Então isto agora não era tudo dos brasileiros?
«Portugal terá primeiros dicionários com regras do acordo ortográficoLê-se no Folha de São Paulo, em ortografia pré-acordo, para horror do analfabetismo-patriota que tem enchido as caixas de comentários de notícias sobre o acordo ortográfico (exemplo) com os comentários mais tontos e desinformados. Afinal os primeiros dicionários de acordo com o acordo até serão portugueses, da Texto Editora, agora propriedade do Grupo Leya.
Na seqüência da aprovação da ratificação do segundo protocolo modificativo do acordo ortográfico pelo governo português, na quinta-feira passada, a Texto Editores lança, na próxima sexta, dois dicionários e um guia já com as alterações previstas no idioma.
Segundo informação divulgada nesta segunda-feira pela editora portuguesa, as edições - que, por ora, serão lançadas apenas em Portugal - "visam dar a conhecer as alterações introduzidas pelo acordo ortográfico de 1990".»
Imagino o horror e a dificuldade que terá sido retirar uns Ps e uns Cs a meia dúzia de entradas do dicionário para que pudesse estar de acordo com esta reformazinha simbólica. Claro que isto não passa de um belo golpe de marketing, mas dado o contexto em que surge, de editores histéricos e tresloucados com a aplicação do acordo e governo com medo de agir, temos mais é que aplaudir a iniciativa. E já agora, publicidade de borla para os novos dicionários e ainda o "Atual", uma explicação do acordo ortográfico.
Resumo explicativo: 4,41€
Claro que quem já tem um bom dicionário precisará, quanto muito, comprar a última obra, para esclarecer qualquer dúvida, é o que eu tenciono fazer. O meu Porto Editora com mais de 10 anos tem servido perfeitamente, e assim continuará.
Adenda: «Novo dicionário da Língua Portuguesa» - Reportagem da RTP.
Adenda: «Novo dicionário da Língua Portuguesa» - Reportagem da RTP.
10 comentários:
Para mim, a actualização está feita há muitos anos.
Recuso-me a escrever em brasileiro.
Não sendo nada patriótico em outros assuntos, esta é uma coisa que mexe comigo.
Acho esta cedência ao facilitismo uma coisa tipicamente tuga, com tudo o que isso tem de mau. Em suma, uma cretinice total!
João, por favor decida-se, então isto é um brasileirismo ou um facilitismo tipicamente tuga?
E para um brasileiro, escrever "sequência" em vez de "seqüência" será o quê? Um portuguesismo ou um facilitismo tipicamente brazuca?
Não me leve a mal, mas para mim cretinice total é comentar um assunto com base em preconceitos e informações erradas. Se não sabe o que é o Acordo Ortográfico, porque, como e quando foi ACORDADO (e não imposto a quem quer que fosse), não adivinhe, vá ler, informar-se. Poupe-se a estas figuras.
Boss, não estou habituado a descer ao nível do insulto pessoal para discutir assuntos que considero importantes.
Quando quiseres (ou conseguires) discutir algo civilizadamente, terei todo o gosto.
Errr... fuja à vontade João, mas não me culpe por usar uma expressão trazida por si ;)
Confesso que tenho alguns anti-corpos em relação a esta atualização... mas pergunto-me como terá sido kuando decidiram deixar de ter pharmacias? facilitismo? kretinices?
Agora mais a sério... as alterações que encontrei até agora parecem-me perfeitamente lógicas e eliminam uma série de verdadeiras cretinices que existiam na nossa grafia.
Leio este blog há vários anos (se não me engano terei deixado apenas 1 ou 2 comentários ao longo desse tempo) e concordo quase sempre com aquilo que escreves. Esta questão do acordo ortográfico é uma das pouquíssimas excepções. Começo por sublinhar que, no meu caso específico (e embora admita que esta seja possivelmente a principal motivação dos "anti-acordo"), não se trata de preconceito; nasci no Brasil, vivo em Portugal desde pequena, mãe brasileira, pai português criado no Brasil, dois passaportes - mais isenta não poderia ser. Até conservo resquícios de sotaque brasileiro quando falo com os meus pais. Mas esta questão do acordo faz-me alguma impressão... Em primeiro lugar porque não acho que as diferenças ortográficas causem o mínimo problema de entendimento entre lusófonos de diferentes partes do globo. Em segundo lugar porque acho que as diferenças nas várias "versões" do português (ou, por outras palavras, a forma como o português evoluiu nas diferentes regiões), mais não são do que reflexos do próprio povo e da sua forma de viver a língua, pelo que não vejo sentido em eliminá-las artificialmente. E sim, a meu ver a mudança é imposta - apesar de acordada pelos governos dos países, é imposta a cada um de nós.
