo próprio e de potenciar as suas Línguas e Culturas
Por último, que dizer da sua grosseira comparação da nossa Língua com um crioulo? Crioulo de que idioma, senhor Ferreira Fernandes, ou talvez preferiria chamar-se Herrera Hernández?
Enfim, ficaria muito por comentar mas chegue o anterior para exemplo e evidência do que pode ser a ignorância e de quão absurdas podem ser as conclusões nela alicerçadas.
Bieito Seivane Tápia - Docente de Ensino Secundário
Viana do Bolo (GALIZA)
bieitoseivane@iol.pt