Ou de como a "moderação" promove o integrismo católico
«Um grupo de 31 deputados do PSD e do CDS-PP entregam hoje, no Tribunal Constitucional, um pedido de fiscalização sucessiva da constitucionalidade da lei da procriação medicamente assistida (PMA), por considerarem que há disposições que violam a lei fundamental (...) Teresa Venda e Rosário Carneiro, do Movimento Humanismo e Democracia, eleitas deputadas nas listas do PS também deverão subscrever o pedido, que já excedeu largamento as 23 assinaturas, equivalentes a 10 por cento do total dos parlamentares, exigidas para o efeito.»A lei da PMA é uma absoluta vergonha. É mais retrógrada que a lei aprovada em Espanha nos anos 80, só para dar um exemplo. Se o Bloco de Esquerda fosse o que diz ser, seria este partido a promover a fiscalização da constitucionalidade de uma lei de machismo e homofobia bastante explícitos. Mas não.
Aliás, o Bloco, o PCP, os Verdes, e claro, o PS, todos cantaram pela bitola da moderação, que era preciso "evitar radicalismos", tudo a seu tempo, bla bla bla, aprovando assim uma lei que nos mantém seguros na cauda europeia dos direitos reprodutivos. Tudo isto seria para sossegar os católicos. (Exactamente a mesma desculpa usada agora para se evitarem discursos emancipatórios na campanha do referendo à IVG, apostando tudo na coitadinhização).
Está visto que não resultou. Apostar na cobardia política e na discriminação teve como único efeito dar espaço ao extremismo católico. Que não se contenta em ver-nos na cauda da Europa, quer-nos igual à Nicarágua. E não há pingo de vergonha mesmo. Até a brigada das cruzes do PS se junta ao forrobodó fundamentalista. Venda e Carneiro, as duas integristas católicas que por obscurantíssimos motivos são sempre enfiadas nas listas do PS em lugar elegível, mostram uma vez mais para que servem.
O delírio vai ao ponto de Isilda Pegado andar ainda a promover um referendo à lei da PMA, porque afinal os espermatozóides também devem ter alminha, e que se lixe o défice, 'bora gastar milhões em abstenções mais que previsíveis. Sim, a mesma Pegado que recusou esclarecer na RTP a sua posição face às situações em que o aborto está despenalizado actualmente no país. Ainda há dúvidas?
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