Igualdade ou privilégio?
«O Tribunal Central Administrativo do Norte (TCAN) condenou em Fevereiro passado a Ordem dos Advogados (OA) por violação da liberdade religiosa.
Segundo a edição [de 16 de Abril] do jornal Público, em causa estava o facto de uma advogada estagiária, membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, cujo dia santo é o sábado, ter pedido a alteração do exame final de agregação, que estava marcado para aquele dia da semana
A Ordem recusou o pedido, mas foi obrigada pelo tribunal a marcar o exame num outro dia, que não sábado.»Lembro-me de há anos atrás, mal entrei na faculdade, ter lido um regulamento sobre faltas às aulas e ter pasmado pelo facto de não poderem ser justificadas em casos de doença (excepto tuberculose!), mas poderem sê-lo por motivos religiosos. Creio que o mesmo se aplicava aos exames. Basicamente se tencionavas ir ao exame marcado no dia X mas tinhas o azar de ser atropelado pelo caminho, chumbavas. Se não querias ir ao exame para ficar a rezar, marcavam-te nova data.
É claro que os católicos são a minoria religiosa (só cerca de 14% da população a pratica regularmente) mais privilegiada do país, sendo que o seu "dia sagrado" funciona como dia de descanso semanal para todos. Mas lá está, "é para todos", logo mesmo que seja mais conveniente aos católicos, todos podem dele usufruir, o mesmo vale para os feriados religiosos. Ao obrigar as instituições a criarem "feriados personalizados" por motivos religiosos estamos a acrescentar algo, e não a substituir. Estamos a obrigar que as instituições laicas assumam encargos e transtornos extra por causa da crença de alguém. E na prática isto representa uma possibilidade de calendarizar a vida de acordo com as nossas conveniências, usando a religião como desculpa. Uma possibilidade que não está ao alcance daqueles sem qualquer religião.
8 comentários:
O mesmo se passa com o uso de certas drogas em países onde havia usos "tradicionais" das ditas (podes usá-las se fizerem parte da tua crença religiosa). O que eu às vezes sou tentada a ver como a verdadeira explicação para o surgir dos mais estranhos cultos em meio urbano. Mas isso sou eu que tenho mau feitio.
A questão dos feriados até se resolvia de uma forma simples: tiravam 2 ou 3 feriados religiosos desses que ninguém sabe o que são, como a ida na Vossa Senhora para o Céu 15 de Agosto e a padroeira de Portugal a 8 de Dezembro, e davam mais 2 dias de férias a toda a gente. Quem fizesse muita questão, que os tirasse nos dias correspondentes ao suposto evento esotérico; quem não fizesse muita questão, que os tirasse quando lhe desse na gana.
Quanto ao resto agora não tenho tempo para estar a pensar nisso.
Que "feriados personalizados" teria um ateu? Ele calendariza ou organiza a sua vida segundo outros parâmetros que não os "convencionais" (refeições, exercicio físico, reuniões, etc)?
Pois é fuckitall, não me tinha ocorrido, mas é boa via sim... LOL agora percebo melhor umas notícias que li por alto sobre o renascimento da mitologia grega na Grécia ou da escandinava na Islândia LOL
Sim Eduardo, era capaz de ser bom sistema. Mas acho que há para aí umas datas mais meritórias que essas (o 9 de Maio por exemplo, ou o dia da árvore), que podiam ser substitutos..
Hélio um ateu segue a razão, pelo que se calhar era justo deixarem-no escolher outra data sempre que a seja sua convicção que aquele não é o dia mais conveniente.. lol ;)
O problema aqui, parece-me, é que há uma igreja com ene privilégios e regalias, e em vez de se procurar a igualdade entre os credos pela via do corte dessas regalias imorais e atentatórias da laicidade, se procuram alargar as mesmas a outros grupos.
Que sentido fazem por exemplo as aulas de religião na escola pública? Note-se que não se trata de história da religião, uma abordagem científica, mas puro e simples proselitismo. Então não há liberdade para que as religiões criem as suas "catequeses"? etc? Porque há-de o contribuinte ateu ser obrigado a ver parte dos seus impostos a financiarem os pregadores na escola pública?
De acordo, há uma religião com privilégios que deviam ser abolidos. Era terminar com todos os feriados religiosos, excepção feita, talvez, ao Natal e Carnaval, já que são mais socialmente transversais. A substitui-los estaria um regime de feriados e dias livres personalizados, previamente acordados com o empregador ou escola de acordo com a informação.
Bem mais justo do que o sistema actual.
Sim, mas.. na prática isso pode ser muito complicado. Sinceramente não me parece nada sobrehumano conciliar a religião com a actividade académica, e se a pessoa acha mesmo que é impossível bom, tem sempre liberdade de optar entre uma e outra... estabelecer prioridades...
Num aspecto estou em completo acordo contigo: tem que haver cedências de parte a parte, tal como com outras rotinas diárias paralelas à académica ou profissional.
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