quarta-feira, fevereiro 28, 2007

O Acórdão da Relação

«O Tribunal da Relação de Lisboa acabou de proferir o acórdão do recurso interposto pela Teresa e pela Lena do despacho do Conservador do Registo Civil e da sentença do Tribunal Cível de Lisboa que indeferiram o seu processo de casamento.»
Continue a ler no Random Precision. A justiça portuguesa continua a não surpreender, a aplicação da lei continua a não ser uma prioridade... Basta ver as jigajogas retóricas a que são obrigados, quando para decisão oposta bastaria tão simplesmente citar os artigos 13º e 36º da Constituição.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Do you fancy a bum?


A graça e sobretudo o bom gosto destes vídeos é obviamente muito discutível, mas compare-se com um vídeo português de enorme sucesso na internet, o "Machista Gay", e logo nos parecem muito mais engraçados, e também educados e civilizados. Não me parece que as diferentes reacções se devam às diferentes nacionalidades, mas apenas à diferente abordagem. Moral da estória, ser educado (ainda que directo), civilizado e, claro, giro, compensa e tem mais graça.

PS: O cuidado na escolha das cuequinhas também conta...

PPS: Já agora vejam também a "versão japonesa".

Oscar: the gay and green moment


E também o mais cute de todos. Via DR. Notar que a Melissa Etheridge se refere à esposa como "wife" e não "girlfriend", mas na tradução do Destak de hoje isso deu "namorada". Mais uma confusão que seria sanada com a legalização do casamento.

PS: O YouTube anda a apagar os vídeos dos Oscars por "violação de copyright" (e o direito à citação?). Uma versão mais curta ainda disponível encontra-se aqui.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Volkswagen pisca o olho ao L market português

A Rita e a Ana na marginal, a Rita veste uma camisolinha à Lara Croft e a Ana usa gravata, ui, ui! Ainda por cima o carro vem equipado com um GPS portátil "TomTom". Se era para compensar pelo anúncio que levava um selo de uma organização homofóbica, quase o conseguiram, só faltou mesmo um selinho de recomendação do Clube Safo...

PS: Isto vem mesmo a propósito da entrega dos Oscars de ontem, que foi do mais lesbienne que já se viu. Infelizmente ainda não está nada no YouTube, mas podem encontrar aqui um bom resumo dos momentos mais LG da noite (danke P.).

domingo, fevereiro 25, 2007

Podia ter sido aqui

Maria del Cármen Galayo Macias, uma dos 17000 professores contratados e pagos pelo estado a pedido do episcopado espanhol, prestava serviços como professora de religião católica em diversos centros públicos de ensino básico desde 1990 mas, em Outubro de 2000, foi demitida.

O Tribunal Constitucional espanhol considerou, esta quinta-feira, que não pode julgar-se inconstitucional a decisão dos bispos de despedirem uma professora, por esta viver com um homem em união de facto, noticia o jornal El País

E por cá, como é que isto funciona?

«A nova Concordata consagra a existência da disciplina de EMRC, continuando os professores a ser propostos pelos Bispos, nomeados pelo Estado e pagos pela tutela.

Os professores de religião e moral católicas “são nomeados ou contratados, transferidos e excluídos do exercício da docência da disciplina pelo Estado de acordo com a autoridade eclesiástica competente”. (...)

O artigo XIX, no seu ponto 3, vinca que o ensino da religião e moral católicas apenas poderá ser ministrado por quem seja considerado “idóneo” pela autoridade eclesiástica competente e “nos termos previstos pelo direito português e pelo direito canónico”.»

Contribuir com os meus impostos para a imposição de normas católicas na vida privada de trabalhadores pagos pelo estado português? Contribuir com os meus impostos para a promoção do proselitismo católico na escola pública? Assim é. Sobre isto ler ainda os excelentes artigos de opinião publicados no El Pais: «¿Vuelve la Inquisición?» e «¿Catequista o profesor?». Para quando a revogação das concordatas?
«A visada, em declarações reproduzidas ontem pela imprensa espanhola, resumiu como "uma aberração" a análise do tribunal: "Não sou padre nem freira e não tenho voto de castidade", lembrou. "Aos padres pedófilos não os afastam, e eles continuam a dar aulas de religião."»

Jesus pode, tu não

Esto es sólo el principio

sábado, fevereiro 24, 2007

Declarações de Bruxelas

1) Uma declaração europeia contra a violência escolar homofóbica, ou "bullying" como é costume dizer-se. Para ser aprovada pelo Parlamento Europeu é preciso que 393 eurodeputados a assinem. A ILGA Europe convida-te por isso a escrever aos teus eurodeputados.

2) Uma declaração pelos valores europeus de tolerância, abertura e diversidade (em oposição a uma declaração chauvinista e discriminatória, engendrada por Angela Merkel e Joseph Ratzinger) para celebrar da melhor maneira os 50 anos do Tratado de Roma. Esta pode ser assinada directamente por ti.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Sapo vira local

Óptima notícia. O portal de notícias do Sapo acaba de lançar uma série de edições locais, uma por cada concelho do país. Aparentemente tudo funciona de forma automática, como com o Google Notícias, mas usando como fontes não apenas sites noticiosos, mas também blogs, os vídeos e fotos dos utilizadores do Sapo, e ainda algumas funcionalidades como previsão do tempo, mapas ou links úteis. Ainda está em modo beta, mas promete.

A grande fragilidade parece-me ser o automatismo aliado a conteúdos dos utilizadores, exemplo, na página de Braga uma das fotos (no momento em que escrevo estas linhas) é pornográfica, apenas porque foi classificada com a tag "braga", e isto apesar do "sapo-bispo" que serve de logótipo à edição bracarense (só as capitais de distrito têm direito a logo próprio). Arranjar mecanismos que possibilitem que os próprios visitantes decidam o que é publicado, ao estilo web 2.0, seria muito positivo - sobretudo em relação aos conteúdos não-profissionais.

