sábado, outubro 28, 2006

Fodder for museums

«The issue is not just the contrast between the mellifluous, musical accent of Brazil — “Portuguese with sugar,” in the words of the 19th-century realist Eça de Queiroz — and the clipped, almost guttural sound in Portugal. There are also marked differences in usage that have traditionally led to misunderstandings and provided fodder for jokes. In Portugal, for example, a word for a line (the waiting kind) is to Brazilians a derogatory slang term for a homosexual.»
Por acaso este exemplo é só mais um dos que se desactualizaram face à brasileirização portuguesa. E isso não é uma coisa má, tal como este artigo do The New York Times (descoberto via DN), a propósito do Museu da Língua Portuguesa inaugurado este ano em São Paulo, e já o mais visitado do Brasil. Mas as influências intralusófonas não se fazem num só sentido, no excelente "Cuidado com a língua" da RTP, exibido na semana passada, fiquei a saber que o termo "arruada", popularizado nas últimos eleições portuguesas, é considerado um neologismo com origem no galego "ruada". A língua não está morta, e definitivamente não é "espanhol mal falado" (como segundo o NYT algumas pessoas falantes dessa lengalenga repetitiva de apenas 5 vogais, com origem no calão militar latino, parecem acreditar). Mas mesmo assim já se prepara novo museu de conservação da dita, agora em Lisboa, just in case.

5 comentários:

Unknown disse...

Lá vai a velha castelafobiazinha outra vez. Sou leitor e fan do blog há mais que um ano e meio, mas estas excursões para o baixo nível de argumentação quando toca certos temas começam a chatear-me: Então, a língua espanhola [a lengalenga repetitiva] tem as suas origens no calão militar latino, e a portuguesa não? Português, a língua de Camões vem de onde? Inspiração divina?

A afirmação de o português ser um "espanhol mal falado" não corresponde à opinião do mainstream espanhol. O artigo está a referir a situação na América Latina.
Os espanhóis gostam da língua e da cultura portuguesa. É estranho que são apenas os portugueses que nos querem convencer do contrário.

É um facto que o maior conflito linguístico existe entre as vertentes do próprio português. Tanto a maioria dos portugueses considera o português brasiliero "mau português" como muitos brasilieros acham ridículo a pronúncia fechada e o vocabulário (nos seus olhos) antiquado do português europeu. É por isso que não há quase nenhum brasileiro que muda o seu dialecto para o português europeu, enquanto é perfeitamente normal fazê-lo, como acontece com falantes deslocados de línguas difundidas em vários continentes, como o inglês, o espanhol ou o árabe.

bossito disse...

ó michael, você não é o mesmo que escreveu e passo a citar: «No entanto, quem conhece os espanhóis e os seus meios de comunicação, sabe que sabem pouco ou nada sobre Portugal, a não ser que se trata dum "rectangulozinho" lá ao lado. Vamos ser honestos; eles não se interessam por Portugal ou por uma união com Portugal! Eles devem estar contentes onde estão, com o seu Rei com o seu PM e governo e com a sua política.»? Decida-se lá...

Quanto aos gostos ou desgostos dos "sonidos" das línguas são exacta e apenas isso, gostos ou desgostos....

bossito disse...

ps: e o português, claro, tal como o espanhol tem origem num "latim mal falado", mas não no calão militar. É aliás, foneticamente e não só, uma língua muito mais complexa que o espanhol, razão pela qual é mais fácil a um lusófono entender um espanholófono que o contrário. Coisa que parecendo uma vantagem para os falantes, é uma desvantagem para a propagação da língua...

Aliás exactamente o mesmo pode ser dito entre as variantes brasileira e portuguesa da língua. Um brasileiro não precisa mudar o sotaque para ser entendido em Portugal, e para mudar o sotaque tem que acrescentar fonemas novos, o que nunca é fácil, e é sempre na facilidade que está a evolução linguística... Um português no Brasil tem que mudar o sotaque para ser entendido, mas essa mudança faz-se pela perda de fonemas, o que não é muito custoso.

Unknown disse...

Claro que sou a mesma pessoa que escreveu, mas pergunto com as suas palavras: Qual é a dúvida?

O meu primeiro comentário era uma resposta à suposta tendência iberista dos espanhóis, coisa que não vejo reflectida nos media espanhóis. Continuo a dizer: Os espanhóis, em geral, não sabem o que é ou onde fica Portugal. Não há interesse nenhum numa união ibérica por parte deles. O que me parece, no entanto, é que há uma má língua contínua contra os espanhóis aqui em Portugal.

O meu comentário aqui era para me queixar da hispanofobia do post. Também reitero: O artigo citado no seu post estava a referir uma situação na América Latina (específicamente entre o Brasil e a Argentina) quando falava do português ser entendido como "espanhol mal falado". E, apesar de ser verdade que o espanhol pouco ou nada sabe sobre Portugal, com a pouca informação que tem, a opinião do espanhol sobre Portugal, a sua língua e a sua cultura é geralmente positiva.

Agora queria saber, de onde tem a sua informação de que o espanhol, sim, foi se desenvolvendo a partir dum "calão militar" e o português não. Pergunto outra vez, quem é que trouxe a língua latina para a Lusitânia? Não eram os mesmos soldados romanos?

Eu sou linguísta e muito consciente de que é mais fácil para um português perceber um espanhol do que ao contrário, e que isto se deve às diferenças fonológicas. Mas a minha opinião é que o facto de o português ser uma línuga com mais fonemas do que o espanhol não tem que ser considerado alguma proeza que demonstra o avanço cultural de Portugal, como está a acontecer constantemente. Além disso, o espanhol (castelhano) tem fonemas que não existem em português e a maioria dos portugueses não consegue produzi-los.

A minha leitura das variantes do português também é diferente: O brasileiro não quer mudar o seu dialecto, mesmo que esteja confrontado com preconceitos por parte dos portugueses, porque normalmente ele acha o português europeu muito retrógado e antiquado. Ao contrário disso, um português que vive em Espanha ou no Brasil tende a perder o seu próprio dialecto.

bossito disse...

Não só soldados michael, também juristas, políticos, etc etc.. Bracara Augusta era um centro intelectual importante, por exemplo.

O facto de ter mais fonemas não é uma proeza, mas a meu ver, e falo apenas do meu gosto pessoal, torna a língua mais agradável de se ouvir e falar.

De novo, não me parece que essas alterações ou não de dialecto se devam a questões de prestígio ou desprestígio. Até porque já conheci vários brasileiros que vêem com maus olhos certos dialectos do seu país e afirmam preferir o nosso..

A questão é que se os portugueses não mudam a forma como falam, não são entendidos. E um brasileiro é-o sempre. Prestígios ou não à parte.