Os mitras também gostam de xadrez
Isto já é old news no Reino Unido, mas só ontem, ao ler as páginas do Wall Street Journal que o Jornal de Notícias publica às quintas (só em papel), fiquei a par do fenómeno, que me parece de uma ironia deliciosa. Desde 2004 que a palavra "chav" se popularizou em terras de sua majestade, designando aquilo que em Portugal (ou pelo menos no Norte) designaríamos por "mitras". Jovens e adolescentes brancos, que vagueiam pelas cidades em bando, indumentária desportiva, com cara de caso e de quem não tem nada para fazer - uma espécie de subproduto da cena hip-hop negra, mas sem música ou qualquer outro conteúdo. Lá como cá, os mitras gostam de roupas de marca e peças de ouro, mas as marcas costumavam ser apenas as desportivas, Adidas, Nike e por aí fora... Foi isso que mudou em Inglaterra, e fez com que os mitras se tornassem chav.
A Louis Vuitton (ou imitações de) foi só uma das marcas que passou a estar em voga neste grupo social mais conhecido pelas gravidezes na adolescência (cujo record europeu é britânico), mas é da Burberry que eles gostam mais. O xadrez de fundo bege que é a imagem de marca da conhecida e cara etiqueta londrina, passou a ser a cara da onda chav. Ou melhor, a cabeça, já que eram os bonés axadrezados a peça favorita dos miúdos. Resultado, os bares e discotecas passaram a listar a Burberry juntamente com as marcas consideradas "perigosas", por serem usadas por "hard core trouble makers".
As vendas da Burberry continuam a cair no Reino Unido, o boné axadrezado há muito que não é produzido e o xadrez quase desapareceu das suas lojas britânicas. Agora outras "prestigiadas" marcas temem um futuro semelhante e recuaram nas suas estratégias de marketing voltadas para a conquista de consumidores mais jovens. O medo de ser chavado já chegou mesmo aos produtores de champagne! É que os chav fartaram-se de beber cerveja...
A tendência será para que o fenómeno se espalhe, pelo menos pela Europa Ocidental. E apesar de nascer sem qualquer mensagem política ou cultural, mas apenas de desejos consumistas de uma classe pouco favorecida no bairro, mas riquíssima na aldeia global, esta onda já tem os seus ícones. Vicky Pollard é de longe a minha favorita.
Os significados e conotações da palavra, contudo, estão longe de estarem bem definidos. Mas se antes era vista sobretudo como insulto classista, cada vez mais é utilizada pelos próprios chav, afirmando-se e reconhecendo-se dessa forma. Não é impossível que a cena chav se torne tão cool que venha a ser apropriada por outros grupos (betos p.ex.), expulsando os chav originais e atraindo as empresas que agora lhes fogem a sete pés. O que tudo isto pôs a nu já nós sabíamos, o bom estilo é o de quem tem o bolso cheio, e vice-versa. O divertido foi ver, for once, os fornecedores de estilo aos fartos bolsos, atropelados pela lógica que alimentam, e de que se alimentam, desde sempre.
A Louis Vuitton (ou imitações de) foi só uma das marcas que passou a estar em voga neste grupo social mais conhecido pelas gravidezes na adolescência (cujo record europeu é britânico), mas é da Burberry que eles gostam mais. O xadrez de fundo bege que é a imagem de marca da conhecida e cara etiqueta londrina, passou a ser a cara da onda chav. Ou melhor, a cabeça, já que eram os bonés axadrezados a peça favorita dos miúdos. Resultado, os bares e discotecas passaram a listar a Burberry juntamente com as marcas consideradas "perigosas", por serem usadas por "hard core trouble makers".
As vendas da Burberry continuam a cair no Reino Unido, o boné axadrezado há muito que não é produzido e o xadrez quase desapareceu das suas lojas britânicas. Agora outras "prestigiadas" marcas temem um futuro semelhante e recuaram nas suas estratégias de marketing voltadas para a conquista de consumidores mais jovens. O medo de ser chavado já chegou mesmo aos produtores de champagne! É que os chav fartaram-se de beber cerveja...
A tendência será para que o fenómeno se espalhe, pelo menos pela Europa Ocidental. E apesar de nascer sem qualquer mensagem política ou cultural, mas apenas de desejos consumistas de uma classe pouco favorecida no bairro, mas riquíssima na aldeia global, esta onda já tem os seus ícones. Vicky Pollard é de longe a minha favorita.
Os significados e conotações da palavra, contudo, estão longe de estarem bem definidos. Mas se antes era vista sobretudo como insulto classista, cada vez mais é utilizada pelos próprios chav, afirmando-se e reconhecendo-se dessa forma. Não é impossível que a cena chav se torne tão cool que venha a ser apropriada por outros grupos (betos p.ex.), expulsando os chav originais e atraindo as empresas que agora lhes fogem a sete pés. O que tudo isto pôs a nu já nós sabíamos, o bom estilo é o de quem tem o bolso cheio, e vice-versa. O divertido foi ver, for once, os fornecedores de estilo aos fartos bolsos, atropelados pela lógica que alimentam, e de que se alimentam, desde sempre.
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