De qualquer modo este é já mais um forte trunfo face ao rival Google Notícias, que continua a ganhar na rapidez de busca e maior diversidade de resultados. Outro trunfo valioso,que já existia, é a banca dos jornais. O Sapo Local é também um mecanismo importante para desenvolver dinâmicas internéticas de carácter concelhio, e logo, um incentivo à internetização do país. Parabéns aos sapos.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Atrás da verde e rosa só não vai quem já morreu

«Minha pátria é minha língua, Mangueira meu grande amor. Meu samba vai ao Lácio e colhe a última flor.»

Contribuir com os meus impostos para financiar propaganda fascista?

Assim é. A Liga das Famílias Polacas tratou do ódio (no caso aos judeus) e o Parlamento Europeu pagou a factura.

Por muito menos a Áustria esteve alguns meses isolada por um cordon sanitaire diplomático em 2000 (presidia Portugal a União), e embora alguns relatórios de então tenham concluído que isolamento era contraproducente, no longo prazo a conclusão deverá ser outra, pois não só o FPÖ perdeu força, como algumas potenciais coligações semelhantes foram inibidas noutros países. A Polónia não estava na UE, não aprendeu a lição. Portugal volta à presidência no próximo semestre.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

"PSD apoia demissão de Alberto João Jardim"

Tanto tempo à espera de uma notícia com este título, e afinal, ou não fosse Carnaval, ela é apenas mais do mesmo. Mas um pouco mais grave que o costume. Que o PSD encolha os ombros perante as palhaçadas de Jardim é uma coisa, que embarque neste novo golpe é outra bem diferente.

Chamem-me ingénuo, mas quero acreditar que é desta que o eleitorado madeirense vai mostrar que a maturidade democrática e o sentido patriótico (ah pois é) são mais fortes que o palhacinho demagogo e populista, cobardemente patrocinado pelo PSD. Acredito que a decência sairá vitoriosa.

Mas também estou pronto para, caso esteja errado, no dia seguinte me juntar ao movimento pela descolonização imediata da ilha. Pois afinal votar Jardim é isso mesmo, votar na tese da colonização. E se o sentimento é esse, tem que ter consequência. Porque a colonização é intolerável em democracia.

domingo, fevereiro 18, 2007

Mais vale uma constituição morta, que um casamento que pode mesmo nascer

«A JS adiantou não ter ainda "definidos calendários quanto à concretização dos restantes compromissos assumidos no passado", mas "mantém o acompanhamento das temáticas da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, do combate ao racismo e xenofobia e à discriminação em função do género".

"No contexto da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia" é "indispensável relançar a discussão em torno da Constituição Europeia e sobre o modelo económico europeu e mobilizar a juventude portuguesa para o debate sobre o futuro da UE", justificaram os jovens socialistas.»

Mais fácil ainda, passar a batata quente para outras mãos:
«Quanto à legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, a JS já apresentou publicamente o seu anteprojecto, em Fevereiro de 2006, faltando-lhe apenas entregá-lo na mesa do Parlamento e promover um debate público sobre o tema.

Após a entrega na mesa do parlamento, o agendamento do diploma da JS depende da vontade da direcção do PS, mas os jovens socialistas contam que isso aconteça, pelo menos, quando o Bloco de Esquerda ou "Os Verdes" decidirem agendar os seus projectos de legalização dos casamentos entre homossexuais.»
Parece-me tudo muito simples, tão simples que dói ter que explicar. A JS comprometeu-se há um ano a entregar o anteprojecto depois do referendo. O referendo passou, a entrega tem que ser agora. É assim simples, é só apagar uma alínea discriminatória da lei. Serve até para mostrar que estas coisas da UE nos interessam mesmo e servem mesmo para alguma coisa, sendo este o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos.

Adiar a resolução simples do problema apenas o complica, não se aprendeu nada com Zapatero para os lados da JS, está visto. Complica porque dá tempo aos opositores de se organizarem, complica porque com as eleições à porta a cabeça dos deputados do PS estará longe da defesa do princípio da igualdade, complica porque a desigualdade persiste, tornando muitas vidas mais complicadas.

Não se pede muito à JS, apenas se exige que cumpra a palavra dada, que não se limite a ser um cordeirinho nas mãos dos velhos do Restelo do partido. Não serviu o referendo para mostrar onde levam esses velhos carneiros e os coices que estão dispostos a dar ao partido? Vão continuar a seguir-lhes as pegadas?

Soapbox com picante


Só para testar o novo "YouTube" da Microsoft. Não me convenceu, acho que enjoei mesmo...

sábado, fevereiro 17, 2007

Discussões só em assuntos que tenham unanimidade

«Em Aveiro, o secretariado da JS vai discutir a oportunidade de reapresentar o projecto do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que não prevê a adopção de crianças por casais homossexuais.

O semanário SOL, no entanto, avança nesta edição que PS, BE e PCP não estão interessados na discussão de temas fracturantes nos próximos tempos.»

Notar que no Sol "temas fracturantes" já nem leva aspas. Eu só não percebo é porque é que raio precisamos de um parlamento, se é só para discutir assuntos em que todos estão de acordo, é uma despesa perfeitamente escusada. Mas se calhar discutir a extinção do parlamento é mais um "tema fracturante", pelo que mais me vale ficar caladinho...

Mealheiro fracturante

«Concorda que sejam postas em circulação no país X milhões de moedas com a efígie do rei de Espanha?»
Este é um daqueles temas que de tão fracturante ninguém ousou discutir. E agora todos transportamos Juan Carlos nos bolsos sem nenhum queixume...

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Dica para o tribunal de Torres Vedras

Isto é um preservativo. Coloca-se assim:

Assumindo que não se usa preservativo, o risco de contágio do HIV, de uma mulher infectada para um homem que a penetre vaginalmente, é de 5 em cada 10.000 penetrações. Estudos recentes indicam que será mais baixo para homens circuncidados. Qualquer homem com uma cabeça em cima dos ombros sabe que deve cobrir a que tem entre as pernas, com um preservativo, antes de ter relações sexuais com uma mulher que não conhece ou que conhecendo, saiba que tem mais parceiros.

Toda a gente tem direito ao sigilo médico. Violar a privacidade de alguém agora, com base apenas em preconceito e desinformação, terá como único efeito fazer com que outras pessoas tenham receios acrescidos em procurar assistência médica ou fazer o teste do HIV. O que a acontecer será um forte contributo para a propagação do vírus no país. Quem vai processar o tribunal?

