sábado, janeiro 06, 2007

Déjà vu

A avacalhação da campanha já começou, e daqui até 11 de Fevereiro o mais provável é que a coisa vá agravando. Como bem disse Ana Sá Lopes, avacalhar é abrir alas para o Não. E isto por uma razão simples, os moderados do Sim prezam imenso a sua moderação e muito pouco o seu Sim. Avacalhando a campanha eles já não se metem, ou melhor, metem-se para atacar os "radicais do Sim", acrescentando sempre que tem muito respeito pelo Não, salvaguardando assim a sua imensa moderação, que é o que importa.

Já o Não não tem destes problemas, o que importa é facturar votos, dê por onde der, para que não se ponha em causa do seu poder, a sua influência. Mentem, distorcem, fazem falsas promessas (educação sexual, não aplicação da lei que defendem, etc), e tudo vai bem, ninguém ataca ninguém, é só palmadinhas nas costas. Os menos moderados (no Não não há radicais) lá se vão entretendo com panfletos de recém-nascidos mortos e agendamentos de comícios pelo Não no domingo do referendo. E assim vai o país, e não é a primeira vez. Para já a única diferença que noto em relação a 98 é que as sondagens não dão uma margem tão grande ao Sim...

PS: E na RTP continuam a falar em "referendo ao aborto", "movimentos contra o aborto", "movimentos a favor". Contribuir com os meus impostos para o jornalismo rasca? Assim é.

10 comentários:

B. César disse...

É sempre mais fácil defender uma posição negativa e de conformismo do que de mudança. Mas o grande problema é que quem defende o SIM é sempre enrolado nos esquemas retóricos do NÃO, tentando manter uma "moral" superior que levará, infelizmente, a mais uma derrota nas urnas. É necessário falar sobre as coisas e deixar estas falinhas mansas que não levam a lado nenhum. Quanto à RTP para quando um programa de INFORMAÇÃO, apenas isso, informar as pessoas sobre este referendo em vez desta politica de terra-queimada que infelizmente se assiste em todos os debates.

Musicologo disse...

Em resposta alguns outdoors que vi apenas digo:

"Sustentar com o dinheiro dos meus impostos prisioneiras só porque optaram por interromper voluntariamente a sua gravidez? Não obrigada"

Mas nem tudo são más notícias, o futebol parece estar a dar cartas aqui ao lado:

http://www.20minutos.es/noticia/140711/0/pena/homosexual/futbol/

FuckItAll disse...

Não se trata de "prezar mais a moderação do que o Sim"; trata-se de manter em mente, pelo contrário, que o objectivo é que o Sim passe neste referendo, e para isso é necessário manter a tal "moderação" (a que eu preferia chamar capacidade para manter a calma e comunicar eficazmente com os outros). Se desatamos aos gritos (e concordo que me tem apetecido muito!), podemos ficar muito aliviadinhos pessoalmente, mas dia 11 de Fevereiro fica tudo na mesma.

FuckItAll disse...

...suponho que o que a Ana Sá Lopes dizia, e eu subscrevo, é que os argumentos pelo Sim são argumentos de tipo racional, em torno de questões de direitos; os argumentos pelo Não giram em torno da fé e das emoções, e por isso sobrevivem bem melhor a uma discussão menos argumentada, mais extremada e emocional.

/me disse...

Acho que este post consiste numa generalização fácil e num julgamento moral dos defensores do não que é pouco consistente. E depois, lá está, os "moderados do Sim" acanham-se.

Acreditas mesmo na superioridade moral dos que defendem o sim no aborto?

Pedro Morgado disse...

A campanha do NÃO está a entrar por um caminho de demagogia e populismo pergigoso e, mesmo, obsceno.

Veja-se o exemplo das últimas declarações do líder do PP, Ribeiro e Castro:
http://avenidacentral.blogspot.com/2007/01/servio-nacional-da-doena.html

bossito disse...

fuckitall, é isso, concordo tb.

/me, este post foi sobretudo um desabafo, não é nem pretende ser nenhum manifesto.. e é coisa lida por meia dúzia, se alguém se acanha por isto é porque de facto não "acredita" no que defende...

fernando alves disse...

Cara Fuckitall (andamos mesmo pelos mesmos sítios),
não concordo totalmente quando diz que os argumentos do "não" são baseados em fé e emoções. Talvez isso seja verdade para alguns sectores da população mas abundam os argumentos com base na razão.

Ao Boss,
sim concordo que as Tv's tenham de ser imparciais. Mas olhe que há muitos "jornalistas de causas" e isso pode comprometer essa imparcialidade para ambos lados. Quem não se lembra da célebre peça jornalística de há umas semanas onde até o nome da rua da clínica de abortos em Espanha foi dito? Só faltava passar o número de telefone em rodapé.

/me disse...

Boss, acho que te subestimas. Não é propriamente apenas meia dúzia que lê isto. :)

Mas pronto, desabafar faz bem a todos.

S.M. disse...

Boss, tem toda a razão. E a Ana Sá Lopes também! Tenho converasdo com pessoas que nem sequer aceitam discutir, afirmam que são pela vida e "prontos!", tudo o resto é ofender a Santa ICAR.É muito complicado lutar contra os dogmas de raiz na infância remota, os sentimentos de culpa universal que as mulheres tão bem aprenderam e o desinteresse total de muitos homens. Sinceramente não acredito neste país...
A minha opinião em : http://asminhasfacesocultas.blogspot.com/