domingo, março 11, 2007

Moedas fracturantes (ou o preço do nome de deus)

Estas são as mais recentes moedas de 1 dólar. Há décadas que a U.S. Mint as tenta popularizar junto dos consumidores norte-americanos sem sucesso, já que estes não largam as notas. Para terem noção do disparate saibam que as dimensões de uma nota de 1 dólar são 156 × 66 mm, ou seja, quase tão larga como a nota de 10 euros (127 × 67 mm) e mais comprida que a de 200 (153 × 82 mm)! Tanto papel custa muito dinheiro, e a dimensão exagerada só acelera a erosão. Mas contra hábitos enraizados a razão tem pouco poder, pelo que os americanos só passarão a usar as moedas em vez das notas no dia em que deixem de produzir as últimas (foi sempre assim que se fez em Portugal, e funcionou). Sobre estas questões é muito recomendável a leitura deste post do The Lede.

Mas como se a polémica papel versus metal não fosse suficiente, eis que surge a polémica religiosa. Todo o dinheiro americano, em papel ou metal, tem a inscrição "In God e Trust" (Confiamos em Deus). Nas moedas a inscrição estava numa das faces, mas nesta nova série decidiram coloca-la no rebordo da moeda, tal como acontece com o "GOD ZIJ MET ONS" (Deus esteja connosco) das moedas de 2 euros holandesas. «In actuality the motto "In God We Trust" appears to be merely scratches on the edge of these coins-- that is, unless one looks for it with a magnifying glass.» É o comentário do Catholic World News.

Mas eis que rebenta a bomba, algumas moedas foram postas a circular sem que a frase fosse inscrita no rebordo. Perde-se a conta aos artigos de opinião indignada contra semelhante falha que se acham no Google News, fazem-se já apelos ao boicote da moeda (que independentemente desta polémica estaria sempre condenada ao fracasso imposto pela continuação do fabrico das notas) e proliferam teorias da "conspiração ateia". A boa notícia, para alguns felizardos pelo menos, é que já se vendem exemplares, da agora conhecida como "godless coin", várias centenas de vezes acima do seu valor facial, no Ebay.

Mas eu ainda não percebi bem os receios dos crentes americanos em relação a esta omissão, é a fé em deus que depende da sua marca no dinheiro, ou a fé no dinheiro que depende da assinatura divina? O mais engraçado é que a tal inscrição pode ser facilmente classificada como herege de acordo com várias citações bíblicas, razão pela qual o insuspeito Theodore Roosevelt se lhe opunha com veemência. "Não invocarás o Seu nome em vão", mas um penny é quanto basta para o gasto...

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