Mas ainda há quem espere por um aumento das vendas dos jornais?


Pelos vistos há. O Diário de Notícias, já o escrevi aqui, foi o jornal com a mais completa, isenta e abrangente cobertura da campanha para o referendo, batendo de longe a concorrência. Tal como as suas capas, de domingo e segunda-feira, foram as melhores e ficaram para a história da imprensa portuguesa. O problema do DN é não ter um site decente (já o foi, mas os tempos mudaram, web 2.0 e tal).

O futuro dos jornais, como reconhece o editor do The New York Times, provavelmente deixará de passar pelo papel. E isso não tem que ser um drama, desde que se aposte, e bem, na net. Os jornais portugueses ainda não foram sequer capazes de fazer algo tão simples e eficaz como um blog-portal que concentre a opinião publicada em papel e comentários exclusivos para a internet. Aliás, os jornais portugueses (mesmo os exclusivamente on-line) parece que ainda não descobriram o hipertexto, o linkzinho útil integrado no artigo... Com o advento dos gratuitos em papel e a gratuitidade geral da net, não sobra muito espaço para o jornal pago. Era bom que percebessem isso mais cedo que tarde.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

"Democracia" na Nigéria

"Any person who is involved in the registration of gay clubs, societies and organizations, sustenance, procession or meetings, publicity and public show of same sex amorous relationship directly or indirectly in public and in private is guilty of an offence and liable on conviction to a term of five years imprisonment.''
Este excerto é parte de uma proposta de lei que deverá ser aprovada na Nigéria. Como uma lei que infringe os mais básicos direitos humanos dos cidadãos nigerianos pode ser sequer considerada numa "democracia", ultrapassa-me. Mas talvez não seja de espantar, visto que o sexo homossexual já é punido com pena de prisão no sul do país e com a pena de morte no norte. (via Joe.My.God.)

Foreign press is not watching us

Continuo espantado com o relevo que foi dado à abstenção no último referendo pela imprensa estrangeira. Cheguei a ler em jornais brasileiros que o referendo "não era válido" (sic). O que não li em lado nenhum foi, por exemplo, que a abstenção foi inferior à das 3 últimas eleições para o Parlamento Europeu. Será que as cadeiras dos eurodeputados portugueses deviam ficar vazias por isso? Além disso, sem a abstenção técnica o resultado seria provavelmente vinculativo. E seguindo regras de vinculação aplicadas noutros países, como exigir apenas que o lado vencedor tenha o apoio de 25% dos votantes, este referendo teria sido vinculativo. Internamente todos sabíamos que, independentemente da taxa de abstenção, o resultado seria politicamente vinculativo, mas essa mensagem não chegou lá fora. Quem não a deixou passar?

Afinal havia outra...

«La responsable del relevo vespertino de Losantos en la COPE, Cristina Schlichting, explicó desde su habitual columna en La Razón, que el reciente referéndum celebrado en Portugal, a favor del levantamiento de la prohibición del aborto, podría haberse planteado en los siguientes términos, en 1940: “¿Sería usted partidario de la despenalización de la interrupción de la vida de un judío si es realizada por opción de la raza superior, por el bien común, con sedación de ziklón B y en un centro de salud legalmente autorizado?”.»
...interpretação da pergunta do referendo de passado domingo. Não era só Marcelo e o papagaio Mendes a acharem-na mentirosa, traduzida em "espanhol da COPE" (rádio dos bispos espanhóis) dá isto que se vê. Depois de uma curta googlagem já deu para ver que esta Schlichting tem pretensões ao título de "Ann Coulter espanhola", até já escreveu um livro chamado, ó surpresa, "Politicamente Incorrecta". Das duas uma, esta gente do anti-PC ou se extinguirá pelo tédio, ou vencerá pela banalização da estupidez...

O que Esther Mucznick não disse

Esther Mucznick escreveu um manhosíssimo artigo no Público de hoje (o download do PDF é gratuito durante o dia). Manhoso porque pretensamente moderado, quando apenas não é claro no seu radicalismo e intenção. O curioso é que todo o artigo invoca apenas o catolicismo e países de influência cristã, quando este surge, precisamente, dias depois de, por ordem do tribunal, o ministério do interior israelita ter registado o primeiro casal homossexual como sendo um casal casado (tendo o casamento sido celebrado no Canadá). Outros casais israelitas têm processos semelhantes a decorrer em tribunal, sendo previsível que tenham igual desfecho. Estes são passos importantes no caminho para a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo em Israel, país pioneiro em matéria de direitos sexuais no Médio Oriente. Mas pelos vistos, em certas áreas, Esther Mucznick preferia que Israel fosse mais parecido com os seus vizinhos...

"Sim ganha no continente mas perde face ao Não ilhéu"

Que pena ninguém ter feito manchetes destas em 1998. Agora não houve tanto pudor...

Cuidado com os batoteiros

«Porque será que dou por mim a começar a desconfiar em relação ao debate em volta do chamado "período de reflexão"? Porque será que suspeito que os partidários do "Não" procuram agora ganhar na secretaria aquilo que não ganharam pelo voto?

Quem fará este aconselhamento? O aconselhamento terá como fito certificar que a mulher que quer abortar o faz voluntaria e conscientemente? Ou será uma forma de lhe dificultar o acesso à interrupção da sua gravidez? Caso seja a primeira opção nada a dizer. Caso tenhamos médicos, ou outros técnicos de saúde a utilizarem estas consultas como forma de procurarem condicionar a vontade da mulher então tudo mal.»
E convenhamos que quem passou a campanha a dizer que o Sim era sinónimo de "aborto livre" ou "liberalização total", ficou agora sem legitimidade para exigir o que quer que seja... E quanto ao sr. presidente, se não curte "feridas na sociedade", o melhor a fazer é não criar qualquer tipo de obstáculo às decisões dessa mesma sociedade. De outro modo depois verá o que são feridas a sério...

Parem, parem, está bem como está!!!

