Alguns mais parecem buracos negros, tal a carência
Já não há mesmo cuzinho que aguente a conversa da "ditadura do politicamente correcto". Quer dizer, exceptuando os rabos dos directores dos jornais portugueses, que diariamente publicam crónicas de denúncia da tal ditadura, exactamente iguais às do dia anterior e às que se seguirão amanhã. Nunca que se viu ditadura tão silenciosa e com oposição tão histérica - bizarro no mínimo.
Mas ela existe, ela está lá. Porque cada vez que alguém vem com a lengalenga do politicamente correcto, está a dizer ao mundo nas entrelinhas, "eu queria dizer outra coisa, mas não posso, porque depois dizem que eu sou mau e feio e tal seria insuportável para mim, que nunca ouvi disso, que não sou desse nível". E o que eles queriam mesmo dizer é que a paneleirice é uma nojeira, que as mulheres deviam estar era na cozinha, que os pretos só servem pras obras e que o comunismo devia ser criminalizado. Aliás, eles não queriam dizer nada disso. Queriam apenas, singelamente, que isso continuasse a ser a regra sem que se tivesse sequer que falar no assunto, que fosse assim e pronto. Porque falar, por si só, nessas coisas, é uma seca, um descer de nível, um horroroso perder tempo com irrelevâncias, enfim.
Como, então, falar nisso sem ter que falar? Defender isso sem ter que argumentar? É aí que entra a ditadura do politicamente correcto, e é tão fácil! É uma verdadeira dádiva divina. "Estou sem inspiração nenhuma para escrever hoje.. ah já sei, a ditadura do politicamente correcto!" - pensa o esforçado cronista. E depois é só dar uma vista de olhos na imprensa, ou melhor, na bloga ou nos jornais estrangeiros, sempre férteis nestas nojeiras, e zás, já está. O Mário Soares foi a uma conferência sobre o lugar da mulher na religião? Tungas que já almoçaste, ditador anti-cristo do PC! A Tagus decide reformular uma campanha publicitária? Eh lá, qualquer dia há genocídios politicamente correctos! Alguém ousa criticar num blogue a publicidade milionária que a televisão pública oferece diariamente à igreja? Arre pra censura politicamente correcta, daqui a nada estão a fuzilar padres! And so on...
É simples, é fácil, e alimenta muitas bocas. Nos jornais paroquiais, tal como nos nacionais, já ninguém quer outra coisa. Ainda mais agora, que está quase a chegar a altura da "Guerra ao Natal", que é sempre um fartote! "Boas festas", p. ex., transforma-se em 2 ou 3 linhas num fanático slogan ateu. E o melhor desta ditadura é que evita essa coisa horrorosa que é debater dados concretos, falar sobre a realidade para além das torres de marfim, chamar os nomes das coisas às ditas, contra-argumentar, enfim, é quanto se poupa.
Claro que há sempre quem acabe por se fartar com tanto não-dito tão explícito, mas... e é esse o encanto da ditadura politicamente correcta, fica tão fácil lidar com isso: pronto, passou-se, da cabeça e para o lado dos patrulhadores da ditadura! Estou profundamente ofendido e amuarei uns tempinhos, mas descansem, logo logo volto ao mesmo.
Mas ela existe, ela está lá. Porque cada vez que alguém vem com a lengalenga do politicamente correcto, está a dizer ao mundo nas entrelinhas, "eu queria dizer outra coisa, mas não posso, porque depois dizem que eu sou mau e feio e tal seria insuportável para mim, que nunca ouvi disso, que não sou desse nível". E o que eles queriam mesmo dizer é que a paneleirice é uma nojeira, que as mulheres deviam estar era na cozinha, que os pretos só servem pras obras e que o comunismo devia ser criminalizado. Aliás, eles não queriam dizer nada disso. Queriam apenas, singelamente, que isso continuasse a ser a regra sem que se tivesse sequer que falar no assunto, que fosse assim e pronto. Porque falar, por si só, nessas coisas, é uma seca, um descer de nível, um horroroso perder tempo com irrelevâncias, enfim.
