Beijos e Abraços
A linguagem é forte, porventura demasiado gráfica em alguns momentos, mas sempre credível e talvez até necessária para nunca deixar o espectador descansado. Pretende-se um choque, um atribular dos pensamentos e das opiniões, um incómodo que se transforme num questionamento das ideias aceites. Se o coração é fraco ou os ouvidos pudicos, fique em casa. Ou melhor, saia de casa e vá ver, vá pensar. Com palavras doces ou amargas, violência aberta ou pressão constante, o que vemos desenrolar naquele palco vestido apenas com o essencial é algo que se passa em todas as relações. São conflitos, invejas, compromissos, arrependimentos. Em alguns momentos lembramo-nos que estamos a assistir a uma peça, mas noutros, pela carga do texto e pelos corpos dos actores, várias vezes completamente despidos, estamos também nós no palco. Não será de estranhar o misto de revolta e de excitação que nos proporcionam algumas cenas.
A peça dirá certamente mais a quem é gay ou conhece de perto o “mundo gay”, há referências óbvias ou subtis e opõem-se filosofias que já toda a gente discutiu, sem respostas fáceis. No entanto nada disto exclui qualquer tipo de público, é apenas mais uma faceta deste espectáculo, o segundo numa “Sex Shop Trilogy” da autoria de Luís Assis e produzido pela Cassefaz. O primeiro espectáculo foi “Gay Solo”, uma comédia que esteve em cena durante Agosto e Setembro do ano passado. O terceiro, com o título provisório de “Castidade”, tem data prevista para 2008.
“Beijos e Abraços” está em cena no Teatro da Comuna, em Lisboa, até 17 de Dezembro.
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