Castedo hits the news
É o furo noticioso da semana, já lidera o top do Sapo. A série de telefonemas do e para o INEM a propósito de uma vítima de uma queda em Castedo, Alijó, Trás-os-Montes, que a SIC exibiu nos seus noticiários. Enorme indignação com as falhas e demoras na assistência um pouco por todos os média, blogs incluídos. Mas dois curiosos pormenorzinhos não parecem merecer atenção entre os indignados: 1) a vítima, de acordo com os familiares que ligaram para o 112, já estava morta e 2) será normal que telefonemas desta natureza sejam exibidos na praça pública? Será que as pessoas que falam nos ditos deram autorização à SIC para que exibisse as suas conversas? É isto decente?
Por certo que há falhas nos serviços de emergência em muitos locais do país, sobretudo os menos habitados, e por certo que é assunto para merecer toda a nossa atenção e indignação. Mas e o respeito pela privacidade alheia? Perdeu-se por completo na era da reality tv? Se calhar sou eu que estou a ficar um prude, mas para mim este tipo de jornalismo é absolutamente sick. Não é com voyeurismos oportunistas que chegamos a um bom retrato do estado do SNS a nível nacional, nem na hipermediatização de casos que há uns meses atrás não chegariam sequer ao jornal local por não interessarem a determinadas agendas. Sick, sick, sick.
Por certo que há falhas nos serviços de emergência em muitos locais do país, sobretudo os menos habitados, e por certo que é assunto para merecer toda a nossa atenção e indignação. Mas e o respeito pela privacidade alheia? Perdeu-se por completo na era da reality tv? Se calhar sou eu que estou a ficar um prude, mas para mim este tipo de jornalismo é absolutamente sick. Não é com voyeurismos oportunistas que chegamos a um bom retrato do estado do SNS a nível nacional, nem na hipermediatização de casos que há uns meses atrás não chegariam sequer ao jornal local por não interessarem a determinadas agendas. Sick, sick, sick.
7 comentários:
Completamente de acordo. Isto não é criticar os serviços de forma séria, é caricaturá-los de forma grosseira. Isto não leva a nada, não ajuda ninguém. É um nojo.
Quanto aos pequenos pormenores:
1) Creio que a conversa mantida entre a operadora do INEM e o irmão do acidentado foi de tal forma desconexa que não seria possível saber se o indivíduo já estaria morto ou não. Assim, apesar de, em retrospectiva, tudo indicar que houve morte imediata , a operadora teria de ter tratado o caso como se houvesse necessidade de socorro urgente Logo, para a discussão do assunto, é irrelevante se a vítima estava já morta ou não.
2) Não sabemos se foi dada autorização ou não para a transmissão daquela conversa, embora me pareça claro que não foram tomadas as providências necessárias para resguardar a intimidade e vida privada da família que ligou para o 112. Mas isso é uma matéria entre a família e os órgão de comunicação social. Os órgãos de informação mostraram este vídeo para expôr as fragilidades do sistema de emergência médica em portugal: colocar questões em relação à formação e meios ao dispôr dos actores desse sistema, e fizeram-no de uma forma absolutamente eloquente com este caso. Poder-se-á arguir que não se pode generalizar este caso, extrapolando de forma a dar o panorama geral do sistema; mas basta ver as reportagens da SIC no CADU no ano novo para perceber que as pessoas que atendem aqueles telefones não têm o mínimo de formação para lidar com pessoas e basta juntar algumas experiências pessoais para saber que sistematicamente os operadores vão querer saber de que freguesia e concelho se está a ligar (e vão insistir fanaticamente na questão da freguesia, mesmo que estejamos a ligar de um grande centro urbano onde pouca gente conhece as fronteiras das divisões administrativas) antes de querer saber do que se passa.
Existe algum voyeurismo neste caso: sim, é algo humano e inescapável.
Esse voyeurismo é gratuito e fútil: não, é uma chamada de atenção para uma situação insustentável, que requer uma resposta política adequada.
Em suma, creio que foi prestado um serviço com a divulgação desta gravação, mesmo que a identidade dos actores devesse ter sido resguardada, e não me parece que isto configure um jornalisto "sick".
lá diz o povo, quanto mais batemos no fundo mais ele desce. e por estes dias nada é pior do que ver uma sic(k) empenhada em recuperar lugares no pódium das audiências.
A questão aqui é muito simples. O que está a dar hoje em dia é bater no ministro da saúde e qualquer coisinha serve para tal.
A sic está a tentar descer ao nível da tvi no sensacionalismo e, por este caminho, vai conseguir!
Acho vergonhoso!
Sinceramente não entendo esta posição generalizada acerca do carácter sensacionalista da notícia avançada pela SIC.
A notícia é ou não reveladora das falhas do sistema de emergência, pelo menos em regiões remotas? A notícia suscita ou não reflexão acerca das condições de trabalho das pessoas envolvidas no sistema de socorro médico? O debate e a discussão que resulta daqui pode ou não ajudar a discutir estas matérias?
Não confundamos jornalismo provocador, capaz de motivar o debate público com sensacionalismo estéril.
Haverá com certeza muitas instâncias em que a SIC ou outros órgãos de informação terão sido sensacionalistas, mas não no caso presente.
O problema Nuno é que a notícia não é uma notícia. Na melhor das hipóteses, e com uma enorme benevolência, é um post. A SIC agiu como um blogger. Perante uma informação em bruto, em vez de a trabalhar, recolher mais informações e ter sentido ético, construindo, então sim, uma notícia. Apresentou logo o telefonema. Que é a parte menos relevante da estória.
Preocupante sim é a aparente indisponibilidade de algumas corporações de bombeiros em realizarem determinadas operações durante a noite. Era isso que devia ser notícia, e era isso que devia ter sido aprofundado. A SIC ficou-se pelo big brother, pelo show off. Porque, como diz o João, hoje em dia qualquer coisa serve para bater no ministro da saúde e a pressa é essa.
Quanto ao resto convém não esquecer que o 112 recebe dezenas de chamadas falsas todos os dias. O irmão da vítima chega a dizer que não vale a pena chamar a ambulância, basta a GNR. Quem pede socorro tem também responsabilidades de ser claro. Não cabe ao 112 adivinhar as situações.
As pessoas que estão do outro lado da linha não são heróis de cinema prontos a saírem disparados e com olhar ansioso ao primeiro grito de socorro, são pessoas normais que recebem dezenas de telefonemas deste tipo todos os dias.
As eventuais falhas na assistência telefónica deste caso devem ser analisadas por quem tem competência para isso e em sede própria. É por isso que todos os telefonemas são gravados. Mas não é, certamente, para expô-los em praça pública sem mais nem porquê. Nada neste caso justifica isto. É sensacionalismo demagógico do pior.
Eu por mim falo!
Deixei de ver a SIC
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