A memória é curta: recessão demográfica
Cavaco está preocupado com a "quebra" da natalidade em Portugal e uma suposta "recessão demográfica". Diz mesmo que "não encontra precedentes na história do país". Eu não sei por onde Cavaco tem andado, mas no seu tempo de vida teve já oportunidade de presenciar algumas situações de emigração em massa que levaram efectivamente a momentos de recessão demográfica. O caso é tudo menos "sem precedentes", e muitíssimo menos notório (a haver de facto) que o que já foi em momentos recentes da história.
Eu até acredito que Portugal tenha perdido habitantes nos últimos 2 ou 3 anos, muitos imigrantes foram embora e muitos portugueses emigraram, sobretudo a Norte. Mas nada de dramático. Invocar um "problema de natalidade" é invocar um falso problema com vista a promover falsas soluções e toda uma agenda católico-nacionalista que o país dispensa.
Os problemas do país são os fracos salários (muito mais baixos que o que poderiam ser, sem causar qualquer problema de viabilidade às empresas, por muito que insistam no contrário), a crise do interior e do Norte, em grande parte devidas à centralização doentia em torno do Terreiro do Paço, o deficiente e caro serviço nacional de saúde ou o sistema de educação. É isso que faz com que os jovens migrem do interior para o litoral e de Portugal para o mundo. Daí a natalidade baixar, sintoma da crise, não problema per se.
Não há qualquer interesse em estimular uma natalidade muito superior à actual. Uma subida dos salários, uma melhoria da saúde e educação, garantiriam por si só uma ligeira subida, suficiente para garantir a "renovação generacional". O país já tem uma densidade populacional elevada, maior que a espanhola, e o mundo já tem, definitivamente, gente a mais. Além de que se se verificasse um súbito "baby boom" (quiça estimulado pelos apelos de Cavaco), aí sim o país estaria em maus lençóis, sem capacidade económica para cuidar de tanta criançada pelos padrões mínimos actuais. É que se é para ser economicista é bom lembrar que uma criança implica no mínimo 18 anos de despesas, enquanto que um imigrante começa a pagar impostos e a descontar para a segurança social desde o dia zero.
Portanto, se Cavaco quer mais bebés, que os faça (e mantenha do seu bolso), mas não venha atirar areia para os olhos das pessoas, já fartas de populismos e demagogias que nada resolvem.
Eu até acredito que Portugal tenha perdido habitantes nos últimos 2 ou 3 anos, muitos imigrantes foram embora e muitos portugueses emigraram, sobretudo a Norte. Mas nada de dramático. Invocar um "problema de natalidade" é invocar um falso problema com vista a promover falsas soluções e toda uma agenda católico-nacionalista que o país dispensa.
Os problemas do país são os fracos salários (muito mais baixos que o que poderiam ser, sem causar qualquer problema de viabilidade às empresas, por muito que insistam no contrário), a crise do interior e do Norte, em grande parte devidas à centralização doentia em torno do Terreiro do Paço, o deficiente e caro serviço nacional de saúde ou o sistema de educação. É isso que faz com que os jovens migrem do interior para o litoral e de Portugal para o mundo. Daí a natalidade baixar, sintoma da crise, não problema per se.
Não há qualquer interesse em estimular uma natalidade muito superior à actual. Uma subida dos salários, uma melhoria da saúde e educação, garantiriam por si só uma ligeira subida, suficiente para garantir a "renovação generacional". O país já tem uma densidade populacional elevada, maior que a espanhola, e o mundo já tem, definitivamente, gente a mais. Além de que se se verificasse um súbito "baby boom" (quiça estimulado pelos apelos de Cavaco), aí sim o país estaria em maus lençóis, sem capacidade económica para cuidar de tanta criançada pelos padrões mínimos actuais. É que se é para ser economicista é bom lembrar que uma criança implica no mínimo 18 anos de despesas, enquanto que um imigrante começa a pagar impostos e a descontar para a segurança social desde o dia zero.
Portanto, se Cavaco quer mais bebés, que os faça (e mantenha do seu bolso), mas não venha atirar areia para os olhos das pessoas, já fartas de populismos e demagogias que nada resolvem.
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