The new citizen card

Já li várias críticas a este novo cartão, receios por concentrar tanta informação num só bocado de plástico, medo de um "estado big brother"... A mim calha-me, o bilhete de identidade é demasiado grande para o comum das carteiras, e ainda por cima substitui também o cartão de contribuinte (demasiado frágil), o de eleitor (que não anda na carteira pelo pouco uso e depois é um martírio para o achar) e o da saúde. O que acho curioso é ainda ninguém ter criticado o facto do inglês ser usado exactamente ao mesmo nível que o português, no dito cartão.

Todos os dizeres em português encontram-se também em inglês, e no mesmo tamanho. Apenas a ordem e o não-itálico poderão dar algum destaque à língua portuguesa. Já o nome do cidadão é apresentado à inglesa. E entretanto o francês, presente no BI, foi à vida. O "República Portuguesa" mantém-se, mas perde destaque para o bilingue "Portugal". É precisamente nesse ponto que no cartão estoniano é preservada a valorização simbólica da língua nacional. Já o espanhol se limita, aparentemente, ao espanhol - e catalão, basco ou galego parecem valer tanto quanto o mirandês por cá.

Mas não me estou a queixar da presença da língua franca no dito cartão, só acho estranho que ninguém o faça... Curiosamente o cartão europeu de seguro de doença, para usar exclusivamente fora de Portugal, é exclusivamente em português (naturalmente os emitidos noutros estados, e que podem ser usados por cá, são nas respectivas línguas nacionais).

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Nunca vi gente com tão mau perder como depois do último referendo

Andam desorientados, alucinados, em negação, desesperados, trágicos, tristes... Ainda por cima, dias depois, Salazar é eleito o pior português de sempre. O que vale é que não há mal que sempre dure, tudo tem solução: chegou a Portugal a primeira empresa de suicídio por encomenda [via DN]. 50% de desconto para quem levar um amigo, grátis se pertencer à Opus Dei.

Contributo para os Valentine's kisses do Público


Bem sei que beijinhos entre cachorrinhos ou entre mulheres e mutantes humano-aranha são merecedores de atenção por parte do Público, tão desprezados são por outros órgãos de informação. Mas não dava para meter, discretamente no meio da listinha, uma beijoquita entre humanos do mesmo sexo? Um chochito apenas, como este da Elsa Raposo e Sofia Aparício ou um já clássico como este do "Brokeback Mountain"? Fica aí uma colecção para poderem escolher à vontade, obrigado.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Quais valores? Qual vida? Isto afinal era a feijões...

«E pronto! Lá temos de voltar à vida real. (...) Como bons portugueses, adoramos estas discussões ociosas, que nada têm a ver com a vida autêntica, os problemas resolúveis, o que podemos fazer. Não passam de abstracções inatingíveis, conceptualizações insolúveis, pormenores transcendentes. Mas parecem sempre basilares, decisivos, candentes. Fingem mesmo ser essenciais.»
Acreditem ou não, quem escreveu esta bonita prosa foi, nada mais nada menos do que, João César das Neves. E eu que estava capaz de apostar que a Mafalda que escreveu «Venceu a cultura da morte! 11 de Setembro, 11 de Março, 11 de Fevereiro. Datas manchadas pela morte!» não passava de um pseudónimo do sr. das Neves... Não, afinal ele nem liga muito a estas cenas, 'tás a ver?

domingo, fevereiro 11, 2007

Keep it simple

Aborreceu-me a pressa com que vários comentadores tentaram fazer análises político-partidárias.

Irritou-me a pressa dos jornalistas em querer saber os pormenores da aplicação da lei que, e era suposto saberem-no, ainda nem sequer está escrita ou discutida, que fará aprovada.

Enfureceu-me a tentativa de desvalorização dos resultados por parte do Não, os mesmos que em 98 (com uma abstenção muito maior e um resultado muito menos claro) convenceram o PS de que não havia qualquer legitimidade em mudar a lei, quando legalmente tal era perfeitamente possível. Note-se ainda que sem a "abstenção técnica" (devida a falhas na actualização dos cadernos eleitorais) o referendo de hoje teria sido provavelmente vinculativo.

Deixou-me sem palavras o post do blogue do não que diz: «Venceu a cultura da morte! 11 de Setembro, 11 de Março, 11 de Fevereiro. Datas manchadas pela morte!»

Mas muito mais importante que tudo isto, fiquei feliz por ver que a maioria dos votantes se limitou a ler uma pergunta simples e a respondê-la sem rodeios, sem falsos puritanismos, com bom senso, responsabilidade e sim, modernidade. Feliz, muito feliz. E como eu, muitas e muitos, e só por isso Portugal é já hoje um país melhor do que era ontem. Parabéns a nós!

SIM!

59,25% :)

O que é que estas aí a fazer? Vai votar!

1) Grande capa a do Diário de Notícias de hoje. Sem dúvida o órgão de comunicação que fez a melhor cobertura de toda a campanha.

2) Tudo péssimo na RTP, aquilo é a televisão pública ou a TV Opus Dei? Missa pela manhã, desinformação ao almoço ("referendo ao aborto")...

3) Chove continuamente a Norte, creio que no Sul o tempo vai melhor. Mas isso não justifica 11,57% de afluência às urnas até ao meio-dia! Vai votar, diz aos teus amigos para irem votar, SMSs de incentivo ao acto de votar, sem indicação do sentido de voto, são legais e recomendáveis. Mesmo que não tenhas posição, vai e vota nulo, a bem dos referendos!

4) Visto na TV, políticos em campanha junto a mesas de voto: Ribeiro e Castro e João Jardim - nojento apenas.

5) Já esqueceram 1998? As sondagens davam vitórias formidáveis ao lado que acabou por perder. As sondagens não valem nada, só o teu voto no boletim conta. Se nunca votaste e não sabes o procedimento, lê isto, é simples. SE PERDESTE O BILHETE DE IDENTIDADE E/OU O CARTÃO DE ELEITOR PODES VOTAR NA MESMA, SÓ PRECISAS DE UM DOCUMENTO ALTERNATIVO, CARTA DE CONDUÇÃO, PASSAPORTE, ETC...

6) Chegam-me relatos de "aparições" de crucifixos por todo o lado. É ILEGAL, faz queixa à CNE se isso aconteceu na tua mesa de voto. É duplamente ilegal se a mesma se encontra numa escola pública, nesse caso faz também queixa ao ministério da educação.