É verdade que o acordo vem simplificar a ortografia do português, mas isso não me parece justificação plausível. Não sou propriamente especialista, mas já tive contacto (superficial na maioria dos casos) com várias línguas de várias famílias e a única que conheci até hoje em que existe correspondência total entre a grafia e a fonética é mesmo o esperanto, uma língua artificial. Não percebo essa necessidade de "artificializar" o português.
Sei também que não é a primeira vez que se fazem revisões ortográficas (a pharmácia é o exemplo clássico), mas das outras vezes eu não estava por cá - se estivesse talvez também tivesse questionado a sua pertinência :o) Diz-se que a inexistência de um padrão ortográfico prejudica a expansão do português a não-nativos, mas a comparação é tentadora: as diferenças ortográficas, por exemplo, entre o inglês britânico e o inglês americano em nada dificultaram a sua ascenção ao estatuto de língua universal. É verdade que estou, de alguma forma, a falar do que não sei, já que nada percebo de linguística, mas como alguém que utiliza a língua portuguesa, como membro da opinião pública (cujo apanágio é, de facto, falar do que não sabe... lol) o acordo parece-me desnecessário e até mesmo prejudicial à língua, porque a variedade (ortográfica, fonética e vocabular) do português é, para mim, uma das suas maiores riquezas.
Já percebi que defendes o acordo de forma apaixonada - aliás, acho que nunca te vi neste blog a defender o que quer que fosse de outra maneira - mas ainda não conegui perceber o que vês de tão apelativo nele.
Cumprimentos e parabéns pelo blog!
Olá Fernanda, muito obrigado pelo comentário. E for the record, eu também não sou linguista, pelo que estamos igualmente habilitados para falar sobre isto ;)
Ora por partes: qualquer norma ortográfica é-nos imposta, e tem mesmo que ser assim. Se cada um escrevesse como entendesse, e de forma a fazer corresponder a grafia e a fonética só em Portugal teríamos umas 5 ou 6 línguas, pelo menos! A tal imposição (eu prefiro normalização) garante precisamente que pessoas com falares muito diversos se entendam na comunicação escrita, talvez melhor que na falada. Não é por acaso que se vêem tantos açorianos e transmontanos legendados na tv portuguesa.
E este acordo não visa fazer essa correspondência entre grafia e fonética. Nem acaba com a diversidade da grafia (facto/fato; autónomo/autônomo, mantêm-se). É na verdade uma reforma muito ténue, das mais ténues que foram feitas nos últimos 100 anos. É por isso que as resistências ao mesmo me irritam tanto, sobretudo tendo em conta a motivação xenófoba/nacionalista por trás de quase todas.
As razões pelas quais sou tão favorável ao dito acordo, apesar de ir muito menos longe do que o que eu iria se fosse eu "a mandar" são:
- Este acordo corrige um erro, um erro que foi português. Quando Portugal avançou com a reforma de 1911 sem negociar com o Brasil, até então a grafia estava perfeitamente unificada.
- Apesar de ténue o acordo avança com simplificações que fazem sentido.
- O acordo reaproxima, e sobretudo aponta a direcção certa. Sou o primeiro a concordar que há coisas bem mais importantes e eficazes que o acordo no que concerne à unificação e promoção da língua. Mas se nem este tão ténue passo conseguimos dar, como faremos o resto?
- De forma alguma defendo, e ainda menos o acordo, que passemos a falar todos da mesma maneira, nem sequer a escrever da mesma forma. Sou o primeiro a defender que a televisão pública portuguesa devia ter jornalistas que não tivessem vergonha de usar o seu sotaque regional, p.ex.. Termos uma grafia igual à do Brasil tornará mais evidente até, que é possível e igualmente correcto escrever da mesma forma uma palavra e pronuncia-la de várias formas diferentes.
- Mesmo com a aplicação do acordo a diversidade ortográfica entre o português do Brasil e de Portugal continuará a ser maior que a do inglês dos Estados Unidos e o da Inglaterra. As situações não são comparáveis. De todas as grandes línguas europeias, as faladas na América e Europa, o português é de longe a que mais se diferenciou num e noutro lado do Atlântico.
- A diversidade é uma riqueza da língua, mas quando artificialmente imposta transforma-se em perigo. E é tão artificialmente imposta a grafia deste acordo como as anteriores, mas só as anteriores dividiam, esta unifica.
- Como disse antes, o acordo é só um passinho na direcção certa. A direcção/direção que permitirá que esta ferramenta que é o português, e por mero acaso a nossa língua materna, atinja todo o seu potencial de valorização, que é imenso. Se há língua subvalorizada no mundo, é a nossa. Todos temos a ganhar com a sua valorização, portugueses, brasileiros e africanos. Mudar de hábitos é sempre complicado, mas muitas vezes compensa.
