domingo, setembro 24, 2006

Verdes de bolor

O suplemento de domingo do DN e JN é praticamente intragável, mas volta e meia lá aparece algo interessante, e só por isso o folheio. Ainda hoje valeu a pena ler a entrevista à bióloga Margarida Silva, sobre plantas transgénicas. Em geral a solução para não ficar logo pela manhã com vontade de cortar os pulsos é passar à frente as crónicas de Isabel Stilwell e Eduardo Sá. E para não ter vontade de cortar os pulsos de outrem evitar igualmente as crónicas de Zé de Bragança e Manuel Ribeiro. Tomados estes cuidados fui apanhado em falso por esta bonita prosa de Tomás de Montemor, que semanalmente assina as "páginas verdes".
«SE É HOMEM E A SUA MAIOR AMBIÇÃO na vida é ficar grávido (o assunto está tão bem entregue em mãos femininas, mas enfim), aconselho-o a ir a banhos no rio Potomac em Vashinton (como dizia o Raul Solnado), nos EUA.

A RÉPLICA DOS RESULTADOS em humanos não está garantida, mas a recente descoberta de vários peixes neste rio que mostram sinais de não estarem bem certos do sexo a que pertencem - os cientistas, diplomaticamente, chamam-lhes peixes intersexo - faz pensar que qualquer coisa semelhante possa acontecer aos humanos. Aparentemente estes peixes têm o sistema hormonal descontrolado e por isso aparecem cada vez mais exemplares com ovos nos testículos. Deve ser um pouco incomodativo ter um bebé nos testículos, mas se ainda está a pensar nisso... força.

A RAZÃO PARA O ESTRANHO AUMENTO de peixes gay, ou seja machos efeminados, parece estar relacionado com os altos níveis de poluição das águas do rio. Foram detectados certos compostos, usados na indústria farmacêutica, cosmética e outras, que são conhecidos desreguladores endócrinos, com o poder de pôr os organismos animais a trabalhar às avessas. Por exemplo, já foram acusados de tornar mais pequenos os pénis dos ursos-polares e de provocar hermafroditismo (possuir órgãos genitais dos dois sexos) em baleias.

COMO DISSE, NÃO SEI SE OS AMERICANOS que beberem de mais desta água vão começar a levar capacetes cor-de-rosa e Chanel n.º5 para combater talibãs, mas o certo é que o destino que queremos dar aos resíduos químicos das nossas indústrias tem de ser decidido depressa, sob o risco de começarem a afectar severa e irreversivelmente a nossa vida. (...)»
A coisa prossegue referindo tragédias humanas reais, causadas pelo envenenamento de águas pelas indústrias na Índia e Costa do Marfim. Os itálicos e maiúsculas da citação estão conforme o original, só o verdito foi acrescentado por mim. E acho que nem vale a pena dizer mais nada.

4 comentários:

Siona disse...

A diferença entre intersexualidade e orientação sexual, e orientação sexual e identidade / expressão de género são assuntos provavelmente demasiado complexos para o sr. Tomás. Aliás, costumam ser demasiado complexos até para muitas das próprias pessoas LGBT.

Mas há quem ache que não é precisa Educação Sexual nas escolas para informar as crianças sobre os factos mais básicos da sexualidade e do género...

Manel disse...

Ontem a revista do DN era cada tiro, cada melro, caramba... :(

bossito disse...

Não só educação sexual, como de biologia. É que este senhor não deve saber que nos peixes a alteração espontânea de sexo é um fenómeno muito frequente (logo facilmente induzido ou prejudicado por poluentes), quase obrigatório em algumas espécies. E o título da prosa, que esqueci referir no post, «Machos grávidos?», dá a ideia que este "ambientalista" nunca ouviu falar em cavalos-marinhos...

Já eu ando preocupado é com as mutações que os adeptos do nuclear (assim tipo este senhor) podem causar no ambientalismo, e ambiente em geral...

eduardo b. disse...

Estou a ver que vocês estão todos contra a integração de deficientes no mercado de trabalho. Cambada de reaccionários.