7) Por ora é tudo, que está na minha vez de ir votar.

A chuva não é desculpa

Mulheres votando em Nova Iorque em 1917, 3 anos antes da 19th Amendment.

Os resultados oficiais, incluindo níveis de votação ao longo do dia, serão divulgados em referendo.mj.pt.

O caminho para a felicidade


Os inquéritos permitem concluir, explica a investigadora Anália Torres, que os países com mais baixo nível de modernidade nos valores de género na família são aqueles em que se verifica um maior stress doméstico. O inverso também se aplica, neste caso, com os países nórdicos a liderar a tabela.»
[via]

Your Excellency Hoppy, Bissau te aguarda


Esta estória é deliciosa. Então não é que Whoopi Goldberg descende de guineenses? O governo local não coube em si de contente e tratou logo de enviar um convite à estrela norte-americana, a pressa foi tanta que o entregaram em mãos à embaixada americana, que tratou de o enviar para Washington. Começava assim: «Your Excellency Hoppy Goldberg, it is with great euphoria that the government of Guinea-Bissau . . . learned of your ancestral origins . . . The news has awoken in each and every one of us a deep sense of fraternity . . . We simply cannot remain indifferent to the news of your Guinean heritage.».

A "hope" mantém-se entre as elites guineenses, muito embora o RP da actriz já tenha anunciado que Whoopi não gosta de andar de avião e o programa diário que tem na rádio impede qualquer viagem. Já o povo da Guiné-Bissau está a Leste de quem seja tão ilustre prima, muito embora lhe reconheçam traços físicos comuns à etnia Papel. Seja como for, seria recebida de braços abertos. E que bom que era que alguém com um discurso tão fresco como Whoopi fosse fazer estragos a alguns tabus guineenses...

sábado, fevereiro 10, 2007

Censura na Antena 1

«A edição de ontem do programa de rádio "O amor é ...", da autoria de Júlio Machado Vaz e Ana Mesquita, não foi para o ar. Segundo a RDP a emissão comprometia a isenção da estação, argumento contestado pelos autores.» [via]
Como? A Antena 1 faz parte do grupo RTP - Rádio e Televisão de Portugal. Um grupo estatal, ou seja, pago com os impostos de todos. Ao longo da campanha este grupo passou, nos seus vários canais, programas de autor ou religiosos que fizeram apelos directos e constantes a um certo sentido de voto (programa de Marcelo Rebelo de Sousa, o programa diário da igreja católica na RTP2 ou o programa da aliança evangélica no mesmo canal). Só censuraram Júlio Machado Vaz porquê? Receberam queixas? Inundemos então a caixa de correio do provedor do ouvinte.

A nossa Amesterdão

Já tinha os canais e as bicicletas, só faltava mesmo uma loja de drogas leves. Já há. Aveiro está com tudo.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

If you could eradicate misogyny, homophobia would evaporate

É também por isto que no domingo o nosso voto só pode ser Sim. Ainda tens algumas horas para convencer todos os que te rodeiam, que não falte ninguém no domingo.

Público à la Guardian

O anunciado novo design do Público parece-me giro, ou não se parecesse imenso com o do The Guardian (uma pena ficar-se pelo design a semelhança). O que não se percebe são os atalhos manhosíssimos, necessários para fazer o download do Nº zero... O Público não tem capacidade para oferecer este download, mas aloja o vídeo do anúncio no seu site? Não era mais elegante ter o ficheiro PDF no site e poupar espaço com o vídeo usando o YouTube?

Reflexão Sick

Desde que a SIC se transformou no Canal Floribella que praticamente a deixei de ver. Mas várias pessoas me têm assegurado que a parcialidade deste canal em relação ao referendo é em tudo comparável à da RTP, até as novelas brasileiras são transmitidas com o timming certo para favorecer o Não. Agora soube que amanhã, dia de reflexão, a SIC vai transmitir uma reportagem com o sugestivo título "O bebé milagre". No comments.

Os 25.000 Euros de Matilde Sousa Franco

Um dos argumentos que o Não tem usado nesta campanha é o de que o aborto clandestino não se combate com aconselhamento médico, mas com punição penal e apoio à maternidade (dando só ênfase ao segundo ponto, claro). O "trunfo" que usam costuma ser o das associações de solidariedade privadas que gerem, e que vivem dependentes de subsídios do estado. Escusado será dizer que as grávidas que procuram ajuda nestas instituições são mulheres que já decidiram levar avante a sua gravidez. E que o estado devia ajudar todas as grávidas directamente, e não subsidiando associações políticas de carácter privado, a solidariedade privada deve ser isso mesmo, privada, subsidiada portanto com fundos privados.

Mas estas desonestas subtilezas do discurso do Não atingiram um novo baixo de honestidade com o depoimento de ontem de Matilde Sousa Franco, no tempo de antena da Não Obrigada. Matilde contrapunha à nossa despenalização do aborto o subsídio criado pelo governo alemão, de 25.000€, para as mulheres grávidas, em Janeiro último. "Moderno é votar Não" assegurava. Como se de um voto Não dependesse a criação de subsídio idêntico em Portugal. Esquecendo que a Alemanha tem a lei do aborto que se quer para Portugal, votando Sim. Esquecendo que o Não venceu em 1998 e nem por isso o apoio à maternidade aumentou, mesmo havendo pelo meio dois Primeiros Ministros de direita...

Mulheres grávidas de Portugal, se o Não ganhar não hesitem, vão bater à porta da seu dona Matilde e exijam o dinheiro que vos prometeu.

Errata: Afinal o subsídio do governo alemão não é às grávidas, mas às novas mães. Não se entende por isso o elogio de Matilde, pois para o governo alemão um feto não é merecedor do subsídio, só um recém-nascido o é.

A mulher dos 7 abortos

Não sei que tipo de credibilidade se pode dar ao depoimento, visto num dos tempos de antena da Plataforma Não Obrigada, de uma mulher que dizia ter feito 7 abortos quando era jovem, que se arrepende muito e que por isso vota Não. A senhora é claramente pouco bafejada pela inteligência, só pode sê-lo para ter feito tantos abortos num tão curto espaço de tempo. Mas o mais extraordinário é ver alguém que afirma ter feito todos esses traumáticos abortos durante a vigência da actual lei, a lei que afinal defende votando Não. Uma pena que a defesa não vá até às últimas consequências, entregando-se numa esquadra, como conviria.

