Foi, se bem se lembram, um conselho de sábios que elaborou o "Tratado Constitucional Europeu", paz à sua alma. Agora, um novo conselho de sábias figuras (incluindo Eduardo Lourenço), elaborou
um relatório pela defesa do multilinguismo na União, assente numa ideia principal: a "língua pessoal adoptiva". A língua pessoal adoptiva seria então uma outra língua, que não a materna de cada cidadão, que passaria a funcionar como segunda língua para uso pessoal ou assim... Qual é a novidade? Essa língua não deve ser necessariamente o inglês. E pronto, é isso. Propõem então que se faça o que se faz há décadas em quase todos os países europeus, a obrigatoriedade de aprender outro(s) idioma(s) na escola, mas com a ressalva "que não seja só o inglês".
Mais valia estarem calados. Sim o multilinguismo é lindo e uma riqueza. Sim, quem sabe mais línguas só ganha com isso, viaja mais, vê mais longe, etc. Mas, regra geral, as pessoas (as não-sábias pelo menos) só aprendem outro idioma se tiverem mesmo que o aprender. E encontrar um emprego costuma ser a razão que as leva a aprenderem esse outro idioma. As línguas não vão longe pela via da sedução, mas sim pela da imposição, da escola ou do mercado.
Quanto ao inglês é uma vantagem para a UE que o seu conhecimento se vulgarize. Facilita a comunicação, 27 nacionalidades à mesma mesa e uma só língua - dispensam-se tradutores, poupa-se tempo e dinheiro. A desvantagem é que o inglês não é uma língua tão simples quanto parece, está cheia de excepções, e sobretudo não é uma língua neutra. O que faz com que no seio da União haja os falantes de primeira (os nativos) e os de segunda (os tais que o têm como "língua pessoal adoptiva"), o que gera alguns desequilíbrios e mesmo conflitos.
O conselho de sábios bem que podia ter sugerido medidas muito mais concretas e revolucionárias, como a adopção de uma nova língua de trabalho na União, criada especialmente para isso mesmo. Uma língua que fosse por um lado muito mais fácil de aprender, sem as irregularidades e confusões do inglês, e que fosse igualmente estranha a todos europeus, entranhando-se assim de forma igualitária. Uma língua franca desse tipo seria o melhor seguro de vida para a diversidade linguística europeia. E nem é preciso inventar nada, o esperanto foi criado para isso. Claro que seria necessária uma reforma ortográfica, que os acentos não estão com nada na era da internet, mas isso sim seria uma sábia resolução. Agora chorinhos francófilos por causa do inglês é que façam-me um favor... *bocejo*
Deixo-vos antes com o sr. Claude Piron que diz uma série de coisas interessantes a este propósito: