segunda-feira, maio 07, 2007

Coitadinho do eucalipto

Na imprensa portuguesa a coisa em geral funciona assim, a Lusa lança o disparate e todos os órgãos o reproduzem bovinamente. Eis então que surge o eucalipto como grande estrela do combate à poluição (SIC, DN, PD). Então o eucalipto, essa praga que seca tudo em seu redor, esse combustível fantástico para incêndios, é afinal um "campeão no combate aos poluentes"? É ÓBVIO QUE NÃO É.

Lendo as notícias para além do cabeçalho percebe-se que o estudo que motivou tão belos e taxativos títulos afinal contemplava apenas eucaliptais, pastagens e montados. Ora pastagens não são bosques, e nos montados os sobreiros estão muito mais dispersos que os eucaliptos num eucaliptal. Concluir que um eucaliptal retém mais CO2 que um montado ou uma pastagem é tudo menos surpreendente. Daí a concluir que o eucalipto é "árvore campeã" é... o jornalismo a que estamos habituados e um profundíssimo disparate.

Para termos esse tipo de conclusão teríamos que ter estudos que comparassem a retenção de CO2 por diferentes espécies de árvores. Não temos. Mas temos outra coisa, temos o conhecimento da devastação que a monocultura de eucalipto tem causado na floresta portuguesa. Pondo em perigo espécies da fauna e flora autóctones, incapazes de sobreviver perante a concorrência desleal dessa praga. E sendo o melhor combustível para qualquer incêndio. Nem precisamos de nenhum estudo para dizer isto, temos décadas de trágicas experiências. O que não temos, aparentemente, é o mínimo de bom senso e espírito crítico nas redacções do país.

Já agora, era bom que no próximo Outono, aquela altura em que os incêndios deixam de ser notícia, algum jornal tivesse a bondade de publicar um guia sobre reflorestação, semelhante a este da Universidade de Vigo (ou em inglês), que explica de forma fácil como qualquer pessoa pode colaborar na reflorestação dos montes ardidos, usando as espécies autóctones (os carvalhos porra!), que, essas sim, garantem uma floresta viva, rica, diversificada, capaz de resistir melhor aos incêndios, retendo assim muito mais CO2, e de forma mais duradoura.

PS: Já agora chamo a atenção para uma colecção de livros dedicados à floresta portuguesa editados pelo Público em colaboração, entre outros, com a Liga para a Protecção da Natureza. Consta que são óptimos, no entanto o preço e a tiragem limitada impedem uma grande difusão, não respondendo portanto à minha sugestão.

2 comentários:

Héliocoptero disse...

Fora as vantagens da floresta de folha caduca e auctótone para a preservação dos recursos aquíferos. Muito ao contrário do eucalipto.

F disse...

Enquanto o eucalipto for a visto como uma fonte de rendimento "rápido" nada será feito para reflorestar a "nossa florestas mediterranea"!!