Será ela a musa inspiradora dos discursos do Não, que descrevem a mulher portuguesa como uma abortista compulsiva?

Concorda que o aborto deixe de ser um assunto de justiça criminal e passe a ser tratado como um assunto de saúde?*

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

ALERTA: "Não" está a divulgar apelos por e-mail para que façam campanha por SMS no Domingo

Os movimentos do Não estão a espalhar e-mails a apelar às pessoas para que façam campanha pelo Não, via SMS, no próximo domingo, o que constituiria uma violação flagrante da lei eleitoral.
«Foi nos pedido que no Domingo gastassemos o saldo do telemóvel a mandar mensagens para toda a lista telefónica a lembrar a mecessidade de ir votar... "NÃO". Espalhem essa mensagem e lembrem-se que foi assim que o Zapatero ganhou as eleições em Espanha.»
Lê-se num dos e-mails, assinado pelo departamento de relações públicas do movimento "Minho com vida". Mais um, dos muitos, golpes sujos que o Não tem feito ao longo desta campanha...

PS: É óbvio que qualquer um de nós é livre de falar com amigos sobre o referendo quando bem entender. Lembrar que é dia de votar, é até uma obrigação de todos os que acreditam na validade do instituto do referendo (mesmo que não concordando com este especificamente), e a SMS é certamente o mais eficaz lembrete. O que choca neste caso é a premeditação conspirativa e o apelo descarado a um certo sentido de voto, e pior, associar o nome de Zapatero a este tipo de práticas. Há gente com um sentido muito deturpado sobre o que seja a democracia...

Quando só se tem a Kátia

O roubo é a única alternativa, a bem da vida dos tímpanos, claro. Tudo pela vidinha.

Actualização: também a Plataforma Não Obrigada usou sem consentimento uma música dos Madredeus, adianta a edição em papel do JN de hoje, e a Teresa Salgueiro não gostou mesmo nada.

UE ou CPLP?

Os rappers que comentei aqui em baixo são angolanos. Vejamos como está a situação em Angola:

«Em Angola, dez por cento das mortes maternais têm origem no aborto clandestino e a pena de prisão pode ir até aos oito anos. A polícia tem até piquetes nos hospitais para interrogar as mulheres que chegam com complicações pós-aborto.»
Também do Brasil chegam novos apelos ao Não, via telenovelas.
«Pesquisas indicam que todos os anos ocorrem no Brasil entre 750 mil a 1 milhão de abortos clandestinos, cujas complicações constituem a quarta causa de morte materna no país. Segundo dados oficiais, cerca de 250 mil mulheres são internadas por ano em hospitais da rede pública de saúde para fazerem raspagem do útero após aborto inseguro, a maioria é jovem e pobre.

O Código Penal do Brasil, de 1940, considera o procedimento crime, excepto em duas situações: gravidez resultante de violação e risco de vida da mãe. Uma terceira possibilidade diz respeito ao aborto terapêutico para casos de anomalias fetais incompatíveis com a vida, isto é, quando o feto apresenta má-formação severa ou acefalia.»

No próximo domingo temos duas hipóteses, continuar com o modelo usado na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), ou passarmos a usar o modelo mais usado na União Europeia (UE), podendo transformar Portugal num exemplo positivo para a restante CPLP. Seja como for, orgulhosamente sós não estaremos... e quanto a pioneirismo, só mesmo ao nível da CPLP e se votarmos Sim.

No país da iliteracia 2

«O líder do PSD, Luís Marques Mendes, considerou hoje "radical" e "extremista" a posição do primeiro-ministro, José Sócrates, de recusar alterar a lei sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez caso o "não" vença no referendo do próximo domingo.»
Imaginem o disparate que era se em caso de vitória do Não à despenalização, não se despenalizasse. Imaginem o que era respeitar essa possível vontade do eleitorado. Até pareceria que estamos num estado de direito. Marques Mendes é bastante lúcido, é uma república das bananas e devemos orgulhar-mo-nos disso. Se a actual lei mal se cumpre, porque raio havíamos de respeitar os resultados de domingo, sejam eles quais forem?

PS: Ainda há gente com tino no PSD.

No país da iliteracia

Se o ridículo pagasse imposto

Não sofrendo de miopia, qualquer pessoa distingue os dois símbolos a léguas. Não fosse o daltonismo agudo que floresce para os lados do Caldas, o CDS perceberia também que as cores do logótipo são as mesmas do seu próprio partido. E se a memória não fosse tão curta, perceberiam que o logotipo do STAPE é exactamente igual ao já usado no referendo à regionalização em 1998, na altura sem qualquer queixinha destes senhores. Mas a hora é de desconversar, baralhar, fazer histerias a troco de nada, para silenciar os reais atropelos à lei eleitoral.

Um Sim de onde menos se esperaria

«Manuel Costa Pinto, padre de Viseu, disse hoje que votará "sim" no referendo do próximo domingo, porque entende que deve acabar a humilhação das mulheres em tribunal e o "verdadeiro infanticídio" a que obriga a lei actual. (...)

"Mulheres com medo, que não têm dinheiro para ir para o aborto clandestino e muito menos para o estrangeiro, disfarçam a gravidez até ao parto. Vão para uma casa de banho, sai uma criança, aí sim, já uma criança, metem-na num saco e deitam-na ao caixote do lixo, ao esgoto ou até no campo", disse também aquele padre de Viseu.»
Já tinha feito uma referência indirecta a este fenómeno, uma simples busca por "recém nascido" no Google News revela um mar de tragédias deste tipo, aqui e no Brasil. Creio que não há números oficiais, mas são sem dúvida altos só a avaliar pela imprensa. O assunto é "tabu" e muito complexo, pelo que é natural que o Sim se escuse a usa-lo como argumento. Mas é também mais um motivo para valorizar a franqueza deste padre.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Tem a palavra Júlio Machado Vaz


Produções Murcon, via Sim no referendo. Um absoluto mr., como de costume.