Como, então, falar nisso sem ter que falar? Defender isso sem ter que argumentar? É aí que entra a ditadura do politicamente correcto, e é tão fácil! É uma verdadeira dádiva divina. "Estou sem inspiração nenhuma para escrever hoje.. ah já sei, a ditadura do politicamente correcto!" - pensa o esforçado cronista. E depois é só dar uma vista de olhos na imprensa, ou melhor, na bloga ou nos jornais estrangeiros, sempre férteis nestas nojeiras, e zás, já está. O Mário Soares foi a uma conferência sobre o lugar da mulher na religião? Tungas que já almoçaste, ditador anti-cristo do PC! A Tagus decide reformular uma campanha publicitária? Eh lá, qualquer dia há genocídios politicamente correctos! Alguém ousa criticar num blogue a publicidade milionária que a televisão pública oferece diariamente à igreja? Arre pra censura politicamente correcta, daqui a nada estão a fuzilar padres! And so on...
É simples, é fácil, e alimenta muitas bocas. Nos jornais paroquiais, tal como nos nacionais, já ninguém quer outra coisa. Ainda mais agora, que está quase a chegar a altura da "Guerra ao Natal", que é sempre um fartote! "Boas festas", p. ex., transforma-se em 2 ou 3 linhas num fanático slogan ateu. E o melhor desta ditadura é que evita essa coisa horrorosa que é debater dados concretos, falar sobre a realidade para além das torres de marfim, chamar os nomes das coisas às ditas, contra-argumentar, enfim, é quanto se poupa.
Claro que há sempre quem acabe por se fartar com tanto não-dito tão explícito, mas... e é esse o encanto da ditadura politicamente correcta, fica tão fácil lidar com isso: pronto, passou-se, da cabeça e para o lado dos patrulhadores da ditadura! Estou profundamente ofendido e amuarei uns tempinhos, mas descansem, logo logo volto ao mesmo.
4 comentários:
É isso mesmo Boss!! É sempre tão positivo ver alguém que não se deixa levar nesta onde de idiotice :)
Realmente a imprensa anda muito má. E só as revistas como a Caras vendem bem. Sinal dos tempos! Mas é caso para se perguntar onde vem daí o mal ? Porque seria melhor se as coisas fossem diferentes ? Ou, se algum dia o foram ? Não sei...
Ás vezes sinto tanta inveja das pessoas simples que parece que não gostam de pensar e preferem pairar na superficialidade, qual pétalas de flores levadas pela brisa da manhã...
Será melhor a solidão de uma biblioteca ou a alegria contagiante de um estádio de futebol ?
Bem vistas as coisas, acho que desde que as pessoas se sintam mais felizes, não podem estar erradas. Errados devemos estar nós por sermos incapazes de aceita-las tal como são...
Enfim, acho piada aos teus desabafos mas não consigo deixar de pensar que também são apenas mais farinha do mesmo saco... só que de um lote muito mais pequeno
Olhe que muitas vezes o pessoal sai dos estádios a chorar, e se não vierem com um olho negro, já nem foi muito mau...
Quanto à "felicidade dos simples": enorme bocejo..
Quanto à minha, deixe-me ser eu a preocupar com isso, ok ;)
Caro Boss, a violência nos estádios de futebol não é tanta como se pinta. E só para dar um exemplo: Há pouca semanas atrás, em dia de futebol, estava com o meu namorado, fui arrumar o carro, e um adepto desportivo, que estava num grupo, veio ter connosco e ajudou-nos a arrumar o carro, sempre sorridente. Ficou ali bem explicito o sentimento de camaradagem que existe entre essas pessoas. Claro que não sei qual teria sido a atitude dele se soube-se que éramos um casal gay, suponho que teria sido bem diferente, mas isso já é outra história...
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