terça-feira, novembro 21, 2006

Beijos e Abraços

E insultos. E manipulações. E descobertas inesperadas na vida de dois casais, um gay e um lésbico. Luís Assis, encenador da peça e assumidamente gay, encarna Alberto, amante de Ricardo (Paulo Diegues), e é com eles que a peça abre. Mais tarde conhecemos Ângela (Maria Camões) e Diana (Cláudia Andrade) e logo depois começamos a perceber a teia de relações que estas personagens estabelecem, observando o evoluir dos acontecimentos, as dúvidas, os medos, as agressões.

A linguagem é forte, porventura demasiado gráfica em alguns momentos, mas sempre credível e talvez até necessária para nunca deixar o espectador descansado. Pretende-se um choque, um atribular dos pensamentos e das opiniões, um incómodo que se transforme num questionamento das ideias aceites. Se o coração é fraco ou os ouvidos pudicos, fique em casa. Ou melhor, saia de casa e vá ver, vá pensar. Com palavras doces ou amargas, violência aberta ou pressão constante, o que vemos desenrolar naquele palco vestido apenas com o essencial é algo que se passa em todas as relações. São conflitos, invejas, compromissos, arrependimentos. Em alguns momentos lembramo-nos que estamos a assistir a uma peça, mas noutros, pela carga do texto e pelos corpos dos actores, várias vezes completamente despidos, estamos também nós no palco. Não será de estranhar o misto de revolta e de excitação que nos proporcionam algumas cenas.

A peça dirá certamente mais a quem é gay ou conhece de perto o “mundo gay”, há referências óbvias ou subtis e opõem-se filosofias que já toda a gente discutiu, sem respostas fáceis. No entanto nada disto exclui qualquer tipo de público, é apenas mais uma faceta deste espectáculo, o segundo numa “Sex Shop Trilogy” da autoria de Luís Assis e produzido pela Cassefaz. O primeiro espectáculo foi “Gay Solo”, uma comédia que esteve em cena durante Agosto e Setembro do ano passado. O terceiro, com o título provisório de “Castidade”, tem data prevista para 2008.

“Beijos e Abraços” está em cena no Teatro da Comuna, em Lisboa, até 17 de Dezembro.

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