Flash mob pelo Sim no Chiado


Reconheci pelo menos um amigo blogger ;) A ideia partiu do Colectivo Feminista, este vídeo é do Portugal Diário, notícia aqui. E o Porto fica-se? Se não há dinheiro, haja imaginação e espontaneidade, que a seriedade sempre foi nossa. Sobre esta coisa das flash mobs, ou multidões instantâneas, ler a Wikipédia.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

O que importa reter de tudo o que se tem dito


Daniel Oliveira no seu melhor, pondo os pontos nos iis. Ao contrário do que a careta mentirosa de Laurinda Alves possa querer dizer, o boletim de voto só tem duas opções (não é assim). Este vídeo também é ilustrativo da patética parcialidade de Fátima Campos Ferreira, a "professora primária da televisão pública" (sem querer ofender as professoras primárias). Entretanto Marques Mendes ainda não percebeu o óbvio e chama radical a Sócrates, por este querer cumprir a lei dos referendos e respeitar a vontade popular, seja ela qual for. Mas esta gente sabe sequer ler?

Farto de bebés despedaçados no teu e-mail?

Eu também. Repugna-me que se despedacem bebés, um dos motivos pelos quais voto Sim, aliás. Sou contra o aborto tardio, contra o infanticídio pós-parto. Contra o abuso do aborto cirúrgico que a clandestinidade, ou a legalidade à espanhola, promovem, quando o aborto químico é preferível a vários níveis. Em resumo, acho que o aborto se tem que acontecer deve acontecer o mais cedo possível, quando é desonesto falar-se em bebé, da forma mais segura possível, e o menos invasiva possível para a mulher.

É isto que explico a quem me manda e-mails de recém-nascidos despedaçados, como argumento para se oporem à despenalização do aborto até às 10 semanas, com consentimento da mulher, em estabelecimento de saúde autorizado. Explico isso, e depois mostro-lhes este vídeo, que ilustra a realidade dos nossos dias, a realidade que o Não consente e promove. Quem não quiser ver este vídeo que pare de me mandar imagens sobre o que não está em causa neste referendo, obrigado.

Coisas que o Não possibilita

"Há mulheres que abortam por negócio, para venderem as matérias fetais!" Agora alguém me explique como é que este "negócio" que "há" agora, hoje, em plena era-Não, pode ser usado como argumento contra a despenalização da IVG até às 10 semanas em estabelecimento de saúde autorizado? Não quero pôr em causa a afirmação do dr. Castro Caldas, de modo algum, apenas lhe pergunto, essas mulheres, certamente que muitas (já deu para perceber ao longo desta campanha que para as mulheres portuguesas o verdadeiro orgasmo está no acto de abortar), alguma vez iriam abortar às 10 semanas (quando as "matérias fetais" são meras 10g) e num estabelecimento autorizado, onde qualquer venda de órgãos ou tecidos é estritamente proibida? Diga à PJ o que sabe dr. Caldas, diga à PJ! Não seja cúmplice pelo silêncio!

PS: Vídeo aqui.

Generosidade condicionada

Das muitas desonestidades de que o Não faz bandeira, uma das mais intrigantes é o seu suposto apoio a mulheres grávidas, que supostamente evita muitos abortos. Serei só eu a achar que uma mulher que esteja a pensar abortar não irá nunca aconselhar-se junto de uma associação que a quer criminalizar por isso? E que raio de generosidade é essa que vive à conta de subsídios do estado, e não perde uma oportunidade para reivindicar mais? Ajudar com o dinheiro de todos é fácil. E supondo que sim, que mulheres hesitantes em abortar ou não, batem à porta destas generosas instituições, mas decidem ainda assim abortar, que fazem elas? Pagam um aborto seguro em Espanha? Ou denunciam-nas à polícia?

Às Kátias e Cristas orgulhosamente sós

Dizia ontem, nos Prós & Contras, Assunção Cristas (a miúda do Não que sorria sempre que se sabia filmada): "temos que ser pioneiros nalguma coisa". Já Kátia Guerreiro, fadista que importou o "K" não se sabe bem de onde, dizia no mesmo programa uma semana antes: "Portugal não tem que seguir a Europa em tudo, podemos trilhar o nosso próprio caminho". Pioneirismo e originalidade portanto. Nada, porém, mais longe da realidade global. Portugal está acompanhado, fortemente acompanhado, pela América Latina, África e Médio Oriente. E não há pioneirismo em fazer o que todos já fizeram, e entretanto os mais desenvolvidos deixaram de fazer. Por cá, como no Panamá, impera o atraso apenas.
«Um grupo de católicos convocados pela Igreja Católica e membros da Aliança panamiana pela Vida manifestou-se ontem, com palavras de ordem e cartazes, em frente da Assembleia Nacional para exigir a eliminação de toda e qualquer excepção para a prática de abortos no Panamá, tanto do código vigente como da proposta de reformas. (...)

O Código Penal panamiano sanciona o aborto cirúrgico com penas que vão de um a dez anos de prisão, que só não se aplicam em caso de interrupção consentida quando está em causa uma violação, ou por correr perigo a vida da mãe ou do feto.»

E não dá para atira-la aos leões?

«Na Roma Antiga havia.» Fátima Campos Ferreira, defensora do Não à despenalização do aborto até às 10 semanas, esta noite ao interromper Vera Jardim, quando este garantia que nenhum código penal europeu previa um crime sem pena. Tudo isto no Prós & Contras especial, inventado às três pancadas para promover a nova e falsa teoria de que votar Não é votar numa despenalização alternativa.

Para quem não se lembra, em 1998 a pergunta a referendo era a mesma, ganhou o Não, nada mudou, mulheres morreram, mulheres foram julgadas e condenadas, Portugal não seguiu a trela da Europa, continuamos na trela do Irão, da Nicarágua ou da Nigéria. Já repararam aliás como o Não tão orgulhoso na pátria, vê afinal os portugueses, e especialmente as portuguesas, como incapazes e inferiores aos restantes europeus? As leis que funcionam na Escandinávia nunca funcionariam aqui, aqui as mulheres fariam fila nos hospitais para abortar na segunda-feira se o Sim ganhasse no domingo. É a isto que se resume o discurso do Não.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Sim no referendo

Este é provavelmente o melhor blog de campanha eleitoral feito até hoje no país, e já houve várias campanhas desde que há blogs. Ainda não lhe tinha dedicado um post em especial, fica agora feita a homenagem, já que era impossível colocar ali na caixinha dos "posts a não perder" todos os que merecem destaque sem ofuscar posts de outras fontes. Parabéns aos escribas e força para o resto da semana.