PS: Eu próprio ainda não escrevo na grafia segundo o acordo, começo a fazê-lo mal compre e leia o livrinho "Atual", a ver se não cometo nenhuma gafe grave.
PPS: E alimento a esperança ingénua de que o acordo sirva para acabar com algumas dessas versões "português de Portugal" e "português do Brasil" que se vêem em mil sites e programas de computador.. é um dos meus passatempos tentar achar as diferenças. Suponho que dos tradutores também, "como é que escrevo isto de outra maneira?"... baaah.
PPPS: bem sei que também há alguns casos de versões para Inglês UK e USA, e espanhol da Espanha e América do Sul, mas não comparem.. para qualquer site multilingue há sempre versões para o PT-PT e PT-BR, a Wikipédia é uma solitária excepção, e curiosamente um dos casos onde, pelos textos longos e vocabulário muito diversificado, seria mais fácil argumentar a divisão...
Olá Boss! Tens razão ao afirmar que qualquer norma é imposta, mas naturalmente sente-se mais essa imposição quando há mudança. E como a mudança me parece desnecessária, a imposição custa um bocadinho. É que, se o objectivo é tornar o português escrito mais uniforme, unificar a ortografia (que mesmo assim, como disseste, não ficará totalmente unificada) parece ser tapar o sol com a peneira, tendo em conta as diferenças (e isto pensando apenas na língua escrita) em termos de vocabulário, gramática (sobretudo a colocação dos pronomes) e uso da língua (por exemplo, a utilização do "você" na maior parte do Brasil contra o "tu" de Portugal). Se tudo isto (e também a pronúncia) continuará diferente (e impossível de alterar por decreto), para quê forçar mais de duzentos milhões de pessoas a mudar de hábitos (falou a costela reaccionária - felizmente muito pequena!) para obter um efeito de aproximação tão residual?
A meu ver, o tal primeiro passo para que o português consiga realizar o seu potencial passaria mais pela aceitação do que pela modificação. Bastaria que ambas as versões de cada uma das palavras em questão fosse aceite em qualquer país lusófono e estava a questão da ortografia resolvida. Também seria importante haver uma maior troca de influências, maior exposição das versões da língua portuguesa umas às outras (e não apenas de Portugal e do Brasil). E maior aceitação também dos diferentes sotaques e pronúncias. Tal como tu, acho inadmissível que qualquer pessoa que queira fazer carreira na rádio ou tv tenha que dissimular a sua pronúncia regional (a de Lisboa é a única aceite). Até mesmo num call centre onde tive o desprazer de trabalhar nos foi dito que pessoas com sotaque regional e brasileiros não poderiam trabalhar ali (!!!). Enquanto a mentalidade for esta será complicado elevar a língua portuguesa ao estatuto que ela pode atingir.
Enfim, resumindo e concluindo, acho que a chave estaria em abraçar a diversidade em vez de a eliminar, como faz o acordo (embora de forma muito leve). Mas embora continue a discordar do acordo, pelo menos já percebo a posição de quem o defende. :o) E confesso que quase viro de lado quando vejo que a principal (quando não única) motivação daqueles que se opõem é xenófoba... Se calhar uma demonstração de que a história de "abraçar a diversidade" é muito bonita na teoria mas na prática a única forma é mesmo a imposição das mudanças...
Fernanda, concordo inteiramente que a única forma do português atingir o seu potencial é a sua diversidade ser abraçada por todos os lusófonos.
A nossa única discordância está então na importância e utilidade do acordo. Como disse antes eu considero-o um "passinho" apenas, mas um passinho muito significativo. Vou-me repetir um pouco, mas insisto, o acordo só unifica a grafia daquilo que é foneticamente igual, "ação" e "acção" diz-se de igual maneira dos dois lados. A diferença ortográfica, quando não tem nenhuma outra justificação que a do hábito, é apenas um entrave, por pequeno que seja, ao bom fluir da informação na língua... e é algo tão superficial.. não me parece que haja qualquer perda de real e enriquecedora diversidade. Nós até podíamos trocar o alfabeto latino pelo grego ou pelo cirílico, sem que isso implicasse qualquer alteração profunda no idioma.
Com o acordo escreve-se de igual modo o que se diz da mesma maneira, e de maneira diferente o que é dito de maneira diferente. E além disso, todas as variantes passam a ser legalmente válidas em todos os países. É por isso que digo que o acordo é um óptimo passo nesse sentido de abraçar e aceitar a diversidade.
PS: E quanto aos 200 milhões obrigados a mudar de hábitos gostava de ser tão optimista, mas diz-me a experiência que mesmo entre os licenciados portugueses, uma minoria no país, florescem os erros ortográficos mais inacreditáveis... no fundo nem vai mudar assim tanta coisa (LOL), mas para as crianças que vão aprender a ler, a missão vai ser um nadinha mais simples, e isso também é bom.
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