quinta-feira, março 01, 2007

Jornalismo fracturante, sociologia fracturada

Quando um jornalista fala em "temas fracturantes" e junta no mesmo saco eutanásia, casamento entre pessoas do mesmo sexo ou investigação com células estaminais está claramente a fomentar uma fractura e simultaneamente a tomar partido por uma das partes fracturadas (e que estariam coladinhas e em paz se o assunto não fosse discutido?). Ou seja, não está a ser sério, nem rigoroso. A reestruturação das urgências hospitalares ou a proibição do fumo nos locais fechados são acaso temas consensuais? E quem diz esses, diz quaisquer outros debatidos diariamente no parlamento (para que se debateriam se não causassem fracturas contra e a favor?). [Ler também «Fracturas e facturas».] Isto a propósito da entrevista a Policarpo na Visão, de um artigo adjacente (em papel) e ainda duas entrevistas online (a Manuel Villaverde Cabral e Moisés Espírito Santo), onde essa mistura não inocente dos temas é feita sem qualquer despudor. E falando em falta de rigor...
«O mesmo diria, aliás, acerca dos casamentos gay, que no caso de serem postos a votos seriam certamente recusados. Estou convencido de que nem sequer entre a comunidade gay (se tal existe, o que duvido) há unanimidade a esse respeito?
E também não sei se a adopção por homossexuais é uma grande ideia. Já reina a maior das confusões sobre o sistema de adopção em Portugal, como se tem visto pelo caso Esmeralda; não creio que haja grande vantagem em complicar ainda mais as coisas!»
Esta é uma das respostas de Villaverde Cabral, entrevistado na qualidade de sociólogo, mas a mandar bitaites na pose "sentado na tasca a beber uns copos". Não sei se há, era uma confusão e tal... pá, bué cenas, em suma. De qualquer modo há um ponto que merece especial atenção, o da opinião da "comunidade gay". É apenas mais um sinal de que bastará haver um gay, ou pseudo-gay, disposto a fazer o papel de colaboracionista com os homofóbicos, para que a cobardia política a ele se agarre com unhas e dentes para provar que o casamento "não é uma prioridade"... Quem se oferece para o frete?

PS: Alguém recorde sff ao sr. Villaverde Cabral que ele é um dos signatários da petição pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo que a ILGA Portugal lançou. Ou será que só a assinou para mostrar que nem entre os defensores do casamento há um consenso favorável ao casamento?

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