PS: Roubei ao Creolina na Alma o banner que está na barra lateral.

domingo, fevereiro 04, 2007

Grandes Mentirosos

1) A Plataforma Não Obrigada tem dito diariamente que não quer a partidarização da campanha. Por mim tudo bem, mesmo que façam caminhadas com o CDS na primeira fila e o PNR na última. Mas usarem o tempo de antena do PPM já é abusar.

2) A posição oficial do PSD é de neutralidade. Estranha posição quando se vê o seu líder diariamente em campanha pelo Não. Mas pior ainda são os tempos de antena, onde participam, nem mais, os mais radicais defensores do Não, com um discurso que não é sequer compatível com a actual lei.

3) Marques Mendes assumiu um compromisso que não pode cumprir. Se o Não ganhar despenaliza a IVG. Alguém explique a este mentiroso compulsivo (ou será apenas tonto?) que o referendo não é nenhuma eleição, que tem uma pergunta muito concreta e clara e que cabe ao parlamento já eleito (onde o PSD é minoritário) legislar em conformidade com a resposta dada pelos eleitores. Sim ou não à despenalização do aborto a pedido da mulher até às 10 semanas.

4) Apesar da gritante parcialidade de Fátima Campos Ferreira, o Sim esmagou o Não em todos os sentidos no passado Prós & Contras. Razão pela qual o programa vai repetir o tema esta noite. Óptima oportunidade para o Sim desmontar as novas mentiras do Não entretanto acumuladas. Força!

sábado, fevereiro 03, 2007

Um grande passo para Israel

Esta semana. E um marca passo para Portugal.

Pessimismo serenado

O claro, lúcido e sereno João César das Neves, escreveu um livro bem fundamentado e esclarecido, contra o extremismo e a intolerância. Como não podia deixar de ser, no meio de tanta sensibilidade e bom senso, o mesmo será apresentado por Marcelo Rebelo de Sousa. Faz todo o sentido, para o primeiro o aborto é comparável ao homicídio, e para o segundo a despenalização do aborto não devia ter limite de semanas, só não devia ser a mulher a optar e muito menos em estabelecimento legalmente autorizado. Confusos? É suposto estarem, é essa a ideia. E é por estas e por outras que posts como este não me desanimam, pelo contrário, dormirei agora melhor se sonhar com 50,3%.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Y viva la Iespiánhia!

Na discussão da despenalização do aborto Espanha vem sempre à baila. Está mesmo ao lado, fica à mão por assim dizer, e dá jeito a muita gente. Dá desde logo jeito a quem quer (e pode) abortar com segurança (médica e legal), mesmo as senhoras do Não podem ir a Badajoz ou a Vigo sem grande confusão. E dá jeito para muitas comparações, que só costumam dar jeito ao Não.

1) "A lei é igual à nossa", asseguram-nos. Não é bem assim, mas não anda muito longe. 2) Ao mesmo tempo generalizam as subidas dos números de abortos em Espanha a toda a Europa, e garantem que é o que vai acontecer por cá. 3) Asseguram ainda que votar Sim é abrir as portas às clínicas espanholas.

1) A lei é semelhante, mas em Espanha não se fazem julgamentos. O que se faz é que nas clínicas os pareceres médicos necessários são meros passos burocráticos automatizados. No fundo é chegar, abortar e pagar. A grande maioria dos abortos são feitos em clínicas privadas.

2) O Estado espanhol desresponsabilizou-se portanto da situação, está tudo nas mãos dos privados, a quem a redução do número de abortos não interessa. É claro que o aumento do número bruto se deve em grande medida ao aumento da população, sobretudo da imigrante. Mas não há reais esforços para reduzir o número de abortos. Planeamento familiar e aconselhamento, lá como cá, vai-se indo...

3) As clínicas espanholas vão instalar-se quer vença o Sim ou o Não, e por certo que o resultado ideal para as mesmas é uma repetição do resultado de 98. Uma fraca vitória do Não, com toda a gente a dizer que é contra a penalização, dificilmente conduzirá a um grande aumento do policiamento zelota do cumprimento da lei. As clínicas poderão fazer em Portugal o que fazem em Espanha, abortos seguros, mas pagos. E o estado poderá continuar a demitir-se da educação sexual, do planeamento familiar, enfim, da saúde reprodutiva dos cidadãos. Abrindo então espaço a uma taxa de abortos muito superior à holandesa, a mais baixa do mundo.

4) Na hipótese remota de o Não ter uma vitória sólida (vinculativa) o caso seria necessariamente diferente. Mais policiamento, mais julgamentos, e provavelmente algumas prisões efectivas, que alguns juízes anseiam por aplicar. Só lhes falta o clima político certo. É o voto que o vai determinar.

O renas virou um vlog


Está quase post sim, post sim, com vídeo. Que fazer? É a irresistível força das imagens em movimento. No Sim no referendo encontram-se alguns dos tempos de antena e outros serão adicionados assim que disponíveis. Eu também criei uma playlist no YouTube com vídeos pelo Sim ou sobre o Sim. Está a faltar o vídeo de Sócrates, para já só no Sapo. E de tudo que vi é precisamente este aqui em cima o que mais gosto, não sei se será o mais eficaz, mas é sem dúvida o mais real e honesto. Parabéns a quem o fez, está mesmo excelente. Comoveu-me, a sério, o que é difícil por estes dias de guerra aberta. Enfim, escolham os que mais gostam e mostrem aos vossos amigos, e-mailar o mais possível. Já só faltam 9 dias.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Nada como uma ecografia aos 9 meses, como prova de imparcialidade


Campanha publicitária ao novo grafismo do jornal Público, a fazer lembrar uma outra à cerveja Imperial (não pela ecografia, mas pelos "vivas", também eles imparcialíssimos se o assunto é aborto). Via Ponto Media.